No ano em que a cantora faria 42 anos, a Livraria Lello “não resistiu à tentação” de comprar a coleção privada de Amy Winehouse que agora se encontra em exposição na sala Gemma.

Coleção privada de livros de Amy Winehouse pode ser vista na Lello.

A Livraria Lello pode parecer um lugar improvável para receber a coleção privada de livros de Amy Winehouse, mas a administradora Aurora Pedro Pinto, fã da cantora que desapareceu em 2011, “não resistiu à tentação”. A coleção chegou agora ao Porto, vinda diretamente de Nova Iorque. No total, são mais de 200 livros que contam, de algum modo, a história de Amy Winehouse e que estão na sala Gemma desde sexta-feira (21).

A aquisição inclui todo o espólio que pertencia a Amy Winehouse desde os livros da sua infância até aos que acompanharam os seus últimos anos de vida. As prateleiras da pequena sala de preciosidades percorrem quatro versões da cantora britânica: a “Adolescência”, “A nerd”, “Os artistas” e a “Literatura”.

A exposição recebe os visitantes no primeiro corredor da sala com o livro da peça em que Amy Winehouse participou pela primeira vez enquanto atriz “Little Shop of Horrors”, no qual Amy escreveu “I love drama” (“Eu amo teatro”). Aurora Pedro Pinto afirma que a primeira parte da coleção direcionada à adolescência da cantora “revela desde logo todo aquele ar dramático de quem sente que a vida tem mais qualquer coisa para dar do que aquilo que à luz do dia e ao olhar simples se encontra.”

Marcas de Amy Winehouse aparecem nos seus livros das mais diversas formas, como uma lista de convidados para uma festa que escreveu numa página do livro “The Last Playboy” de Shawn Levy ou uma mancha de batom que deixou no livro “Killing Yourself to Live” de Chuck Klosterman. Uma letra inacabada de uma canção surge também nas páginas do livro “Howl” de Allen Ginsberg, autor que pertencia à Beat Generation – movimento literário dos anos 40 que inspirava Amy, segundo Aurora Pedro Pinto.

Madonna, Bob Marley e Frank Sinatra são alguns dos exemplos de cantores cujas biografias Amy leu, como retrata a parte “Os Artistas”. Outras escolhas mais surpreendentes como as biografias de lendas do futebol inglês como David Beckham, Bobby Robson (que foi treinador do FC Porto) ou Roy Keane estão presentes nesta parte que retrata uma artista que se relacionava com os vários dos seus ídolos e com alguns dos seus problemas com a fama e com os vícios.

Já na secção “Literatura”, J.D. Salinger destaca-se, uma vez que Amy possuía a obra completa do escritor. Albert Camus, Vladimir Nobokov e Charles Bukowsky são outros exemplos de grandes nomes da literatura clássica que Amy terá visitado numa fase mais madura da sua vida, perto do seu fim.

O último livro comprado por Amy Winehouse foi a parte três de “Torpedo” de Sanchez Abuli e Jordi Benet, uma série de bandas desenhadas, como expõe a secção temática d'”A nerd”. O amor de Amy pela narrativa visual transpareceu para as escolhas alternativas que Amy realizou na definição da sua própria identidade visual, como refere a placa informativa relativa à secção.

 

Aurora Pedro Pinto aponta que a maturidade que Amy Winehouse foi ganhando ao longo da sua vida refletiu-se nas suas escolhas literárias. A dona da coleção explica que a cantora tornou-se “uma leitora bastante convulsiva que podia passar horas numa livraria e não fazia uma viagem sem livro” no final da sua curta vida.

Dentro do ecleticismo de todo o espólio literário de Amy Winehouse, para a administradora, a coleção “ revela o lado desassossegado e inquieto que nós conhecemos.” A empresária acredita que esta coleção é uma janela para ver o que é que Amy Winehouse leu: “Isso faz-nos pensar: que autor é? que livros é que escreve? se calhar, também me identificaria com aquilo. E vai criar aquilo que nós queremos, leitores.”

A visita da exposição complementa a experiência da visita à sala Gemma que requere marcação prévia no site da livraria Lello e está sujeita a pagamento.

Amy Jade Winehouse foi uma cantora e compositora britânica de jazz, soul, reggae e ska que faleceu em 2011 aos 27 anos, vítima de uma intoxicação de álcool, substância com a qual a cantora enfrentava abertamente um problema de dependência. Amy deixou para trás três álbuns: Frank (2003), Back to Black (2006) e Lioness: Hidden Treasures (2011). Um mês antes da sua morte, a cantora cancelou o que seria o seu segundo concerto em Portugal.

Editado por Filipa Silva