Com a edição de 2025 do festival literário prestes a começar este sábado (15), o JPN conversou com Luís Diamantino, vice-presidente e vereador da Educação e Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim, sobre as novidades do evento este ano.
Eventos que compõem o festival literário da Póvoa de Varzim vão, pela primeira vez, ser alargados a todas as freguesias do concelho. Foto: Sara Arnaud
A 26.ª edição do Correntes d’Escritas arranca este sábado (15), na Póvoa do Varzim, e prolonga-se até dia 22 de fevereiro. Mais de uma centena de participantes – escritores, artistas, músicos, jornalistas, investigadores -, provenientes de diversas latitudes com influência ibérica vão marcar presença nos múltiplos eventos espalhados pelo concelho. O festival literário assume-se como um “lugar de diálogo e encontro e espaço de intercâmbio e troca de conhecimentos e saber(es); entre autores e autoras de várias gerações, com percurso feito e por fazer”, conforme se lê no programa.
Ao contrário do que é habitual – selecionar versos e relacioná-los com temas da atualidade -, este ano, o Correntes d’Escritas tem pinturas como ponto de partida para conversas entre os participantes nas mesas do Cine-Teatro Garrett. “A literatura engloba todas as artes e entendemos que seria interessante também pôr aqui em discussão das mesas alguns quadros famosos, universais”, explicou ao JPN Luís Diamantino, vice-presidente e vereador da Educação e Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim.
Uma das obras escolhidas – A Guerra – é assinada por Paula Rego. O vereador salientou que o quadro invoca um “tema candente neste momento, [uma] tragédia que está a acontecer no mundo”. O mesmo tema está presente noutras pinturas selecionadas, entre elas, Guernica de Picasso. “Temos tido, ao longo dos anos, inúmeras exposições, tanto exposições plásticas como também de escultura e, para além disso, de fotografia, cinema, teatro. Portanto, todas as artes se conjugam neste evento”, sublinhou Luís Diamantino.
Ao longo dos anos, muitos convidados especiais, desde Agustina Bessa-Luís a José Gil passaram pela conferência de abertura do Correntes D´Escritas. Hélder Macedo, poeta e especialista na obra camoniana, com 89 anos, vai conduzir a cerimónia na 26.ª edição do festival, uma vez que, em 2025, se assinalam os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. A vida e obra do autor d’Os Lusíadas vão ser celebradas com particular destaque ao longo do Correntes.
Sobre a escolha do responsável pela conferência de abertura o vice-presidente da autarquia justificou: “A única definição que podemos dar de Camões é o poeta. Hélder Macedo tem já estado aqui nas Correntes d’Escritas inúmeras vezes e é o camoniano vivo que melhor pode tratar, de facto, Camões. É aquela pessoa que nos dá essa segurança e garantia, daí termo-lo convidado”.
O festival celebra também os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco na “sua Póvoa Balnear”. O autor de Amor de Perdição será destacado numa exposição patente no Museu Municipal de Etnografia e História. Neste âmbito, Luís Diamantino recordou: “é necessário visitar os clássicos. Como dizia Eça de Queirós, é a basezinha para o futuro da nossa cultura”. O escritor Luís Sepúlveda, falecido há cinco anos devido a uma infeção por covid-19, é outra das figuras a ser homenageada, através da exposição fotográfica Mundo Sepúlveda, de Daniel Mordzinski.
No segmento “Conversas Correntes“, um ciclo de conversas que se “tecem de cumplicidade”, que abrem espaço para uma proximidade entre o público e os participantes, partindo das experiências e das vidas que têm a literatura como pilar fundamental. Este ano, a dinâmica conta com a presença de Alice Vieira e Patrícia Portela, Amélia Muge e Minês Castanheira, Antonio Monegal e Luís Caetano. Em homenagem à recentemente falecida Maria Teresa Horta, Patrícia Reis, autora da biografia da poeta e feminista intitulada “A Desobediente”, junta-se a Inês Pedrosa.
O Correntes d’Escritas explora campos da literatura que vão da ficção, à poesia ou ao ensaio, mas também envolve áreas como música, tradução e jornalismo. Luís Diamantino acredita que o mais importante no evento é que “qualquer pessoa tem a facilidade de estar junto dos escritores, de conhecer a obra, comprar os livros e fazer aquilo que um leitor deve fazer: ler os livros e, depois até, discuti-los com o próprio escritor.”
O Correntes d’Escritas recebe também pelo terceiro e último ano a “Casa”, uma peça de teatro de Laborinho Lúcio, Rui Spranger e Raquel Patriarca, que vai estar em cena na Casa Manel Lopes. O vereador explicou que “é uma casa da cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, numa residência literária”. Luís Diamantino esclareceu que “este ano vai ser a última vez”, porque “já vai no terceiro ano” a ser apresentada. O vereador adiantou que “outra residência literária irá fazer outro tipo de trabalho”, no próximo ano.
Este ano, todas as freguesias da Póvoa de Varzim vão participar no festival literário. O vice-presidente do município salientou o impacto do Correntes d’Escritas nas escolas do concelho: “todos os escritores vão a todas as escolas do concelho. E aí temos também um objetivo específico, que é fomentar o prazer pela leitura“.
Luís Diamantino partilhou que o festival literário se realiza “no fim de fevereiro e [os poveiros] já estão a falar em dezembro que estão à espera das Correntes d’Escritas“. “O livro é o nosso protagonista, não é este ou aqueles escritores. Todos aqui são nossos amigos, cúmplices desta jornada, mas o essencial é o livro, promover o livro e a leitura. É isso que as Correntes d’Escritas fazem já ao longo de 26 edições“, frisou.
O Prémio Literário do Casino da Póvoa, que conta já com 21 anos, vai ser entregue pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que vai estar presente na sessão de encerramento do festival, a 22 de fevereiro. Luís Diamantino recordou que é “o único prémio português que ultrapassa as fronteiras da língua portuguesa“, porque abrange o espanhol.
Editado por Filipa Silva