Óscar Loureiro começou a praticar atletismo aos 40 anos e, atualmente, com 84, continua a correr diariamente. Nesta entrevista ao JPN, recorda o seu percurso no atletismo, a forma como conciliou o desporto com a mecânica e revela como continua a manter-se ativo nesta fase da sua vida.
São quase 10h00 quando chegamos à oficina do Senhor Óscar, nome pelo qual é conhecido na zona do Bonfim, no Porto. A oficina, localizada na Rua de São Vítor, abriga um carro estacionado no interior, dando a impressão de ser apenas um espaço dedicado à reparação automóvel. No entanto, o cenário engana: o lugar está repleto de troféus e medalhas penduradas nas paredes, revelando um outro lado da vida do entrevistado: o atletismo.
Óscar Loureiro, de 84 anos, é conhecido na zona do Bonfim como “o senhor que corre“. Hoje, ele corre porque, segundo diz, se não o fizer sente-se “aborrecido”. No entanto, há 44 anos, foi o convite de um amigo que o levou a dedicar-se à modalidade, marcando o início de uma paixão que o acompanha até hoje.
“Eu jogava à bola no [Sporting] Clube de São Vitor e depois, aos 40 anos, dediquei-me ao atletismo puxado por um amigo meu”, relembra.
A adaptação não foi fácil. “Ao princípio, não gostava muito, porque era muito complicado, os treinos eram diários”, explica. Contudo, Óscar Loureiro recorda o momento em que começou a sentir-se motivado: “Comecei a ir aos treinos e, naquele tempo, nós ganhávamos uma medalhinha, mas só davam até ao quarto, quinto lugar. Eu não desanimei, continuei a treinar e comecei a ganhar gosto.”
Com o passar dos anos, o esforço diário compensou. “Cheguei a um ponto em que já era muito conhecido, porque era um ganhador”, afirma, referindo-se aos tempos em que treinava com tanto empenho que se levantava às seis da manhã para correr antes do trabalho. “Depois ia trabalhar porque à noite não tinha hora de saída, mas quando conseguia sair mais cedo, voltava a treinar.”
Óscar Loureiro foi “sempre mecânico”, mesmo quando foi para a tropa, em Angola, durante “30 meses”, mas, neste momento, faz apenas “pequeninas coisas porque a força já não é tanta”, admite.
Cheguei a um ponto em que já era muito conhecido porque era um ganhador.
Já participou em maratonas por todo o país, desde “Lisboa, Póvoa de Varzim, Vales de Vimioso” e foi na Nazaré que conquistou o seu recorde de meia-maratona, aos 50 anos, ao fazer os 21 quilómetros em 1 hora, 12 minutos, e 58 segundos – “uma:12:58”, diz, com orgulho. Correu ainda em Espanha, em Santiago de Compostela, onde tem “lá muitos primeiros [prémios]”, completa com entusiamo.
Na altura, Óscar Loureiro corria através da Fundação Inatel, uma organização que promove atividades de lazer para diversas faixas etárias. “Eu corria no Inatel, fui campeão de estrada, campeão de pista e campeão de corta-mato”, como podemos pelas medalhas que enchem a oficina do entrevistado.
Questionado pelo JPN se ainda continua a percorrer o país para realizar maratonas, o entrevistado admite que “agora não é a mesma coisa”, lamentando a falta de ajudas por parte das “juntas e do Governo” e reconhecendo que “os clubes vão fazendo as provas conforme as possibilidades que têm”.
Embora já não ganhe provas, porque “a idade já não permite”, Óscar continua a conciliar a mecânica com a corrida: “Eu trabalho e depois ao fim da tarde vou correr, dar uma voltinha. Faço sempre uma horinha.”
Conta que se sente “cansado se não fizer nada” e que a idade ainda não é um entrave para fazer exercício físico. Os seus seis filhos não lhe seguiram as pisadas, mas incentiva os netos e bisnetos a praticarem desporto.
“Aos mais novos, eu incentivo, agora a pessoas mais velhas é mais complicado, porque não aceitam tão bem alguns conselhos. Já estão habituadas a certas rotinas”, acrescenta.
Até ser obrigado a parar, o Senhor Óscar irá continuar a correr, “mais depressa ou mais devagar” porque, segundo ele “o importante é não parar” e ao fazê-lo sente-se “livre como um pássaro”.
Editado por Filipa Silva