A perimenopausa é a fase de transição entre a idade fértil da mulher e o período de menopausa. Embora os sintomas possam ser limitadores, o processo de diagnóstico por vezes é demorado. Este é o quarto de cinco artigos sobre a saúde feminina que desenvolvemos no âmbito do Dia da Mulher.

A menopausa ocorre, habitualmente, entre os 45 e os 55 anos de idade, mas para Catarina Pinto a transição para esta etapa começou mais cedo. Os primeiros indícios de perimenopausa (ver caixa) surgiram aos 35 anos, quando começou por sentir “sensação de névoa mental e alterações de humor” e “mudanças no corpo”, nomeadamente “ao nível do peito, da anca e da anatomia da vagina também”. Não tinha, contudo, ideia do que podia estar a acontecer.

O que é a perimenopausa? 
perimenopausa é a fase de transição para a menopausa, etapa que marca o fim da vida reprodutiva da mulher e que habitualmente ocorre entre 45 e os 55 anos. A perimenopausa ocorre quando a mulher começa a notar irregularidades nos seus ciclos menstruais. Apesar de ser algo que afete mais as mulheres depois dos 40 ou até 45 anos, os sintomas podem chegar a surgir desde os 35 anos. No último Censo de 2021, em Portugal há 2.854.246 mulheres com mais de 45 anos (52,5%). Assim, mais de metade da população feminina encontra-se em perimenopausa ou menopausa, segundo a Sociedade Portuguesa de Ginecologia. Importa referir que não se trata de uma doença, mas de uma condição.

Uma outra mudança relatada por Catarina foi uma alteração brusca no ciclo menstrual: “De repente, de um mês para o outro, notei uma diferença para o triplo do fluxo e eu não sabia o que estava a acontecer comigo e isso levava a um cansaço enorme, não estava habituada”, conta ao JPN.

Durante o processo de diagnóstico, Catarina conta que não se sentiu ouvida: “se for a um médico de família, por exemplo, não valorizam”. Ao sentir-se obrigada a procurar mais informação sobre o assunto de forma independente, Catarina relata que encontrou apoio nas redes sociais: “comecei a encaixar as peças e a perceber que não estou maluca”. Já com uma ideia formada do que podia ter, Catarina conta que teve acesso a profissionais médicos nos distritos de Braga e do Porto e está a ser acompanhada por uma ginecologista especialista na área.

Catarina Pinto tem sintomas de perimenopausa desde os 35 anos. Foto: Sofia Martins/JPN Foto: Sofia Martins/JPN

Ainda assim, Catarina não deixa de recordar o período de “frustração” que passou pelo facto de a menopausa estar associada “às paranóias e maluquices das mulheres”. Chegou mesmo “a procurar um psiquiatra e a tomar medicação”, por achar estava a entrar numa depressão. Contudo, cerca de três meses depois, percebeu que não estava no sítio certo: “estava a ficar apática, estava-me a ajudar a não me preocupar, mas não me estava a ajudar, porque não era esse o meu problema”, lembra.

Relativamente à melhor forma de lidar com a perimenopausa, Catarina elege um equilíbrio entre a espiritualidade e a medicina: “Acredito que é bom nós termos consciência de nós próprias e do nosso poder, mas não devemos ter receio de recorrer aos químicos, porque o nosso corpo evoluiu e a medicina também e se nós conseguirmos recorrer aos químicos para estarmos mais equilibradas, sou toda a favor disso”.

Para as mulheres que estão a passar pelo mesmo que ela passou, a mensagem de Catarina é simples: é importante “estar atenta, valorizar as mudanças e procurar informação”.

Catarina faz ainda referência à importância do espírito preventivo, uma vez que sempre teve “a ideia de que iria ter uma menopausa mais pesada”. “O que estou a pensar fazer é um bom movimento hormonal, tomar vitaminas, algumas coisas que façam falta no meu corpo”, mas, para tal, é essencial um acompanhamento por parte de profissionais de saúde.

O papel dos profissionais de saúde no controlo dos sintomas

Rosália Cubal é medica subespecializada em menopausa. Foto: Rosália Cubal

Rosália Cubal é ginecologista e obstetra, com especialidade em menopausa. Ao JPN, a médica relatou que “na perimenopausa, muitas das vezes, as senhoras têm sintomas que já são muito semelhantes aos da menopausa, como alguns calores esporádicos”. A ginecologista sublinha o caráter ocasional destes sintomas, devido à variação dos “níveis de estrogénio”. “As mulheres podem estar três a seis meses com esses sintomas e depois deixam de os ter, porque entretanto pode vir o período menstrual”, acrescenta a médica.

