Os erros, dos mais rotineiros aos mais trágicos, ensinam lições, tanto a pessoas como às organizações. Três empreendedores expuseram "vulnerabilidades" sem medos, num evento promovido pela Global Shapers Porto Hub.

Global Shapers Porto Hub apresentou, pela primeira vez, o evento iFail. Raquel Sousa/JPN

A Global Shapers Porto Hub juntou na UPTEC, a 20 de fevereiro, vários oradores para conversar sobre o falhanço e algumas formas de lidar com ele. Sob o mote “falhar não tem de ser cadastro, pode ser currículo”, o iFail promoveu a ideia de que é importante conversar sobre o ato de falhar, uma vez que “todo o sucesso tem falhanço por trás”.  

Joana Moreira, do Movimento Transformers & Reformers, afirmou ser “péssima para falar do tema”, pois detesta falhar. O facto de ter “o síndrome de boa aluna”, como contaria ao JPN à margem da sessão, e de lhe ter sido exigido desde criança que fosse sempre boa no que faz, influenciou a forma como vê o mundo e o fracasso. Talvez por isso, ao contrário de alguns dos seus colegas, sinta dificuldade em celebrar o falhanço. Necessita antes de expressar a sua frustração e de se recolher em si mesma para lidar com falhas.

Na sessão, a oradora começou por relatar um episódio trágico no seu percurso profissional que envolveu o suicídio de um jovem apoiado pela associação onde hoje é diretora executiva. Este caso ensinou-a que a falha pode “colocar a vida de pessoas em causa” e deixou marcas no movimento.

Esta “história muito dramática”, contou Joana, “permitiu reinventar a organização”, que modificou a sua forma de trabalhar: “Na sequência do suicídio de um dos nossos aprendizes, criámos um programa de prevenção da saúde mental dos jovens que acompanhamos para que eles, quando se sentem assoberbados e precisam de ajuda, nos possam ligar, nos possam sinalizar [a sua condição]”, partilhou. 

Outra das oradoras, Ana Casaca, conta que vive “melhor com lessons learned do que a celebrar falhanços.” A diretora de Inovação da Galp referiu que, enquanto líder, é importante criar um “ambiente mais seguro para o erro”, trabalhando o feedback e expondo a sua forma de reagir ao falhanço à equipa. Enfatiza que abrir espaço para o erro faz as pessoas terem mais “segurança psicológica” no trabalho. “O erro não faz as pessoas”, é humano e algo com que vivemos no dia a dia, mais ainda quando se é mãe, como recordou a oradora.

Já Tiago Rebelo, co-fundador da startup Swee Ice Cream, recordou a altura em que recebeu mais de quatrocentas respostas negativas quando convidou quinhentas empresas a participarem num evento desportivo que estava a organizar. Apesar das respostas negativas, que considerou “falhanços”, dez marcas aceitaram participar. Para o empreendedor, foi importante procurar algum padrão de erro para compreender as razões que levaram as marcas a recusar o seu convite. Sublinhou que “se não desistirmos, o falhanço não passa de uma história de superação.”

Valentina Nadin, curadora do Global Shapers Porto Hub, fala sobre projetos futuros. Raquel Sousa/JPN

Apesar de “falhar e acertar” ser uma coisa relativa, os Global Shapers Porto Hub acreditam que conseguiram cumprir a missão de “democratizar a cultura failure friendly”.

Ao JPN, Filipe Santiago Lopes, coordenador do evento, disse que o balanço final da primeira edição foi positivo, deixando a semente para a realização de mais eventos sobre o tema. “Começamos com o empreendedorismo, mas queremos fazer uma segunda ou terceira edição sobre [falhar no] desporto, cultura, outros âmbitos. Acreditamos que falhar é uma coisa tão abrangente que um empreendedor pode ouvir sobre um desportista a falhar e identificar-se. Portanto, queremos mesmo alargar e democratizar [o falhanço].” 

Valentina Nadin, curadora do Global Shapers Porto Hub, conta ao JPN que este encontro fez “relaxar” a sua mente, na medida em que percebeu que existem outros líderes com desafios “similares”. Além disso, acrescenta que ouvir os problemas de outros é também uma forma de antecipar desafios.  

Para a curadora, a parte “genial” deste evento é ver os líderes a assumirem não saber lidar com o falhanço e a conseguirem expor a sua “vulnerabilidade”. Refere ainda que é uma “falha” da sociedade não falar abertamente sobre o tema. “Enquanto líder, acho que [falar sobre o falhanço] deve ser uma responsabilidade nossa, porque se não assumirmos que vamos falhar, o resto da equipa também não vai assumir os seus erros”, sublinha.   

A conversa fez João Alexandre Ferreira, integrante do Global Shapers Porto Hub, percecionar “o erro como um redirecionamento”. Ao JPN, afirma que é importante perceber que o erro pode ser uma oportunidade e que pode impactar positivamente o futuro, mesmo que não o pareça no momento em que acontece.  

Também para Rafaela Drumond foi positivo “perceber os diferentes pontos de vista de pessoas que estão em diferentes estágios das suas carreiras, que [são] completamente diferentes.” Acrescenta ainda que conseguiu relacionar os pontos de vista dos oradores com a sua própria experiência, referindo o feedback e a confiança no trabalho da equipa como algo importante.  

Editado por Filipa Silva