Hamas suspende troca de reféns, Israel coloca exército em prontidão e Trump ameaça colapso do cessar-fogo.
O cenário é de destruição na Faixa de Gaza. Foto: APAN
Donald Trump lançou esta segunda-feira (10) um ultimato ao Hamas, deixando clara a sua posição de apoio à retoma da guerra na Faixa de Gaza caso todos os reféns israelitas não sejam libertados até sábado ao meio-dia. A declaração surge após o Hamas anunciar a suspensão da libertação de reféns por tempo indeterminado, alegando violações por parte de Israel ao cessar-fogo em vigor. Um recomeço da guerra na Faixa de Gaza pode estar assim iminente.
Antes dos comentários do presidente dos Estados Unidos, o Hamas mostrou, em comunicado, a intenção de a “porta continuar aberta” para a próxima troca, argumentando que a ameaça de suspensão teria apenas o propósito de “pressionar Israel a cumprir as suas obrigações”.
Em declarações aos jornalistas na Casa Branca, Donald Trump reagiu a esta decisão do Hamas e deixou o aviso: “Esta é uma decisão de Israel, mas no que me diz respeito, se todos os reféns não forem devolvidos até sábado ao meio-dia – o que me parece uma data razoável -, eu diria: cancelem tudo, todos os acordos caem e deixem o caos instalar-se”. O presidente norte-americano acrescentou ainda a rejeição da possibilidade de entregas parciais, reforçando a ideia de que a libertação deve ocorrer de uma só vez. Na conferência de imprensa, Trump garantiu que não tinha dado conhecimento deste posicionamento a Benjamin Netanyahu.
Em resposta, o Hamas considerou as declarações de Trump inúteis para a resolução do problema. Sami Abou Zouhri, porta-voz do movimento islamita palestiniano, afirmou, de acordo com a Associated Press, que “Trump deve lembrar-se que há um acordo que deve ser respeitado por ambos os lados e que esta é a única forma de trazer os prisioneiros de volta. A linguagem das ameaças não vale nada e só complica as coisas”.
Após o anúncio da suspensão da troca de reféns pelas Brigadas al-Qassam – braço armado do Hamas – o governo israelita considerou a decisão como uma violação total do acordo e colocou o exército em prontidão para “todos os cenários”.
Segundo os meios de comunicação social israelitas, a licença de todos os soldados da divisão de Gaza foi suspensa. As forças israelitas aumentaram a presença militar na região com um reforço de drones, de acordo com o canal televisivo AI Jazeera.
Foram realizadas até agora cinco trocas que resultaram na libertação de 21 reféns israelitas e mais de 730 prisioneiros palestinianos. Durante este cessar-fogo, prevê-se que o Hamas liberte dezenas de reféns em troca de quase 2.000 prisioneiros palestinianos.
A próxima troca programada para 15 de fevereiro aguarda por desenvolvimentos. A comunidade internacional teme que se gere um novo ciclo de violência na região e que seja o colapsar total do cessar-fogo.
No seguimento da reunião com o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, mostrou confiança no papel da União Europeia na mediação do conflito e no futuro de Gaza. Acredita, também, que é fundamental o cumprimento do acordo cessar-fogo.
Resistência dos países árabes ao plano de Trump
A ameaça que paira sobre o acordo de cessar-fogo veio só adensar a tensão que se faz sentir no Médio Oriente desde a tomada de posse do presidente dos Estados Unidos. Os países árabes rejeitaram o plano de Trump que antecipava o envio de palestinianos de Gaza para o Egito e para a Jordânia. O presidente norte-americano afirmou que estava a considerar cortar a ajuda a ambos os países.
Badr Abdelatty, ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, declarou que os países árabes não aceitarão qualquer plano que envolva a deslocação forçada dos palestinianos e que comprometa os seus direitos. Destacou, ainda, “a urgência de iniciar a rápida recuperação” e reconstrução de Gaza “com a presença de palestinianos” no enclave, “à luz do seu apego à sua terra e da absoluta rejeição da deslocação”.
O rei da Jordânia, Abdullah II, reforçou a sua posição contrária à deslocação forçada dos palestinianos e rejeitou qualquer tentativa de alterar a demografia da região.
Editado por Filipa Silva