Trabalhadores da Orquestra do Norte enfrentam atrasos salariais equivalentes a quatro meses, e reúnem com o Governo para arranjarem soluções. O JPN ouviu dois músicos, membros da Comissão de Trabalhadores, sobre as dificuldades que enfrentam.
A Orquestra do Norte foi fundada em 1992. Foto: StockSnap/Pixabay
A Comissão de Trabalhadores da Orquestra do Norte denunciou, na semana passada, o atraso no pagamento dos salários de dezembro e janeiro, assim como dos subsídios de férias e de natal, situação que tem sido recorrente nos últimos anos. A orquestra, fundada em 1992 e composta, atualmente, por 37 trabalhadores, incluindo músicos e administrativos, enfrenta dificuldades financeiras que comprometem a estabilidade dos profissionais.
Os trabalhadores alertam que os atrasos salariais têm sido frequentes nos últimos dois a três anos, chegando a receber apenas oito vezes por ano, em ciclos de dois a três meses. Para além disso, o número de concertos sofreu uma queda significativa desde 2018, reduzindo-se a quase metade do habitual, afirmam em comunicado.
Os músicos criticam, ainda, a Associação Norte Cultural, responsável pela gestão da orquestra, apontando a falta de respostas por parte da direção executiva da instituição. Desde que foi enviado o comunicado, ainda não houve qualquer contacto por parte da direção, garantiu ao JPN Vítor Brandão, percussionista da orquestra há 25 anos e membro da direção da Comissão de Trabalhadores.
Para além dos atrasos salariais, os trabalhadores denunciam a falta de condições das infraestruturas que utilizam, nomeadamente da sala de ensaios, localizada na Sala de cinema Teixeira de Pascoaes. As deficientes condições do espaço têm dificultado o trabalho dos profissionais e afetado a sua saúde.
Rebecca Holsinger, trompista da orquestra desde 2001 e integrante da Comissão de Trabalhadores, expressou ao JPN a sua preocupação com a instabilidade financeira. “A mim, afeta-me mais psicologicamente. Nunca sabemos como será. Já são muitos anos com os mesmos problemas”, afirmou. A música, que é mãe solteira e comprou casa recentemente, explicou que só conseguiu manter-se financeiramente estável graças a um empréstimo destinado a obras na habitação. “Se não tivesse esse dinheiro, estaria com problemas graves”, acrescentou.
Vítor Brandão partilhou a sua experiência pessoal, que decorre da situação financeira da orquestra. Em 2015, devido aos constantes atrasos salariais, pediu uma licença sem vencimento de três anos e emigrou para trabalhar na construção civil. No entanto, a experiência causou-lhe problemas físicos que ainda hoje o afetam. Além disso, e questionado sobre a vontade de deixar ou não a orquestra, Vítor deixa a questão: “Porque é que temos de ser nós a procurar outro trabalho se o problema não é nosso? Porque é que temos de ser nós a mudar e não quem cria os problemas?”.
A redução do efetivo da orquestra e a mudança da direção artística em 2018, sem o conhecimento e aval dos músicos, estão na origem, na visão dos trabalhadores, da diminuição dos concertos e a um agravamento das dificuldades financeiras. “São 33 anos ininterruptos da Orquestra do Norte. São 33 anos a levar cultura aos locais mais recônditos do país”, destacaram os trabalhadores no comunicado emitido.
Apesar das dificuldades, tanto Vítor Brandão como Rebecca Holsinger afirmam que a motivação para continuar vem do público que sempre os apoiou. “O nosso público não tem culpa. Estamos cá para servir da melhor forma possível”, afirmou Holsinger. Ambos acreditam que a questão será resolvida e consideram improvável o encerramento da orquestra, dada a sua história e relevância cultural.
Contudo, e sendo as dificuldades de algumas pessoas públicas, a Comissão dos Trabalhadores deixa uma questão às autarquias. “As ações sociais das autarquias têm feito algo por essas pessoas?”
Sem condições financeiras para se deslocarem a Lisboa, a Comissão dos Trabalhadores tem uma reunião online marcada com a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, esta quinta-feira, dia 13, às 15h00. Esperam encontrar soluções através do diálogo. “Foi preciso enviar um comunicado à imprensa como forma de grito, mas acreditamos que só através do diálogo chegaremos a uma solução”, sublinha Vítor Brandão.
O JPN tentou, sem sucesso, contactar a Associação Norte Cultural.
Editada por Filipa Silva