Milhares de adeptos reuniram-se na Igreja das Antas e, depois, no Estádio do Dragão, para prestar a última homenagem ao presidente mais vitorioso da história do FC Porto. A despedida foi marcada por aplausos, cânticos e um luto pela perda da figura mais emblemática da história do clube.

São 9h30 da manhã no Porto e as ruas ao redor da Igreja Paroquial de Santo António das Antas começam a encher-se. O silêncio contrasta com o habitual burburinho matinal. Pessoas de todas as idades, algumas segurando bandeiras azuis e brancas, outras com cachecóis do FC Porto ao pescoço, caminham em direção ao templo onde Jorge Nuno Pinto da Costa será velado.

Entre os que chegam cedo à igreja, Jorge Araújo, 72 anos, fala com orgulho da marca que Pinto da Costa deixou no clube, mas também no país: “Fez tanto pelo Porto e pelo país como pelo FC Porto. Contra o centralismo de Lisboa, lutava não só pelo Porto, mas pelas outras regiões, pelo regionalismo. Admiro muito este homem”, disse ao JPN. Com a voz embargada, despede-se: “Paz à sua alma! Vai ficar na cidade, na história e no meu coração! Deu-me muitos momentos de alegria e felicidade no Dragão.”

Perto da igreja, sente-se a solenidade do momento. O cheiro a flores mistura-se com o ar frio da manhã. O cortejo de personalidades começa a chegar. Figuras emblemáticas do FC Porto como Sérgio Conceição, Pepe e João Pinto foram dos primeiros a chegar ao local.

À medida que se aproximava a hora da cerimónia, familiares, amigos e figuras públicas dos mais diversos quadrantes, como Quim Barreiros, Paulo Frute, Deco, Pedro Proença e Fernando Gomes chegavam ao local, com rostos trancados, mas visivelmente emocionados. Em entrevistas dispersas pelos muitos microfones estendidos, todos destacam a sua influência no futebol português, enquanto António Ramalho Eanes, ex-Presidente da República e amigo de longa data de Pinto da Costa, sublinha a sua importância como líder e símbolo do desporto nacional.

A 15 minutos do arranque das cerimónias fúnebres, começam a chegar as equipas das diferentes modalidades do FC Porto, acompanhadas por Zubizarreta, o atual diretor desportivo do FC Porto.

Os adeptos cantam em sintonia pelo nome de Pinto da Costa enquanto cumprimentam e abraçam os seus ídolos. Um momento simbólico que uniu todas as esferas da equipa azul e branca, algo que nem sempre tem acontecido nos últimos tempos. Adeptos, jogadores, equipa técnica e direção, juntos com um só propósito: homenagear a figura mais emblemática da instituição que representam. “A mística do que é ser FC Porto pertence ao Pinto da Costa”, afirmou Miguel Mota, com voz firme, ao JPN.

À medida que no interior da Igreja se começava a ouvir o coro, no exterior, a multidão segue em silêncio, com lágrimas discretas a caírem pelo rosto de muitos. Uma bandeira gigante com a imagem de Pinto da Costa e o título “The King” cobre parte da fachada da igreja.

Às 12h20, a urna é transportada para fora da igreja, e uma onda de aplausos ecoa pelo local. O cortejo segue em direção ao Estádio do Dragão, onde milhares de adeptos já aguardam para a derradeira passagem do presidente pela casa dos dragões. O carro fúnebre avança lentamente pela Alameda das Antas, ladeado por adeptos que colocavam as suas mãos no carro fúnebre e entoavam a famosa “Na Invicta eu nasci”, num dos momentos mais emocionantes da despedida.

Ao chegar ao Dragão, a urna é levada para o centro do relvado, onde se encontrava um altar com alguns dos 2.591 troféus conquistados pelo presidente mais vitorioso da história do desporto. Um mar de aplausos irrompe quando o nome de Pinto da Costa é anunciado no estádio que ajudou a erguer. O cântico “Pinto da Costa, allez dá o mote. O silêncio toma conta do espaço durante um minuto de homenagem, apenas interrompido pelos cânticos sentidos dos Super Dragões. Erguem-se os cachecóis e bandeiras, e num grito só de todos os portistas, canta-se pela última vez, o hino do FC Porto em honra de Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa.

De uma ponta à outra do Dragão, o pranto mistura-se com um barulho ensurdecedor. Os gritos, os aplausos, os cânticos de despedida ocorrem, ironicamente, num momento em que um sismo de moderada intensidade sacudia a região de Lisboa. Qualquer metáfora parecerá forçada, mas não há dúvida que Pinto da Costa teria achado graça à coincidência. De Lisboa chegou a notícia de um abalo e um silêncio dos clubes rivais que foi notado na cerimónia.

No relvado, Pinto da Costa faz a sua última volta, atravessando o túnel, no caixão que o levará pela última vez para fora da casa que construiu. Já no exterior do estádio, as homenagens continuam. Adeptos acendem velas no memorial, tiram fotos, colocam cachecóis e abraçam-se num momento de luto e união, onde as palavras cedem lugar às lágrimas e ao silêncio carregado de memória. Para Ana Melro, sócia há 46 anos, o mais difícil será ultrapassar o “espírito de Pinto da Costa”, que “para uns era inimigo”, mas que para os portistas “era tudo”.

O funeral seguiu para o Cemitério do Prado do Repouso, onde a família e amigos deram o último adeus, acompanhados das centenas de adeptos que se recusaram a abandonar a sua maior figura, mesmo após a sua partida. O Porto despediu-se de um líder, com a certeza de que o seu legado permanecerá vivo em cada adepto.

Editado por Filipa Silva