A décima-primeira edição do festival de cinema documental do Porto propõe uma reflexão sobre a identidade europeia através de uma programação que se estende até dia 30 de novembro. A cerimónia de abertura realiza-se esta sexta-feira à noite no Batalha.
“Quando termina uma democracia e começa uma teocracia?”: é esta a questão abordada em “Apocalipse dos Trópicos”, documentário que é a peça central da cerimónia de abertura da nova edição do Porto/Post/Doc- Film & Media Festival, o festival internacional de cinema documental do Porto, que arranca esta sexta-feira (22). A décima-primeira edição do festival, que decorre até dia 30 de novembro, terá lugar sobretudo no Batalha Centro de Cinema, mas contará também com sessões no Passos Manuel, na Casa Comum, no Planetário e até na Biblioteca Almeida Garrett.
Refletir sobre a Europa: as propostas deste ano
O título desta edição, “A Europa não existe, eu estive lá”, insere-a numa trilogia denominada “O Movimento dos Povos”, que será dividida por três edições do festival, terminando em 2026. O tema deste ano, anunciado há cerca de um mês em conferência de imprensa, propõe uma reflexão sobre a Europa numa época de crise e decadência marcada por guerras, invasões e ameaças à democracia. Partindo do ensaio do escritor George Steiner, “Uma ideia da Europa”, este programa questiona os valores europeus e reimagina uma nova Europa através de sete filmes de geografias e épocas diversas.
O primeiro filme do programa a ser exibido é “Latcho Drom”, documentário sobre a cultura nómada Romani do realizador francês Tony Gatlif, com sessão marcada para o segundo dia do festival, no Batalha Centro de Cinema. Os restantes filmes selecionados são “Padre Padrone” de Paolo Taviani (dia 24, Batalha), “Landscape In The Mist” de Theodoros Angelopoulos (dia 25, Batalha), “The Ascent” de Larissa Shepitko (dia 26, Passos Manuel), “Take Care of Your Scarf, Tatiana” de Aki Kaurismäki (dia 27, Passos Manuel), “The song of others – A search of Europe” de Vadim Jendreyko (dia 28, Batalha) e “The passion of Joan of Arc” de Carl Theodor Dreyer (dia 29, Passos Manuel).
Em foco, este ano, está também a obra de Salomé Jashi, realizadora da Geórgia que retrata o seu país através de um olhar atento aos detalhes do quotidiano. A primeira sessão do programa dedicado à realizadora acontece no domingo, dia 24 de novembro, com a exibição do seu mais recente documentário, “A Crypto Rush Aftermath”, no Batalha Centro de Cinema. Além de mais sete sessões para outros documentários de Jashi, está também agendada para dia 27 uma masterclass dada pela realizadora no Áuditório Ilídio Pinho da Universidade Católica Portuguesa. A entrada é livre.
Particular desta edição é também o programa “Engawa“, focado no documentário japonês, em parceria com o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian; o “Tour d’Europe“, que traz ao Porto produções suíças que passaram pelos European Film Awards; a “Mostra Espanha”, seleção que explora o cinema espanhol contemporâneo; e a “Cinemateca dos Subúrbios do Mundo”, projeto idealizado pela cineasta Alice Diop.
Competições
Como nas edições anteriores, o Porto/Post/Doc promove as habituais competições. Entre elas, destacam-se a “Cinema Falado” (competição nacional) e a Competição Internacional. Para esta última, foram selecionados dez documentários que destacam a realidade através de “olhares políticos e análises sociais contundentes à experimentação e ao rigor formal”, lê-se no site do PPD. Entre outros, vai ser possível ver no Porto “Afternoons of Solitude”, de Albert Serra (estreia nacional) e “Bogancloch”, que traz de regresso ao festival o realizador Ben Rivers. Cada um dos filmes da competição terá duas sessões, espalhadas pelos vários dias do festival, na sua maioria a acontecer no Batalha. Apenas os documentários “Small Hours Of the Night”, de Daniel Hui, e “Fragments of Ice”, de Maria Stoianova terão, cada um, uma das suas sessões no Passos Manuel.
Este ano, as produções em língua portuguesa selecionadas para competir na “Cinema Falado” adotam variados formatos, tais como a animação, o filme-ensaio e, como não pode faltar, o documental. Debruçando-se sobre a natureza e a história, a seleção deste ano oferece narrativas da lusofonia contemporânea a partir de variados contextos. O primeiro filme selecionado a ser exibido é “Selvagem, Selvagem”, de Emilio Fonseca, no segundo dia do festival.
Já na “Transmission”, competição dedicada ao mundo da música, destacam-se as histórias dos ABBA (“Abba: Against The Odds”, dias 25 e 27, no Passos Manuel) e dos Pavement (“Pavements”, dias 26 e 28, no Passos Manuel). Já no programa com o mesmo nome da competição, mas sem a vertente competitiva, Brian Eno é uma das estrelas destacadas (“Eno”, sábado, 23, no Batalha).
Quanto às curtas-metragens de jovens realizadores, é a competição “Cinema Novo” que lhes dá um lugar no programa do festival, destacando, assim, o melhor que se produz nas escolas de cinema. Do conjunto de sessões, destaca-se a de “Onde se Planta um Lar”, a única que vai passar na Biblioteca Almeida Garrett (dia 28). No apoio a esta competição está o Canal 180, que tem também uma secção própria no festival, o programa “180 Media Academy“.
Outros destaques
A pensar nos mais novos, o Porto/Post/Doc deste ano tem um programa destinado a famílias com cinco filmes de animação para ver no Batalha a 23 de novembro. Contará também, no mesmo dia, com um ateliê prático de realização para crianças denominado “A Ilha Misteriosa”. Já a pensar no público adolescente, o projeto “Docs4Teens” pretende aproximar os jovens ao cinema documental com uma seleção de sete filmes reunidos através de vários festivais europeus. Estes documentários estarão divididos por três dias do festival – 25, 26 e 29 de novembro – e vão poder ser vistos no Batalha Centro de Cinema.
Fazem também parte desta edição do festival algumas sessões especiais de obras “que desafiam a ordem estabelecida”, entre as quais está o documentário sobre a história e a transformação do centro comercial mais falado no Porto em 2023: “Stop. Salas de ensaio para um materialismo histórico”, de Jorge Quintela, passa dia 27 no Batalha. A competição “Working Class Heroes“, no âmbito da qual a curta de Quintela foi produzida, continuará a decorrer também este ano.
Como complemento, estão também agendadas duas conversas relativas ao tema da edição, “Europa procura-se” (dia 28) e “Ideias para um futuro presente” (dia 29), ambas no Batalha e de acesso livre. Já o projeto “Fabrico em Série” terá apresentações destinadas a estudantes e profissionais do cinema. Além disso, haverá outra masterclass semelhante à de Salomé Jashi e igualmente gratuita, mas desta vez com Meryem-Bahia Arfaoui, relativamente à “Cinemateca dos Subúrbios do Mundo” (dia 29, Batalha).
A sessão de encerramento, dia 30 no Batalha, fechará o festival com a exibição de “An Urban Allegory”, de Alice Rohrwacher, e de um filme “surpresa”: um dos que serão premiados esta edição.
Os bilhetes estão disponíveis tanto online como nas bilheteiras físicas, e os estudantes são um dos grupos a poder usufruir de desconto. A programação do Porto/Post/Doc pode ser consultada na íntegra no site do festival.
Editado por Filipa Silva
Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online