Linha de Leixões voltou a receber passageiros este domingo (9) e inclui novas paragens, como os apeadeiros do Hospital de São João e da Arroteia. Reativação da linha proporciona melhorias na mobilidade dos cidadãos, mas desafios como a necessidade de reabilitar as estações e expandir a rede persistem. O JPN ouviu os utilizadores do serviço.

A Linha de Leixões retomou o serviço de passageiros este domingo (9), após 14 anos de encerramento. O itinerário inclui paragens em Porto-Campanhã, Contumil, São Gemil, Hospital de São João (novo apeadeiro), São Mamede de Infesta, Arroteia (novo apeadeiro) e Leça do Balio. No sentido oposto, o trajeto ferroviário segue de Leça do Balio até Ovar, passando por estações como Miramar, Espinho e Esmoriz.

A rota conta com 60 comboios nos dias úteis – 30 em cada sentido, com uma frequência de dois por hora. No sentido Porto Campanhã – Leça do Balio, os comboios partem aos 17 e aos 41 minutos de cada hora; no sentido inverso, às 22 e aos 46 minutos. A circulação decorre entre as 07h22 e as 23h11. Aos fins de semana e feriadosa circulação reduz-se para 34 comboios, 17 em cada sentido. A viagem entre Campanhã e Leça do Balio demora entre 19 e 27 minutos, consoante os horários.

Um dia após a inauguração, a circulação de passageiros ainda é reduzida. Contudo, no apeadeiro do Hospital de São João, encontramos Sofia Mota e Irina Sousa, estudantes universitárias, que destacam a praticidade que a nova estrutura ferroviária trouxe às suas vidas.

No Hospital de São João existe um novo apeadeiro, assim como em Arroteia. Foto: Inês Saldanha/JPN

Sofia Mota, natural da ilha de São Miguel, nos Açores, vive perto do Hospital de São João e desloca-se diariamente para o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), onde estuda. Antes da reativação da linha, precisava de apanhar “três transportes públicos”, mas agora esse número reduziu-se para dois. Aos fins de semana, visita familiares em Viseu, sendo necessário “apanhar o autocarro em Campanhã”. Com a reabertura da linha ferroviária, o tempo de percurso passou de meia hora para apenas 15 minutos.

Tal como Sofia Mota, Irina Sousa, aluna do curso de Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), considera que a retoma da linha teve um “impacto bastante positivo” no seu quotidiano. A estudante de 19 anos mora em São Gemil, uma das paragens da Linha de Leixões, e um percurso que antes demorava uma hora a percorrer, devido “aos transportes públicos e ao trânsito”, agora reduz-se a apenas seis minutos, permitindo-lhe “economizar bastante tempo”.

Dentro do comboio, António Leite, natural de Guimarães e residente no Porto, onde frequenta a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), realiza a viagem pela primeira vez, por se tratar de uma linha recém-inaugurada. Embora reconheça a importância da Linha de Leixões, o jovem de 22 anos salienta que “faz falta haver uma ligação direta entre Guimarães, Braga e Penafiel ao Hospital de São João”, o que, na sua perspetiva, possibilitaria “poupar muito tempo e trocas de metro”.

Uma linha inacabada

No término da viagem, em Leça do Balio, o JPN conversou com Maria Alice Azevedo, de 70 anos, que observava a linha ferroviária. A reformada recordou as viagens que fazia “em pequenina”: “esta linha já existe há muitos anos e, antigamente, era para pessoas. Eu morava em Custóias, perto do apeadeiro, e cheguei a ir até Leixões no comboio”.
Para Maria Alice Azevedo, o regresso da Linha de Leixões ao serviço de passageiros é benéfico, mas considera que “devia haver uma recuperação” das estações de comboio, que, na sua opinião, “não estão cuidadas”.

Maria Alice Azevedo viajou de comboio na sua infância, antes do encerramento da linha para os passageiros. Foto: Inês Saldanha/JPN

Carlos Mouta, vice-presidente da Câmara de Matosinhos, presente na estação de Leça do Balio, prevê mais investimento, para melhorar a “qualidade de acesso pedonal para quem procura o comboio”. Relativamente à zona interior das estações, o responsável do município garante que vai ser realizado um trabalho conjunto com a Infraestruturas de Portugal (IP), “para que parte destes edifícios, que hoje estão em ruína ou fechados, possa abrir”.

Esta visão é partilhada por Pedro Gonçalves, presidente da União das Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões, que, em declarações ao JPN, reconhece a falta de “algumas condições de habitabilidade”, mencionando como exemplo a estação de Leça do Balio e outros apeadeiros. Além disso, o autarca sublinha que “falta a ligação a Leixões”, embora reconheça que a sua concretização “é mais difícil e exige um maior investimento financeiro”, devido à “necessidade de criar novos interfaces”.

Quanto ao possível alargamento da Linha de Leixões, Carlos Mouta antecipou a possibilidade de “levar o comboio até Matosinhos”. O número dois do município de Matosinhos garantiu que, “a partir de 1 de março”, vai começar a circular “um autocarro que liga diretamente ao centro de Matosinhos, à estação de metro Câmara de Matosinhos e à própria Câmara de Matosinhos”. A adesão à nova linha vai medir o interesse dos passageiros numa possível extensão da linha de comboio. Para além desta medida, a STCP assegura diversas linhas para complementar a trajetória.

O vice-presidente da Câmara de Matosinhos espera que a reabertura da linha tenha um impacto na sustentabilidade da vida das populações, incentivando “uma mudança de comportamento”, nomeadamente para que “as pessoas deixem de usar o seu carro individual”.

A via férrea visa melhorar a mobilidade no Polo Universitário da Asprela, através da paragem do Hospital de São João, assim como áreas industriais, incluindo a Arroteia, próxima da Efacec, e Leça do Balio, que se situa nas imediações da Lionesa e da Unicer.

Editado por Filipa Silva