Partindo da crescente discussão sobre o comércio local e tradicional, o JPN analisou cento e vinte e oito lojas da Rua de Santa Catarina para descobrir as tendências presentes na sua evolução nos últimos cinco anos.
O número de lojas de ‘souvenirs’ na cidade foi criticado pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Em Santa Catarina, terão aberto seis lojas destas nos últimos cinco anos. Foto: Tiago Coimbra/JPN
A propósito do fecho de negócios emblemáticos da cidade do Porto durante o último ano, de que foram exemplo a Mercearia do Bolhão, a Livraria Latina e, até mesmo, a Fnac, estas últimas na Rua de Santa Catarina, ressurgiram questões sobre os novos negócios e como estes poderão afetar o comércio local e tradicional portuense.
O tema foi abordado pelo próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que mencionou, em outubro, durante uma conferência de imprensa no Cinema Batalha que “a paisagem da cidade está a ser adulterada” com o constante aparecimento de lojas de souvenirs.
O autarca queixou-se da regulamentação e garantiu que o controlo sobre o tipo de lojas que abrem na cidade está fora do alcance da Câmara, devido à existência do “licenciamento zero”: “Não é normal que os presidentes da Câmara não possam ter, relativamente à sua cidade, na regulamentação do comércio e das atividades económicas, qualquer capacidade de interferir para além de que está no PDM”, afirmou aos jornalistas.
Foi no encalço desta discussão que o JPN realizou, em novembro do ano passado, um levantamento na Rua de Santa Catarina, para tentar descobrir em que medida estas mudanças estão a afetar a principal artéria comercial da cidade. Quantas lojas de souvenirs abriram nos últimos cinco anos? E que peso têm no total de novos negócios? Percorremos a rua entre o cruzamento com a Rua da Firmeza e a 31 de Janeiro, e entramos em 128 negócios de porta aberta para a rua.
Infografia das lojas na Rua de Santa Catarina. Tago Coimbra e Rita Braga
É importante salientar que os dados apresentados podem ter alguma imprecisão, uma vez que foram obtidos por meio de um inquérito informal junto dos comerciantes.
Das 128 lojas em que entramos, identificamos 31 estabelecimentos da Rua de Santa Catarina que terão menos de cinco anos. O mesmo é dizer que, ao nível de antiguidade, a larga maioria dos estabelecimentos comerciais da rua não mudaram recentemente, correspondendo a menos de um quarto as lojas com menos de cinco anos.
Outra conclusão, é que a maior parte das lojas mais antigas não se inscrevem naquilo que por regra se chama de comércio tradicional, isto é, correspondem na maioria a lojas de grandes cadeias comerciais – como as lojas do grupo Inditex, por exemplo -, enquanto que as que abriram há menos de cinco anos são predominantemente negócios independentes.
Neste universo das lojas mais recentes, têm algum peso as lojas de souvenirs. No total, das 31 lojas identificadas com menos de cinco anos, seis correspondem a lojas de souvenirs. Sobre estas, destaca-se o facto de estarem localizadas a pouca distância entre si – estão em maior número no troço entre a Rua Firmeza e a Rua de Fernandes Tomás – sendo que a oferta de produtos que apresentam é semelhante.
Atualmente, mais de três quartos das lojas presentes na faixa de Santa Catarina analisada, dedicam-se ao comércio a retalho, enquanto as restantes dividem-se em duas categorias: estabelecimentos de restauração ou oferta de serviços.
Cerca de metade das lojas da amostra pertencem a cadeias de negócios, o que indica uma presença significativa de marcas com mais lojas tanto ao nível nacional como internacional. A outra metade é constituída por negócios independentes, mas sem grande variedade na oferta (sobretudo vestuário e calçado).
A Rua de Santa Catarina continua a ser um dos principais pontos de comércio portuense. Desse ponto de vista, não se transfigurou. Mas o tipo de comércio que alberga é já pouco tradicional, sobressaindo o comércio a retalho de cadeias de lojas nacionais e internacionais. Há também, de facto, mais lojas de souvenirs na rua e, de um modo geral, uma certa homogeneização na oferta para a qual contribui o fecho de estabelecimentos como a Livraria Latina ou a própria FNAC.
Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online
Editado por Filipa Silva