Para Vitória Vermelho, criar canções transformou-se numa brincadeira séria. A estudante de Arquitetura conversou com o JPN sobre o percurso que fez no mundo da música e que desembocou agora no lançamento do primeiro disco: "Homónimo".

Vitoria Vermelho

Francisca Oliveira é Vitória Vermelho. O primeiro disco, “Homónimo”, chegou na sexta-feira (25) às plataformas digitais. Foto: Lara Silva/ JPN

 Francisca Oliveira tem duas facetas que acabam por se fundir. Conhecida por uns como Xica, a estudante da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) é também Vitória Vermelho, uma jovem artista de 23 anos que acaba de editar o primeiro álbum, “Homónimo”.

Em conversa com o JPN, numa tarde solarenga de outubro, Francisca explica que foi para causar “impacto” que adotou o nome artístico. Vitória é o seu nome favorito e Vermelho é um sobrenome da avó, que recuperou de uma história familiar antiga.

A história da jovem portuense na música começou na Escola de Jazz do Porto, onde encontrou as suas bases. Mas, neste trajeto, entra também um curso de duas semanas na Berklee College of Music, nos Estados Unidos, depois de terminar o ensino secundário. Uma experiência que marcou Vitória Vermelho, sobretudo pela troca de impressões que acompanhava, em especial, a aula de canto: “foi incrível, porque, do nada, tinha pessoas a dizerem o que é que gostavam ou não gostavam da minha atuação”, recorda. Foi aí que pensou: “Calma, tenho de estudar, porque eu gosto mesmo disto.”

Aos 20 anos, chega ao The Voice e avança no concurso até às semi-finais. A experiência ajudou-a a desconstruir preconceitos. Primeiro reticente em relação à ideia de participar, ao ter medo do que as pessoas iam achar, acabou por perceber que foi um passo importante e que teve influência no álbum que agora lançou. “Toda a gente me dizia coisas boas e, então, percebi que o preconceito estava em mim. Se alguém não gostar, o problema é deles, estou-me a divertir e as pessoas estão a ver algo que estou a fazer e gosto de fazer”, resume.

Depois do The Voice veio Paris, onde a agora estudante de arquitetura fez Erasmus. Para aproveitar a cena musical da capital francesa, Vitória conseguiu integrar uma banda e chegou a atuar em noites de jazz. Essa experiência ajudou-a a ter mais confiança no processo de liderança na música. “[Tudo contribuiu para esta] corrida em direção à criação e à brincadeira, que é o que me atrai muito. Fazer as músicas foi sempre para brincar, não é?”, questiona Vitória Vermelho, para concluir: “Cada fase foi mesmo bonita. No início, era fazer as músicas e ter coragem de as mostrar. Depois, foi conseguir perceber como é que consigo brincar com as músicas, ver as músicas a nascer e a crescer e a tornarem-se naquilo que eu quero.”

Influente neste processo é também a própria área de estudo da jovem. A arquitetura deu-lhe outra consciência dos processos de criação, que se tornaram mais racionais. Juntamente com o jazz, constituem as bases para seguir o “impulso” de criar. Segundo a jovem, este impulso só é possível, porque existem as bases.

O álbum, que chegou na sexta-feira (25) às plataformas digitais, “Homónimo“, editado pela Biruta Records, resultou de um processo de aprendizagem e de partilha para a cantora. “Uma das coisas que gostei imenso no álbum foi o processo por que passei ao fazê-lo. Sinto que cresci imenso”, comenta. O disco, com oito faixas, enquadra-se, musicalmente, no indie-pop e no indie-rock, e a língua alterna entre o português e o inglês. Stella Donnely, Big Thief e Angel Olsen são referências evocadas por Vitória Vermelho.

Para Vitória a escrita assemelha-se a uma conversa com um amigo, é natural e genuína e faz voltá-la à sua versão de “seis anos”, a cantar num restaurante de forma inesperada.  “Sinto sempre esta coisa um bocado infantil, porque me sinto bem no final de escrever algo. É quase como se voltasse a ser aquela criancinha a dizer: ‘pai, olha o que eu fiz!’”. 

No futuro, há concerto marcado para 23 de novembro em Guimarães, depois do álbum a artista espera que haja mais oportunidades para atuar. Na arquitetura, está a terminar a tese e a descobrir o que vai fazer quando a terminar, mas acima de tudo deseja ter sempre a música ligada aos dois mundos. 

Editado por Filipa Silva