A emigração jovem qualificada arrisca Portugal a perder dois mil milhões de euros por ano. A procura de melhores condições de vida e a participação no programa Erasmus são alguns dos principais fatores que levam os estudantes a emigrar. Os dados são de um estudo da FAP, apresentado esta terça-feira(11).

Sessão de apresentação do estudo do Centro de Estudos da Federação Académica do Porto, sobre a emigração jovem qualificada

Rui Henrique Alves, um dos autores, na sessão de apresentação do estudo sobre a emigração jovem qualificada. FAP

São 73% os estudantes do Ensino Superior que ponderam emigrar quando concluírem os estudos e 25% os que já têm a decisão tomada. As conclusões constam de um inquérito que foi apresentado, esta terça-feira, no Polo Zero da Federação Académica do Porto (FAP) e que contou com a sala cheia. O estudo parte de uma amostra de 375 estudantes da academia do Porto, mas é, ainda assim, de acordo com os autores, extrapolável para o nível nacional. “Não vamos ter 73% de jovens a emigrar, mas se tivermos em conta o intervalo entre aqueles que dizem que vão mesmo emigrar com toda a certeza, cerca de 25%, e aqueles que também dizem que é muito provável que emigrem, 73%, não anda muito longe dos 30% de jovens que temos efetivamente emigrados neste momento” ao nível nacional, explicou ao JPN Paulo Mota, um dos dois autores do estudo, à margem da apresentação.

Paulo Mota e Rui Henrique Alves, ambos professores na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, esclarecem que a procura de melhores condições de vida e a progressão na carreira são os fatores que mais influenciam a emigração dos jovens. Em terceiro e quarto lugares surgem o fator salarial e os impostos. A facilidade de acesso à habitação é o quinto determinante, um aspeto que os autores acreditam ser consequência do facto de os inquiridos terem em média 20 anos, a maioria sem “ter contactado com o mercado da habitação”.

Ao nível das características pessoais dos inquiridos, a probabilidade de emigrar diminui com a idade, mas aumenta com a participação no programa Erasmus.

De acordo com o estudo, se os 25% dos estudantes que se dizem decididos a emigrar o fizerem (o que corresponderia a cerca de 100 mil jovens), o custo estimado de perdas para o Estado português dessa emigração é de cerca de mil milhões de euros por ano. Já a estimativa das perdas líquidas para a economia portuguesa relativa aos 75% dos estudante que ponderam emigrar sobe para 95 mil milhões de euros, ou seja, 2,1 mil milhões de euros por ano.

Os valores foram calculados através do custo orçamental líquido apenas, o que corresponde à “diferença entre o que o Estado vai perder de receita, porque os jovens emigram, e aquilo que o Estado vai poupar em termos de despesa, porque os jovens também deixam de dar alguma despesa”, referiu Rui Henrique Alves na apresentação. Os autores reconhecem as limitações do cálculo, já que não tiveram em conta outro tipo de valores como os subsídios de desemprego ou a despesa pública na educação dos jovens. Ainda assim, o estudo conta com uma margem de erro de apenas 5%.

Rui Henrique Alves ressalva que o estudo trata intenções de emigração e não concretizações. O professor relembra por fim que, paralelamente ao fenómeno de emigração, Portugal tem assistido à imigração de jovens qualificados para o país.

Perante os resultados, o presidente da Federação Académica do Porto considera que “está mesmo a haver uma fuga de talento em Portugal” e apelou, por exemplo, à valorização salarial, a um IRS Jovem mais forte, ao financiamento de jovens empreendedores ou à oferta pública de habitação. Ao JPN, Francisco Porto Fernandes reforçou que fez já vários pedidos de audiência ao Governo para discutir estas matérias, ainda sem resposta.

António José Seguro foi convidado pela FAP para comentar os resultados e reconheceu no seu discurso a ousadia e ambição do estudo apresentado. Para o político, antes de propor medidas direcionadas aos jovens, é preciso “ouvi-los, e perguntar-lhes o que é que eles querem, em concreto, que o país lhes ofereça, quais são as oportunidades que precisam, para que eles de facto fiquem”.

Os estudo foi realizado pelo Centro de Estudos da Federação Académica do Porto e coordenado, a pedido da FAP, pelos professores Paulo Mota e Rui Henrique.

Editado por Filipa Silva