A poucos dias da votação, CDU é cotado para vencer eleições parlamentares. Extrema-direita vem em seguida nas pesquisas e preocupa parte da população

As eleições alemãs que, em condições normais, seriam realizadas em setembro de 2025, foram antecipadas em dezembro, depois de o chanceler Olaf Scholz ter visto rejeitada uma moção de confiança ao governo. É no contexto desta crise política e com problemas que dividem a opinião pública, que os alemães vão às urnas a 23 de fevereiro decidir a nova composição do Bundestag – o Parlamento alemão – que, em seguida, vai escolher o novo chanceler.

A escolha do novo líder da maior potência da União Europeia vai ajudar a definir como questões económicas e imigratórias vão ser encaradas não só na Alemanha, mas também em boa parte da Europa.

A queda de Scholz

Olaf Scholz assumiu o cargo de chanceler alemão em dezembro de 2021, sendo o primeiro a ocupar a função depois de 16 anos de Angela Merkel no poder. Conhecido por ser adepto do diálogo na política, ele chegou ao cargo formando uma coligação entre o seu partido – o Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda -, os Verdes e os Democratas-Livres (FDP).

Devido a divergências políticas ao longo do tempo de governação, os partidos entraram em colisão e Scholz defrontou-se com uma grande dificuldade em governar. Dificuldades que culminaram na dissolução da aliança em novembro de 2024, quando Scholz demitiu o ministro das finanças, Cristian Lindner, por discordâncias sobre o controle de gastos do Estado. Após a demissão, os ministros do FDP, partido de Lindner, abandonaram o governo e deixaram clara a perda de prestígio do chanceler perante o partido e o parlamento alemão.

Por conta disso, Scholz propôs uma moção de confiança, que foi reprovada pelo Bundestag e, por isso, o governo caiu. Assim, o presidente Frank-Walter Steinmeier dissolveu o Parlamento e marcou novas eleições para o dia 23 de fevereiro de 2025.

Os alemães vão às urnas antes do tempo e a poucas semanas das eleições, três partidos aparecem como favoritos nas sondagens de intenção de voto:

  • Democratas-Cristãos Alemães (CDU): Liderados por Friedrich Merz, o partido de centro-direita segue na frente das sondagens, com 30% das intenções de voto. Merz, que além de líder é também candidato à chancelaria, propõe a revitalização da economia alemã com a redução de impostos e uma profunda mudança nas regras de imigração. Além disso, quer reformar as forças armadas do país e passar a investir 2% do PIB em defesa militar, conforme sugerido por Donald Trump.
  • Alternativa para Alemanha (AfD): É o partido de extrema-direita e aparece em segundo lugar nas intenções de voto, com 20%. Tem propostas muito duras em relação à imigração, como o encerramento de fronteiras terrestres e deportações em massa. É, sem dúvida, o grupo político mais polémico e odiado da política alemã. Daí que os outros partidos tenham decidido fazer um “cordão sanitário”, um acordo em que se comprometem a não dialogar, de maneira alguma, com os extremistas. A AfD lançou Alice Weidel como candidata à chancelaria.
  • Partido Social-Democrata (SPD): É o partido que está atualmente no poder e aparece com apenas 16% das intenções de voto. As principais propostas do grupo político são económicas: pretendem diminuir a carga tributária e investir na retoma da indústria nacional. Para a chancelaria, promovem o nome de Olaf Scholz, que não teve sucesso a liderar a coligação “semáforo” até aqui no poder.

No dia 9, aconteceu o primeiro debate entre candidatos a chanceler, Olaf Scholz e Friedrich Merz. Os destaques do embate foram as ações de Donald Trump e a AfD. Sobre o presidente norte-americano, ambos os candidatos discordaram da posição de Trump de querer ocupar Gaza e transferir os palestinianos para outro lugar. Além disso, os dois trataram o tema como um “escândalo”. Merz afirmou ainda que a ação faz parte de uma série de propostas “irritantes” e Scholz classificou-a como “inapropriada”.

Em relação à AfD, o atual chanceler acusou Merz de “trair a sua palavra” ao apresentar no Parlamento textos com o objetivo de endurecer as regras de política migratória, proposta apoiada pelo partido de extrema-direita. Scholz também afirmou que a ação de seu opositor “quebrou um tabu” na política alemã, que até então mantinha a extrema-direita em isolamento político.

Perante as duras críticas, Merz afirmou enfaticamente que a CDU não faria qualquer tipo de aliança com a AfD e que não há nenhuma base comum entre os partidos. Aliás, recentemente, o provável futuro chanceler ameaçou retaliar contra Elon Musk na sequência do apoio do milionário norte-americano ao partido de extrema-direita alemão. Em 20 de dezembro, Musk afirmou, na sua conta no X, que “apenas a AfD pode salvar a Alemanha”. Merz afirmou que vai estudar respostas políticas e legais ao empresário.

A ascensão do extremismo político está em destaque na Alemanha e preocupa parte da população. No dia 8, mais de 200 mil pessoas saíram às ruas em Munique para protestar contra a extrema-direita e a favor da democracia. Na semana anterior (2), outro movimento reuniu 160 mil pessoas em Berlim, de acordo com a polícia.

As eleições parlamentares na Alemanha ocorrem a 23 de fevereiro e, segundo as intenção de votos, Friedrich Merz tem larga vantagem diante dos outros candidatos e será, provavelmente, o novo chanceler. Se a previsão se confirmar, o candidato da CDU terá um grande desafio ao assumir o comando de um país com grandes problemas e uma sociedade dividida.

Editado por Filipa Silva