No dia 16 de outubro, a Federação Académica do Porto assinalou o oitavo aniversário do Pólo Zero, situado nos Clérigos, com a apresentação do "Referencial para a Promoção da Sustentabilidade Ambiental no Ensino Superior".
Francisco Porto Fernandes (FAP) recebeu de Filipe Araújo (CMP) a certificação “Coração Verde” em resultado das iniciativas ambientais promovidas na Queima das Fitas do Porto. Foto: Raquel Sousa/JPN
No âmbito da celebração do oitavo aniversário do Polo Zero, a Federação Académica do Porto (FAP) apresentou publicamente o “Referencial para a Promoção da Sustentabilidade Ambiental no Ensino Superior”. Este documento, criado em conjunto com a associação ambiental Zero, divide-se em seis partes – “mobilidade e transportes”, “economia circular”, “alimentação”, “água e energia”, “literacia e sensibilização” e “monitorização” – e apresenta várias medidas que, acreditam os promotores, podem tornar a Academia do Porto mais sustentável.
O documento, subscrito por 24 associações de estudantes da academia, incita as instituições a adotarem medidas mais sustentáveis. Trata-se, tal como o nome indica, de um referencial, isto é, por ideias que têm como intuito ser uma referência para as instituições. Em maio, a FAP já tinha apresentado um documento similar, criado a pensar na Queima das Fitas. Agora, apresenta um plano mais completo para toda a Academia do Porto.
A título de exemplo, a FAP incita, no documento, as instituições a promoverem iniciativas de compostagem comunitária dos biorresíduos produzidos nos campi, assim como a instalação de sistemas inteligentes economizadores de água, como torneiras com sensores de movimento. Além disso, incentiva a criação de hortas comunitárias nos campi, “onde estudantes e funcionários possam cultivar alimentos frescos, promovendo uma dieta mais sustentável e a educação sobre agricultura sustentável.” A FAP gostava ainda de “estabelecer parcerias com entidades locais ou grupos/laboratórios de investigação para o re-aproveitamento dos resíduos alimentares.”
Ao nível de mobilidade intra-campus, o Referencial da FAP encoraja as instituições a criar meios de transporte internos, nomeadamente “shuttles, autocarros específicos ou sistema bicicleta e/ou trotinete elétrica partilhada para o deslocamento intra-campus”. Ao JPN, à margem do evento de apresentação do referencial, o presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes dá o exemplo da necessidade de uma solução de deslocação mais ecológica, por exemplo, para os estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) que têm de se deslocar até ao campus Agrário de Vairão, em Vila do Conde. Como as instalações não ficam perto da estação de metro, os estudantes deslocam-se normalmente em automóveis particulares. O presidente da FAP considera que deve existir “algum espírito de urgência” para solucionar este problema.
Francisco Porto Fernandes sublinhou ainda que “as instituições do Ensino Superior têm de estar na linha da frente na capacitação e na promoção de um estilo de vida sustentável” e têm de promover “o mindset de que nós não temos Planeta B, temos mesmo de agir.” Além disso, o presidente da FAP refere que “as medidas são bastante ambiciosas” e que “muitas delas não dizem respeito apenas às instituições, mas também aos municípios, ao poder central e ao poder europeu”, acrescentando que “preservar o ambiente é uma necessidade urgente e preocupante”.
Mafalda Antunes, da Associação Zero, parceira da FAP na construção do Referencial apresentado. Foto: Raquel Sousa/JPN
Em representação da associação Zero, esteve presente no evento Mafalda Antunes, que apelou ao papel dos mais velhos na missão da sustentabilidade e à necessidade de unir gerações para chegar a um fim comum. Aponta o Referencial como um “objeto de mudança” e caracteriza-o como sendo um “pontapé de partida para as ações que têm de ser tomadas a nível ambiental”. Sublinha que esta mudança não funciona “de cima para baixo” e que só pode acontecer com a “colaboração de todos”.
