[Crítica] No primeiro fim de semana do FIMP, a peça "Jardineiro Imaginário" transportou o público do festival para uma jornada introspetiva, no palco do Teatro Rivoli.
No domingo (13), às 17h00, o Auditório Isabel Alves Costa, no Rivoli, foi palco de uma jornada surrealista na companhia das Marionetas do Porto. A reposição de “Jardineiro Imaginário” convidou o público a explorar um universo onde as relações humanas são desvendadas através de metáforas e imagens poéticas.
Com a sala cheia, as luzes apagaram-se. Ainda na escuridão as vibrações sonoras deram início ao espetáculo e logo a voz de Micaela Soares e Vítor Gomes começaram a contar a história do senhor Severino, “um crescido que se apaixonou pela jardinagem” e que foi obrigado a olhar “olhos nos olhos” as flores e as pedras. Com ele, os espectadores são instigados a refletir sobre a sua relação com o mundo, a realidade que os rodeia e consigo próprios.
O “Jardineiro Imaginário”, criação de 2022 das Marionetas do Porto, é uma experiência cénica que convida o público a fazer uma viagem interior. A peça, que celebra a imaginação e a experimentação, transporta os espectadores para um universo de sonhos, onde as fronteiras entre realidade e fantasia não existem.
A partir de uma viagem de luz e de sombra, de marionetas, objetos, música e palavra, a encenadora Isabel Barros constrói um espaço subjetivo, onde as imagens surgem de forma fluida. Com influência da poesia surrealista, em particular do universo literário e de alguns poemas da antologia “Sonhador Definitivo e Perpétua Insónia”, traduzidos por Regina Guimarães, fica evidente a construção de um mundo poético e onírico, repleto de metáforas e associações.
O surrealismo é uma jornada pelas profundezas do inconsciente, onde sonhos, loucura e fantasia se entrelaçam. Os artistas surrealistas buscavam expressar o irreal, o absurdo e o subjetivo, desafiando as normas da lógica e da razão.
Por volta de 1924, as teorias de Freud desfrutavam de enorme popularidade, evidenciando a importância de compreender o inconsciente por meio da interpretação dos sonhos. Essas ideias influenciaram o francês André Breton – autor de uma frase citada na sinopse da peça: “Cara imaginação, aquilo de que mais gosto de ti é que não perdoas” – a lançar o manifesto surrealista, movimento que propunha uma nova visão artística, que misturava a psicanálise freudiana e rompia com a ordem dentro da arte.
Uma prática recorrente era a escrita automática, um método que consistia em registar os pensamentos que surgiam espontaneamente durante o sono, sem qualquer censura ou planeamento prévio.
Neste “Jardineiro Imaginário”, há, segundo Isabel Barros, “um regresso a esse continente da imaginação” ou ainda um “teatro interior e íntimo, persistente e sem fim” através do qual o espectador foi convidado a explorar os mistérios do inconsciente.
Editado por Filipa Silva