Ao JPN, na primeira entrevista que dá depois de ter sido anunciado como candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal do Porto, o ex-ministro da Saúde e ex-eurodeputado revela o que o leva a recandidatar-se à presidência da CMP. O acesso à habitação, a mobilidade e a segurança são desafios que o candidato propõe enfrentar com soluções integradas. Manuel Pizarro partilha ainda a sua perspetiva sobre o legado de Rui Moreira.
JPN: Após duas candidaturas, o que o motiva a voltar a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal do Porto? Que aspetos da cidade ou da sua vida o levaram a estar novamente disponível para a corrida?
Manuel Pizarro (MP): Eu sou um portuense orgulhoso e empenhado na vida da minha cidade. Sim, já fui candidato duas vezes, em 2013 e em 2017. Sinto que dei um contributo para a governação da cidade, nomeadamente no primeiro mandato – o PS fez uma coligação com o vencedor, com o doutor Rui Moreira e participámos na governação da cidade. Fazemos um balanço muito positivo dessa experiência. Entretanto, a minha vida evoluiu num outro sentido. Tive uma experiência na Europa, enquanto deputado no Parlamento Europeu, tive uma experiência no Governo, em modo de ministro [da Saúde], e acho que isso me qualifica ainda mais para a candidatura à presidência da Câmara Municipal do Porto (CMP), a qual faço por amor à minha cidade.
JPN: Qual é a sua visão para o futuro da cidade do Porto e quais são os projetos-chave que pretende implementar se for eleito?
MP: Eu tenho uma avaliação positiva sobre a cidade do Porto. A cidade do Porto, no essencial, tem evoluído de forma favorável. Ainda assim, há novos problemas que precisam de uma resposta autárquica. Um desses problemas é o acesso à habitação, pois é evidente que é quase impossível para os jovens e para as pessoas da classe média e nós temos de envolver o município numa política de habitação a custos acessíveis que permita que todas as pessoas que querem morar no Porto tenham a possibilidade de morar no Porto.
Um outro aspeto está relacionado com o tema da segurança ou da falta de segurança. No caso da nossa cidade, esse fenómeno está praticamente circunscrito às questões que têm a ver com as dependências e com tudo o que isso ocasiona, o que significa que nós precisamos de uma resposta mais integrada, que por um lado tenha a intervenção das forças de segurança, mas por outro lado, e de forma central, tenha uma intervenção na área social e na área da saúde. Ora, eu acho que o município deve ser o catalisador desta intervenção, porque se nós conseguirmos reduzir os problemas relacionados com as dependências, vamos seguramente contribuir para que nos sintamos numa cidade mais segura.
E, finalmente, o grande problema da mobilidade. Hoje, o Porto é uma cidade onde a deslocação das pessoas é difícil, realmente, a deslocação que é feita por automóvel. Temos de consolidar o investimento no transporte público, que tem de ser de qualidade, tem que ser confiável para que as pessoas vejam uma verdadeira alternativa e, por outro lado, temos que encontrar formas de dissuadir o transporte em automóvel, sobretudo quando as pessoas andam, como é, aliás, muito habitual, sozinhas no automóvel. Mas chamo à atenção que este tema da mobilidade precisa de uma resposta à escala metropolitana. Cerca de 70% dos carros, portanto, dois em cada três carros, que durante um dia de semana circulam no Porto, são de pessoas que vêm de fora do Porto. Isto significa que nós só com um diálogo com os municípios vizinhos é que podemos tratar do tema da mobilidade, que me parece outro dos temas centrais da cidade.
JPN: Relativamente à mobilidade, a relação entre a Câmara Municipal do Porto e a Metro do Porto tem sido marcada por algumas tensões no que diz respeito a conflitos relacionados com as obras. Como avalia essa dinâmica e qual seria a sua abordagem para resolver eventuais problemas de coordenação entre estas entidades?
MP: Estas obras de grande dimensão, como são as obras do Metro, são obras muito ingratas, porque são obras que são muito importantes para o futuro. Eu imagino aquilo que está dito nos estudos técnicos. É que a circulação do Metro na nova Linha Rosa entre a Boavista e a Baixa vai permitir tirar cerca de 700 autocarros da superfície e algumas centenas ou milhares de viaturas, mas claro, durante o período das obras, a vida das pessoas e da cidade tornam-se num inferno. Acho que é daí que resulta esta tensão que tem existido.
Nós temos de fazer um esforço de diálogo para que as obras corram o mais rapidamente possível, com o menos incómodo possível e sobretudo temos de acreditar que a cidade do Porto precisa ainda de mais metro, isto é, estou muito satisfeito com este esforço da linha circular, repito, entre a Baixa e a Boavista, mas é preciso que a linha depois continue da Boavista, por ali acima, pelo Carvalhido, pela zona da Constituição, tendo que se decidir se vai amarrar na Asprela, no Polo Universitário, ou noutra localização, mas o Porto precisa de mais metro, porque manifestamente o volume de trânsito à superfície, numa cidade que continua a ser o centro de atração de todo o Norte e que tem uma enorme capacidade de atração turística, esse volume de circulação à superfície torna-se insustentável para as pessoas.
JPN: Considerando o cenário político atual, quem são os principais adversários que antevê nesta corrida pela Câmara Municipal? E, mais importante, quais considera que serão os maiores desafios para o próximo mandato?
MP: Estou concentrado na apresentação das minhas propostas aos portuenses. Acho que as pessoas do Porto me conhecem bem e que sabem que o que me move é o amor à cidade e a vontade de tornar mais confortável e socialmente mais equilibrada a cidade do Porto e vou-me concentrar nisso. Não ganhamos muito em fazer uma campanha em que façamos ataques aos outros. Tenho a expectativa de que todas as pessoas que se candidatam, se candidatam porque querem o melhor para o Porto.
JPN: Em relação ao movimento liderado por Rui Moreira, considera que Filipe Araújo será o candidato indicado para dar continuidade à sua visão para a cidade? O que pensa sobre essa possibilidade?
MP: Não me compete seguramente a mim dizer o que é que cada um dos outros movimentos e dos outros partidos deve fazer. Se o engenheiro Filipe Araújo confirmar a sua candidatura, analiso-a conforme já disse anteriormente. É alguém que também quer dar um contributo positivo para a cidade do Porto. Estou confiante que os cidadãos do Porto serão a melhor alternativa e tenho a expectativa de que confiarão nas propostas que eu apresento e naquilo que conhecem da minha personalidade.
JPN: Na sua opinião, qual será o legado mais marcante que Rui Moreira deixa para a cidade do Porto, tanto em termos de desenvolvimento urbano como na gestão da cidade?
MP: Há obras muito importantes que não podem nem devem ser esquecidas. A recuperação do mercado do Bolhão, a Gare Intermodal de Campanhã, o lançamento da obra do Matadouro de Campanhã, a reabertura do Batalha, como um centro de cinema ao serviço do Porto, toda uma dinâmica cultural em torno do Teatro Municipal do Porto, que nos dois polos, o Rivoli e o Campo Alegre, enfim, é algo positivo. Todo o investimento nas novas obras de mobilidade e desde logo na obra do Metro, são áreas muito positivas. Entretanto, a cidade tem novos problemas que significam novos desafios e uma visão renovada para o futuro da cidade.
Editado por Filipa Silva