Sean Baker, o brasileiro Walter Salles e o estilista Paul Tazewell são alguns dos nomes que fizeram história na 97.ª edição dos prémios da academia norte-americana de cinema. "Anora" venceu em cinco categorias.
Filme de Sean Baker, “Anora”, somou cinco estatuetas. A quinta foi de Mikey Madison como melhor atriz. Foto: Anora/Instagram
O cinema independente, em geral, e o filme “Anora”, do Sean Baker, em particular, foram os grandes vencedores da noite dos Óscares, celebrada em Los Angeles, este domingo. O realizador Sean Baker atingiu o número máximo de prémios levados numa só noite por melhor filme, melhor realizador, melhor montagem e melhor argumento original. O último a conseguir o mesmo feito foi Walt Disney, em 1954.
A estas estatuetas, juntou o óscar de melhor atriz, conquistado pela mais nova das nomeadas, Mikey Madison, de apenas 25 anos. A atriz americana já havia conquistado um BAFTA pelo mesmo papel e foi descoberta pelo realizador Sean Baker pelo seu desempenho no filme “Once Upon a Time in Hollywood” (2019) de Quentin Tarantino.
O óscar de melhor filme foi recebido em palco com um discurso de homenagem ao cinema independente e Alex Coco, um dos produtores do filme, recordou a importância de dar visibilidade a produções mais pequenas: “Nós precisamos de mais e isto é a prova”. Sean Baker agradeceu à comunidade de trabalhadores sexuais pelo apoio à realização do filme e rematou o seu discurso de aceitação de óscar com “long live independent film!” – “Viva o cinema independente!”.
Adrien Brody venceu o segundo óscar da carreira
Depois de, em 2003, ter recebido o óscar de melhor ator pela interpretação em “O Pianista”, Adrien Brody voltou a vencer o galardão por um papel de algum modo paralelo ao que desempenhou no fime de Polanski: “O Brutalista” também é um reflexo das “repercussões da guerra e de opressão sistemática”.
O ator que protagoniza a história de László Tóth sublinhou no seu discurso que este é um “momento importante para reconhecer que não há lugar para a intolerância”. “Estranhamente, estou a ser reconhecido por representar um tempo histórico em que assistimos a um anti-semitismo descontrolado”, refletiu Brody.
Brasil vence pela primeira vez melhor filme internacional
A noite foi de regozijo no espaço da lusofonia. Walter Salles levou, pela primeira vez, um filme em língua portuguesa a vencer o título de melhor filme internacional. O realizador brasileiro de “Ainda Estou Aqui” agradeceu a Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
“Central Brasil” de Walter Salles já havia sido nomeado para melhor filme internacional pela Academia em 1998, em conjunto com a nomeação de Fernanda Montenegro para melhor atriz principal. Este ano, “Ainda Estou Aqui” além de vencer o óscar de melhor filme internacional, fica no currículo com duas nomeações: a de melhor filme e a de Fernanda Torres (filha de Fernanda Montenegro) a para melhor atriz.
“Ainda Estou Aqui” foi, segundo o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), o filme mais visto do ano em Portugal nas primeiras quatro semanas após a sua estreia.
Paul Tazewell é o primeiro homem negro a vencer o óscar por melhor guarda-roupa
A sala levantou-se e aplaudiu em êxtase a conquista histórica do estilista Paul Tazewell que agradeceu, no seu discurso, às suas “musas” Cynthia Erivo e Ariana Grande.
Paul Tazewell cria roupas há mais de 35 anos e declarou à imprensa que este óscar é o ponto mais alto da sua carreira: “perceber que seria eu [o primeiro homem negro a vencer o Óscar nesta categoria] foi um momento como no Feiticeiro de Oz, a inspiração estava dentro de mim o tempo todo”.
Falta apenas um Grammy para Tazewell se tornar um vencedor de EGOT (Emmy, Grammy, Óscar e Tony), uma vez que já ganhou o Tony de melhor figurino por Hamilton e também ganhou um Emmy pelo seu trabalho em The Wiz! Live, de 2015.
Vitória de No Other Land deu voz aos palestinianos
No Other Land partiu da colaboração de um realizador palestiniano, Basel Adra, e um realizador israelita, Yuval Abraham, e conquistou o óscar de melhor documentário.
Yuval Abraham apelou no seu discurso de vitória à desocupação de Gaza e à libertação dos reféns pelo Hamas, criticando a política externa dos Estados Unidos por estar a “ajudar a bloquear uma solução política que permita direitos nacionais para os povos da Palestina e de Israel”.
“Quando eu olho para Basel, eu vejo um irmão, mas nós não somos iguais. Vivemos num regime em que eu sou livre sob uma lei civil e Basel vive sob leis militares que destroem a vida dele e que ele não pode controlar”, sublinhou Yuval Abraham.
Basel Adra revelou no seu discurso que foi pai há dois meses e que espera que a sua filha “não tenha de temer a violência dos invasores, a demolição de casas e as deslocações que o povo palestiniano sofre há décadas”. O realizador recorda que “No Other Land” conta a história da Palestina que “resiste” e apelou ao fim da “limpeza étnica do povo palestiniano”.
Ainda que muitas das expectativas criadas por outros prémios atribuídos tenham sido concretizadas, a cerimónia dos óscares trouxe algumas surpresas. Por exemplo, o segundo filme mais nomeado de sempre para os óscares – “Emilia Perez”, em 13 categorias – apenas levou dois prémios: melhor canção original e melhor atriz secundária. “A Complete Unknown” não venceu em nenhuma categoria e “Conclave” venceu o óscar por melhor argumento adaptado.
Tributos a grandes nomes que desapareceram este ano, como Gene Hackman e David Lynch, fizeram parte da cerimónia – Isabella Rossellini também escolheu vestir veludo azul (“blue velvet”) em homenagem ao realizador falecido em janeiro. Os óscares prestaram também homenagem aos bombeiros que lutaram contra os fogos que atingiram Los Angeles em janeiro.