Merz foi eleito o quarto chanceler neste século. Resultados também mostram AfD com melhor resultado de sempre e SPD em baixa.
Friedrich Merz (CDU) é o novo chanceler alemão. Foto: Steffen Prossdorf | CC
Friedrich Merz foi eleito chanceler da Alemanha para os próximos quatro anos. No último domingo (23), a União Democrata-Cristã (CDU), partido de Merz, conseguiu a maioria dos votos das eleições Parlamentares e pode assim nomear o novo chefe de governo da Alemanha. Merz é um político de direita e foi eleito defendendo propostas como o controlo da imigração e a redução da carga fiscal.
Amplo favorito nas sondagens que precederam as eleições, Merz tornou-se o chanceler eleito após a CDU obter 28,5% do total de votos, superando o partido de extrema-direita AfD, com 20,8% (o melhor resultado da história do partido), os Sociais-Democratas (SPD), com 16,4%, os Verdes com 11,6% e o partido de esquerda Die Linke, com 8,8%.
O primeiro desafio do novo chanceler vai ser formar o governo. Merz afirmou que pretende fazer isso até a Páscoa, mas ainda não sabe que partidos vão fazer parte da coligação. Mostrou-se, contudo, aberto a dialogar com o SPD e afirmou que vai manter o cordão sanitário contra a AfD, ou seja, vai recusar qualquer tipo de negociação com o partido de extrema-direita. Esta, inclusive, foi uma promessa feita por Merz quando ainda era candidato, num debate com Olaf Scholz.
Uma provável coligação entre a CDU e o SPD já seria suficiente para Merz ter maioria (o mínimo são 316 deputados) no Parlamento alemão, uma vez que os partidos detêm 208 e 120 deputados, respetivamente. Porém, há também a possibilidade de acordo com outros partidos. Os Verdes mostraram-se disponíveis para uma coligação, mas deixaram claro que se opõem à política migratória idealizada pelo chanceler eleito. Historicamente, a CDU tem recusado alianças com os ecologistas.
Lista dos partidos mais votados, com porcentagem e quantidade de vagas no parlamento conquistados:
- CDU/CSU (Friedrich Merz) – 28,5% – 208 lugares
- AfD (Alice Weidel) – 20,8% – 152 lugares
- SPD (Olaf Scholz) – 16,5% – 120 lugares
- Verdes (Robert Habeck) – 11,6% – 85 lugares
- Die Linke (Heidi Reichinnek) – 8,8% – 64 lugares
Posicionamento político e propostas
Friedrich Merz é visto como um político conservador de direita. Durante a campanha eleitoral, defendeu ideias como a mudança nas regras de imigração no país e a redução de impostos como forma de impulsionar a economia. Além disso, mostrou-se inclinado a aumentar os investimentos alemães em defesa, para tornar o país e a Europa mais independentes dos EUA.
Ideologicamente, Merz é conservador e já afirmou ser contra a liberalização do aborto. Em 2024, o ex-chanceler Olaf Scholz levantou a possibilidade de legalizar a interrupção voluntária da gravidez no país, enquanto Merz classificou a proposta como “escandalosa”. Outra questão polémica envolvendo o novo chanceler aconteceu em 1997, quando ele votou contra uma proposta de lei para criminalizar a violação conjugal. Posteriormente, Merz explicou que se opunha apenas à maneira como a lei tinha sido proposta, e que hoje, se pudesse, votaria de forma diferente.
Netanyahu e Trump
No seu primeiro discurso como chanceler, logo após o resultado favorável ser conhecido, Merz foi polémico ao afirmar que convidou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para uma visita à Alemanha apesar do mesmo ter um mandato de detenção expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI): “[Netanyahu] ligou para me congratular. Sabem que nos conhecemos muito bem. Disse-lhe que devíamos ver-nos em breve, depois de o governo ser formado. Caso ele queira visitar a Alemanha, garanti-lhe que vou arranjar forma de ele vir e voltar sem ser preso”.
Questionado sobre a relação da União Europeia com os EUA, o novo chanceler afirmou que fazer uma Europa forte e independente dos americanos é sua “prioridade absoluta”. Sobre o Donald Trump, Merz demonstrou insatisfação com a maneira como está a lidar com a Europa: “Nunca pensei que teria de dizer algo assim num programa de televisão, mas depois das declarações de Donald Trump na semana passada… É evidente que este governo não se preocupa muito com o destino da Europa”.
Sobre as negociações pelo fim da Guerra da Ucrânia, Merz mostrou-se, novamente, insatisfeito com o presidente americano. Afirmou ter grande preocupação com a tentativa de acordo sem a inclusão da Ucrânia e da Europa nas negociações.
Reações
Logo após a notícia da vitória dos democratas-cristãos, vários líderes mundiais reagiram a demonstrar apoio ao novo chefe de governo. António Costa, presidente do Conselho Europeu, declarou que está “ansioso” para trabalhar com Merz para tornar a Europa mais forte, mais prospera e mais autónoma.
O presidente dos EUA, Donald Trump, também reagiu ao resultado das eleições. Na sua conta na rede social Truth Social, afirmou:“Tal como os EUA, o povo da Alemanha cansou-se da agenda sem bom senso, especialmente sobre energia e imigração, que prevaleceu durante tantos anos. Este é um grande dia para a Alemanha e para os EUA sob a liderança de um cavalheiro chamado Donald J. Trump”.
Mark Rutte, secretário-geral da NATO, também congratulou Merz: “Parabéns, novamente, pela vitória. Está claro que temos um trabalho importante pela frente para aumentar os gastos com defesa, o que é fundamental para criarmos uma NATO forte”.
Editado por Filipa Silva