A médica estima que apenas “2% das mulheres com 35 anos” entrem na perimenopausa. “A partir dos 45 anos, a percentagem já é bastante elevada. Podemos dizer que cerca de 40% das mulheres podem estar na perimenopausa aos 45 anos”, afirmou.

A especialista faz também referência ao impacto psicológico que a perimenopausa pode ter nas mulheres: “nessa altura, elas referem-nos muitas vezes que se sentem mais ansiosas, com irritabilidade, insónias e falta de memória”. Por ser uma condição que afeta tanto o dia a dia das mulheres, a especialista sublinha o quão importante é “fazer uma avaliação completa ao nível analítico”, com o objetivo de verificar “se elas têm todas as vitaminas como devem ter” e “quais as hormonas que lhes estão a faltar”, para que depois seja possível “fazer uma reposição”. Rosália Cubal contou ao JPN que já ouviu vários relatos de mulheres que afirmam que “a vida delas mudou” após “essa reposição baseada no estudo analítico”.

Como forma de controlar os sintomas da perimenopausa, Rosália Cubal relata os benefícios de “medicações de origem vegetal” e reforça a importância dos “cuidados alimentares” e do “exercício físico”. “Eu refiro muito essa situação dos cuidados alimentares, porque muitas vezes os ditos calores estão associados às alterações metabólicas”, afirma a especialista, acrescentando que essas alterações podem ser controladas por uma boa alimentação e por uma boa rotina física. Dentro desta última, a ginecologista recomenda “pilates”, por ser algo que “trabalha o corpo de cima a baixo” e que, por consequência, diminui “dores ao nível da coluna, dos ombros, dos punhos, dos braços, das mãos, das articulações”.

Rosália Cubal alerta ainda para o perigo de saltar para tratamentos precipitados para a fase em que a mulher se encontra: “se essas mulheres ainda tiverem estrogénios, correm o risco de, ao fazer terapia hormonal, ter hemorragias”, adverte.

Tendo em conta que a alimentação é um fator tão impactante durante o período de perimenopausa e menopausa, o acompanhamento por parte de um profissional de saúde na área é algo benéfico para as mulheres.

Joana Pinheiro é nutricionista e contou ao JPN que são cada vez mais as mulheres que procuram nutricionistas com o objetivo de atenuar sintomas do período de perimenopausa e menopausa. Joana afirma que a “área de atuação” da nutrição nestas condições “é imensa”, nomeadamente na procura das “estratégias alimentares” corretas. Os “afrontamentos, suores noturnos, alterações de humor e insónias” são alguns dos sintomas citados pela nutricionista, que afirma que a alimentação pode ter um papel moderador “na questão da alteração hormonal” e do controlo dos sintomas.

Hélio Borges reforça a importância de uma boa comunicação. Foto: Sofia Martins/JPN Foto: Sofia Martins/JPN

A comunicação é chave na vida sexual

“Durante o período de menopausa, a mulher pode não ter a mesma disponibilidade ao nível íntimo”, explica Hélio Borges ao JPN. O psicólogo especialista em sexologia reforçou que, nestes casos, a comunicação entre casais é uma ferramenta-chave. Por detrás desta “indisponibilidade” pode estar aquilo a que os profissionais de saúde denominam de “dispareunias, ou seja, dores na vagina durante as relações sexuais e outro tipo de desconfortos”.

Além disso, o especialista faz ainda referência a casos onde existe “pura e simplesmente, uma ausência de líbido, ou seja, de desejo sexual”. Ainda assim, Hélio Borges faz questão de sublinhar que “a menopausa não afeta a capacidade de a mulher ter prazer sexual, como muita gente, às vezes, acredita. Depende da própria mulher e da forma como ela encara as coisas”.

O psicólogo e sexólogo clínico relata ainda que um impacto que a menopausa pode ter ao nível psicológico é aceitar que a gravidez deixa de ser um cenário possível. “Principalmente se a mulher ainda não foi mãe. A menopausa significa que essa possibilidade vai-lhe ser vedada, pelo menos por vias tradicionais”, conclui Hélio Borges.

Editado por Filipa Silva