A equipa da FAP pretende atingir uma boa percentagem do Referencial “no máximo” até 2030, com uma expectativa a rondar os 90%, tendo em conta que “muitas medidas já estão em prática”. Todavia, para Francisco Porto Fernandes é necessária “mais ambição” e um tratamento diferente do poder político, isto é, a transformação deste Referencial numa “prioridade” para se conseguirem alcançar tais objetivos.
Após a apresentação formal do Referencial, o próximo passo da FAP é reunir com as instituições de Ensino Superior para aferir que medidas já estão implementadas e perceber “de que maneira se podem tornar mais verdes e mais sustentáveis para garantirmos o amanhã.” O documento está disponível no site oficial da FAP para a comunidade académica.
Queima das Fitas do Porto tem “Coração Verde”
A Queima das Fitas do Porto foi um tópico de particular importância no evento, dado que foi premiada com a certificação “Coração Verde”, um reconhecimento da Lipor e da Porto Ambiente, devido às suas boas práticas para com o ambiente. Um dos maiores eventos académicos do país destacou-se, segundo estas entidades, pela dedicação à reciclagem e pela prioridade dada ao investimento em transportes públicos elétricos para a deslocação de estudantes até ao queimódromo ao longo da semana festiva. “Este é um exemplo de como os grandes eventos podem e devem ser realizados com responsabilidade ambiental”, defendeu Francisco Porto Fernandes. Para o vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, presente no evento, a certificação reforça “o trabalho e compromisso da FAP na mudança de paradigma” e acrescentou: “os estudantes estão cá para mostrar como podemos mudar”.
Francisco Porto Fernandes disse ao JPN que o” grande primeiro passo é o mindset” e dá o seu exemplo enquanto responsável pela sustentabilidade da Queima das Fitas do Porto 2023: “Fiquei com uma obsessão por reciclagem que não tinha. Foi através do fazer e do mudar um bocadinho a nossa mentalidade para podermos garantir um futuro melhor.” Além disso, acrescenta que a prática da reciclagem no evento académico ensinou muitos outros estudantes: “tivemos imensos colegas que admitiram [ter] aprendido a reciclar na Queima das Fitas do Porto”.
Durante o evento, foram ainda entregues os prémios dos concursos ”Barraquinha + Friendly” e “Concurso de Reciclagem”, ambos promovidos durante a Queima das Fitas 2024. A vencedora do primeiro concurso foi a Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (AEFPCEUP), que se destacou pelas práticas sustentáveis e pela sensibilização para comportamentos de risco no Queimódromo. Por sua vez, a Associação de Estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (AEISCAP) venceu o prémio do “Concurso de Reciclagem” por ter reciclado 6.400 kg de resíduos durante o evento, seguida pela AEFPCEUP, com 6.100 kg.
O Pólo Zero deve ensinar o que não se aprende na sala de aula
Polo Zero da FAP. Foto: Raquel Sousa/JPN
Inaugurado a 8 de outubro de 2016, o Pólo Zero celebra oito anos de vida este ano. Num espaço cedido em 2013 pela Câmara Municipal do Porto, Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), considerou que “o Pólo Zero tem sido um ponto de encontro para os estudantes do Porto”, promovendo “a cultura, a formação e o estudo”, sendo ainda um “símbolo do compromisso da FAP com a comunidade académica.”
Ao JPN, o presidente da FAP salientou ainda a necessidade de o Pólo Zero se tornar num local com espírito “empreendedor” e “inovador”, transmitindo aos estudantes o conhecimento que não é ensinado nas salas de aula. Neste sentido, uns dias antes do aniversário do espaço, a FAP lançou a “Academia de Competências” com formações para adquirir soft skills. Para Porto Fernandes, é imprescindível aprender “a gerir pessoas, a falar em público, a liderar, a negociar e realmente temos aqui no Pólo Zero esse tipo de formações certificadas pela DGERT (Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho), o que confere alguma credibilidade.”
Editado por Filipa Silva