Duas manifestações percorreram o Porto, no sábado (8), para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Uma organizada pelo Movimento Democrático das Mulheres e outra pela Rede8M. Ambas reivindicaram melhores condições laborais, o fim da violência contras as mulheres e mais igualdade. Veja as imagens.

Nem a chuva impediu que centenas de pessoas saíssem às ruas do Porto, no sábado (8), para celebrar o Dia Internacional da Mulher, com a cidade a ser palco de duas manifestações.

A marcha organizada pelo Movimento Democrático das Mulheres (MDM) partiu às 15h00, da Praça da Batalha, e terminou na Avenida dos Aliados.

A frase “Só se avança de verdade com direitos e igualdade” deu início a esta manifestação, que contou com a participação de diversas associações e movimentos populares, como o movimento Porta a Porta, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), a União de Sindicatos do Porto (USP/CGTP-IN), entre outros.

A manifestação organizada pelo MDM começou às 15h00, na Praça da Batalha, e terminou na Avenida dos Aliados. Foto: Inês Saldanha/JPN

No ano em que se assinalam 50 anos da primeira manifestação do Dia da Mulher, após o 25 de Abril, a porta-voz do MDM, no Porto, Madalena Castro, referiu ao JPN que, após cinco décadas, ainda há um longo caminho a percorrer.

“É curioso ver que há 50 anos as mulheres reivindicavam melhores salários, uma vida mais justa, a paz, a cooperação, a igualdade, o fim das discriminações. E, 50 anos depois, continuamos aqui a reivindicar o mesmo que as mulheres reivindicavam”, destacou Madalena Castro.

Entre essas reivindicações, o direito a condições de trabalho justas continua a ser uma das principais lutas: “[Reivindicamos] o salário igual para trabalho igual, que ainda não se verifica e a questão dos horários regulados, que não permitem conciliar a vida profissional com a vida familiar”, destaca a porta-voz.

Além disso, Madalena Castro sublinhou a importância da educação sexual nas escolas, do acesso livre e seguro à interrupção voluntária da gravidez e de um acompanhamento digno no parto e pós-parto no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Joana Gomes, 47 anos, contou ao JPN que foi “a lembrança constante de que os direitos das mulheres são facilmente revertidos” que a levou a viajar de Braga até ao Porto para se juntar à manifestação.

A bracarense afirma que ainda falta “atingir a igualdade plena, garantir que os direitos não são uma luta constante, mas um bem estabelecido e normalizado pela sociedade” e alerta que ainda “faltam muitas mulheres atingirem os direitos, que outras já conseguiram, mas que elas ainda não”.

Maria Silva, de 19 anos e membro do Coletivo Feminista da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FEMfdup), realça que, mesmo com os esforços para alcançar um equilíbrio, ainda existe disparidade entre os géneros: “Nas relações entre os casais heterossexuais, por exemplo, ainda se nota muita diferença nas tarefas em casa”, reconhece.

A manifestação organizada pela Rede8M teve início na Praça dos Poveiros, às 16h00, e terminou na Praça D. João I. Foto: Inês Saldanha/JPN

Enquanto a marcha convocada pelo MDM terminava, na Avenida dos Aliados, a manifestação organizada pela Rede8M, que começou por volta das 16h00, na Praça dos Poveiros, preparava-se para avançar em direção à Praça D. João I.

A porta-voz da Rede8M, Catarina Barbosa, explicou ao JPN que, apesar de tentarem juntar-se à manifestação organizada pelo Movimento Democrático das Mulheres, diferenças políticas impediram uma manifestação única: “Há divergências políticas que nos separam e, por isso, decidimos vir separados”.

Apesar dos desacordos ideológicos, a marcha convocada pela Rede8M também contou com uma grande participação, demonstrando que a luta pelos direitos das mulheres continua a unir diferentes grupos e movimentos, mesmo que em manifestações separadas.

Catarina Barbosa refletiu ainda sobre a importância da solidariedade com as mulheres palestinianas, afirmando que a manifestação também se fez em apoio às mulheres que estão a sofrer pelo conflito: “Estamos aqui também em solidariedade com as mulheres palestinianas que estão a sofrer neste momento de genocídio por parte de Israel”, afirmou.

Em declarações ao JPN, Sara Sousa, 28 anos, explicou o que a trouxe para a rua: “Vim sobretudo por causa do bloco da Palestina, para participar nessa parte da manifestação.”

A jovem sublinhou a importância de abordar a guerra como uma questão patriarcal, destacando as dificuldades extremas que as mulheres em Gaza enfrentam: “As mulheres em Gaza, ao longo do último ano e meio, têm dado à luz, sem as mínimas condições, e não têm acesso a produtos menstruais. Além da questão patriarcal na qual a colonização e os genocídios estão assentes, há também essa questão mais concreta e mais material, das condições das mulheres em Gaza, que queremos também trazer à atenção aqui”.

Inês Caldas, 33 anos, também se juntou à manifestação, explicando ao JPN que a razão para estar ali era a urgência de continuar a luta pelos direitos das mulheres. “Eu acho que devemos sair. Se tivéssemos de sair todos os dias, deveríamos sair todos os dias”, afirmou.

Para Inês, a defesa dos direitos das mulheres exige mais do que protestos: “Falta representatividade, falta falar abertamente sobre os assuntos, falta quebrarmos tabus”.

As manifestações não foram apenas uma celebração, mas uma lembrança de que, embora alguns avanços tenham sido feitos, a luta por igualdade e justiça para todas as mulheres continua.

Veja aqui as imagens da reportagem:

Artigo editado por Filipa Silva