A cerimónia que concede honras de Panteão Nacional aos restos mortais do escritor e diplomata português decorre esta quarta-feira (8), em Lisboa. O JPN conversou com Afonso Reis Cabral, escritor e trineto de Eça, sobre a homenagem que levou quatro anos a concretizar.
Quase 125 anos após a sua morte e quatro anos depois de o Parlamento ter decidido “conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”, como se lê na plataforma digital da Assembleia da República, os restos mortais do autor de “Os Maias” regressam a Lisboa, mas, desta feita, para o local onde estão sepultadas algumas das mais ilustres personalidades do país.
A cerimónia, que decorre esta quarta-feira (8), divide-se em dois momentos e espaços/locais, tendo início na Assembleia da República, às 09h25, e passando para o Panteão Nacional, às 11h00.
O trineto do homenageado, Afonso Reis Cabral, presidente da Fundação Eça de Queiroz, afirmou ao JPN que tem uma expectativa elevada para o que será “uma festa nacional para celebrar, homenagear, relembrar e agradecer por quem foi Eça de Queiroz “.
O também escritor vai ser um dos intervenientes na cerimónia, com o elogio fúnebre de Eça. “O discurso já está preparado. Espero estar à altura da ocasião”, partilhou com o JPN. Também José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, e Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, vão discursar.
Na celebração haverá ainda espaço para interpretações do maestro João Paulo Santos, da soprano Sara Simões, do Coro do Teatro Nacional de São Carlos e para a leitura de excertos da obra de Eça de Queiroz.
Na página da Assembleia da República é destacada a “genialidade” do autor “expressa nos seus 35 anos de vida literária, ao longo dos quais escreveu algumas das obras mais emblemáticas da literatura portuguesa, entre elas ‘O Crime do Padre Amaro’, ‘O Primo Basílio’ e ‘Os Maias'”.
A ideia da trasladação e os atrasos no processo
Com o propósito de reconhecer a vida e obra de Eça de Queiroz, em janeiro de 2021, a ideia de Afonso Reis Cabral de atribuir honras de Panteão Nacional ao trisavô avançou para votação na Assembleia da República.
A concretização teve contudo de esperar, por razões que terão estado ligadas primeiro à pandemia e depois às quedas de Governo, que resultaram nas eleições antecipadas de 2022 e 2024. As mudanças de legislatura implicaram alterações do presidente da Assembleia da República, que é a quem cabe dar andamento ao processo em questão.
Mas acabou por avançar e, a pouco tempo de acontecer a cerimónia, então marcada para setembro de 2023, seis dos 22 bisnetos do escritor interpuseram uma providência cautelar, cujo tempo necessário para uma toma de decisão levou a mais um adiamento da trasladação. No total, foram cinco as tentativas de parar o avanço do processo, contudo, a maioria dos bisnetos (13) votou favoravelmente.
Sophia de Mello Breyner Andresen e Amália Rodrigues também foram alvo de processos morosos, mas ainda assim não tanto quanto o que levou a trasladação de Eça de Queiroz.
Sobre o escritor e a fundação que dá pelo seu nome
O escritor faleceu no ano de 1900, em Paris, aos 54 anos, vítima de uma saúde débil. O corpo foi levado para Lisboa, tendo permanecido no Cemitério do Alto de São João até 1989, quando o jazigo partilhado com a família Resende foi posto à venda em hasta pública. Nessa altura, a família insurgiu-se e, para garantir que os restos mortais do escritor não se perderiam, avançou com a trasladação do corpo para Santa Cruz do Douro, concelho de Baião, região onde se localiza a Casa de Tormes, sede da fundação e local que inspirou a obra “A Cidade e as Serras”.
A Fundação Eça de Queiroz nasceu nesta fase e é presidida por Afonso Reis Cabral desde fevereiro de 2022, precedido pela avó e pelo pai nesta função.
Editado por Filipa Silva