Desde dezembro do ano passado, os SASUP notificaram cerca de 60 estudantes da Residência Novais Barbosa para serem transferidos para outros locais. O JPN ouviu, de alguns estudantes, críticas à falta de informação e organização do processo. Os SASUP garantem estar a tentar minimizar o impacto da situação. Obras devem começar em breve.

Residência Novais Barbosa

A Residência Novais Barbosa está localizada no polo do Campo Alegre. Foto: Luísa Vilarinho / JPN

A Residência Novais Barbosa, localizada no polo do Campo Alegre da Universidade do Porto, vai ser sujeita a obras de reabilitação. A operação ainda não começou, mas já obrigou ao realojamento estudantes – cerca de 60 já foram notificados. Entre os que permanecem na residência, há queixas de falta de informação e alguma apreensão. Os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP) estimam que não será necessário proceder a mais transferências, mas sem garantir que tal não venha a acontecer. Os serviços asseguram também que têm feito “todos os esforços para minimizar o impacto” da situação.

O primeiro grupo de estudantes começou a ser transferido em finais de novembro e nele foram incluídos os que estudam em faculdades do polo da Asprela e de outras faculdades que não as do Campo Alegre. O local escolhido pelos SASUP foi uma das residências privadas dessa zona, com quem estabeleceram um protocolo. Na nova residência, os estudantes continuaram a ter quartos individuais e ainda passaram a ter casa de banho e kitchenette privativas.

Contudo, o facto de os residentes terem tomado conhecimento da transferência dos colegas um dia antes da mudança gerou ansiedade entre os que ficaram. “Soubemos por amigos que eles já tinham ido embora para outros sítios. Só depois é que os SASUP nos avisaram e disseram que as pessoas iam ser transferidas em fases, mas não disseram quem, nem quando, nem em que fase, nem para onde – podia ser no dia seguinte ou no segundo semestre”, conta ao JPN “Maria”, nome fictício (todos os estudantes entrevistados pediram para manter o anonimato).

A comunicação da segunda fase de transferências chegou a 11 de fevereiro. Num e-mail, a que o JPN teve acesso, os SASUP informaram que “de acordo com o planeamento da execução das obras de requalificação, está previsto que estas se iniciem pelos Blocos D e E (no que diz respeito às obras a realizar no interior da residência), motivo pelo qual terão que ser as residentes destes Blocos a mudar para outros locais.” No mesmo e-mail, refere-se que a mudança é obrigatória e que deve ser realizada entre 19 e 28 de fevereiro.

“Maria” pertence a este grupo de estudantes que vai ser transferido para o Internato de S. João, localizado na Rua da Alegria, no Porto. A estudante sente-se revoltada por ter de passar a partilhar quarto e por o primeiro grupo de transferências estar num local com melhores condições. “Deviam assegurar as mesmas condições, pelo menos. Eu achei injusto”, admite.

“Maria” acrescenta ainda que tem receio de que as regras no Internato sejam mais apertadas do que as da Residência Novais Barbosa. Sobre este ponto, e num esclarecimento enviado por escrito ao JPN, os SASUP garantem que os estudantes “não estão sujeitos a horários de recolher obrigatório nos espaços para onde são realojados.” Outra preocupação referida pela estudante, relativa à possibilidade dos residentes levarem consigo a roupa de cama e de banho fornecida pelos SASUP no início do ano letivo, está também assegurada: “os estudantes transferidos continuam a ter direito a roupa de cama”, referem os SASUP na mesma nota enviada ao JPN.

Os SASUP não especificaram, contudo, quantos estudantes foram ou vão ser transferidos em cada uma das fases. Certo é que já há uma terceira fase, cuja notificação chegou um dia depois da segunda, a 12 de fevereiro. Até ao dia 7 de março, todos os estudantes desta fase terão de estar já realojados. “João” foi na última quinta-feira (13) à Pousada da Juventude da Pasteleira para receber as chaves, conhecer o espaço e decidir o que terá de levar consigo. Aproveitou também para conhecer a zona e perceber os autocarros que vai começar a apanhar para se deslocar até à faculdade.

Ao nível das condições, “João” sente-se muito mais aliviado, apesar de, tal como “Maria”, também passar a partilhar quarto: “Parece ter boas condições e [os funcionários] foram simpáticos e mostraram-se abertos às nossas necessidades. Disseram que podiam adequar o espaço ao que precisássemos, até podiam pôr mais mesas para estudarmos”. Na pousada, “João” vai ter acesso a uma sala de convívio, a uma sala que pode utilizar para estudar, a roupa de cama e banho, a uma cozinha e ainda vai ter direito a pequeno-almoço. As regras da Pousada são similares às da Residência Novais Barbosa.

A transferência afeta, até agora, cerca de 60 estudantes, numa residência com capacidade para 248 camas. “Pedro” é um dos que continua alojado na Novais Barbosa, mas não sabe se, entretanto, vai ter de mudar de bloco – o JPN questionou os SASUP sobre esta questão, mas não obteve uma resposta direta. Ao JPN, o estudante reconhece e lamenta a falta de informação que chega aos residentes. Sobre a situação dos colegas transferidos, “Pedro” entende “que é difícil realojar as pessoas com as mesmas condições”.

Tanto “Maria” como “João” e “Pedro” consideram que deveriam ter sido avisados da situação na altura de candidaturas às residências, no início do ano letivo. Os estudantes consideram que, se os SASUP tivessem comunicado desde o início a necessidade de transferências, muitos não teriam escolhido ficar na Novais Barbosa e teriam organizado os horários curriculares tendo em conta os novos tempos de deslocação. Todos os entrevistados consideram que há falta de comunicação e organização por parte dos SASUP.

Ainda no esclarecimento enviado ao JPN, os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto assumiram a necessidade de “transferir 60 estudantes para outros alojamentos”, assegurando que estão a tentar minimizar ao máximo o impacto da situação nos estudantes, “garantindo sempre que estas mudanças sejam realizadas com toda a dignidade e respeito pelo [seu] bem-estar.” Até à data do esclarecimento, os serviços não tinham previstas mais transferências, mas não garantem que não venham a ser necessárias.

Quanto à estratégia de realojamento, os SASUP asseguram que tem sido “cuidadosamente delineada” e que “quando formalizada a respetiva disponibilização do espaço é sempre dada a possibilidade aos estudantes de visitarem previamente os locais para onde serão transferidos, permitindo-lhes conhecer o seu futuro alojamento antes da mudança”.

Os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto acrescentam que as obras de requalificação da Residência Novais Barbosa – que devem começar em breve – têm como principal objetivo “melhorar significativamente as infraestruturas deste espaço, proporcionando, no futuro, condições mais adequadas para todos os estudantes alojados”, como o acesso a cozinha. Salientam ainda que o “processo foi conduzido com a preocupação de manter o maior número de camas disponíveis, reconhecendo a complexidade e os desafios do alojamento estudantil na cidade do Porto”.

Editado por Filipa Silva