Decorre esta terça-feira (11) o debate da moção de confiança ao governo. Em caso de chumbo, está em causa uma ida antecipada às urnas. Sobre a atual crise política do país, a socialista Ana Gomes não tem dúvidas: o responsável “é o primeiro-ministro”.

Ana Gomes

Ana Gomes comenta a atual crise política do país. Foto: Ana Gomes/Facebook

O Parlamento vota esta tarde (15h00) uma moção de confiança que vai ser decisiva para a permanência do Governo em funções. Sobre a iminência de novas eleições antecipadas, Ana Gomes afirma que estas “só vão existir porque o primeiro-ministro quer ir para eleições”.

Em declarações ao JPN, a socialista considera que Luís Montenegro não deu os esclarecimentos necessários sobre as empresas com que trabalhou e que, por esse motivo, não é possível “ter a certeza que não há conflitos de interesse”. Ana Gomes afirma que Montenegro está a evitar “defrontar uma comissão parlamentar de inquérito, porque não quer esclarecer aquilo que tem de esclarecer”.

Quanto à forte possibilidade de ida antecipada às urnas, uma vez que todos os partidos da esquerda e o Chega anunciaram o voto contra a moção, Ana Gomes declara que “ninguém tinha nada a perder com a realização de eleições”. A antiga eurodeputada do Partido Socialista descreve o processo eleitoral como “um método democrático e saudável de resolver problemas” e “uma forma limpa de resolver um impasse que resulta da falta de confiança no atual primeiro-ministro”.

Sobre a decisão de Montenegro poder voltar a liderar o Governo, Ana Gomes revela não estar “propriamente surpreendida” e acrescenta que essa posição “só confirma que há boas razões para desconfiar do primeiro-ministro”. Na base da opinião de Ana Gomes estão as declarações feitas por Montenegro há cerca de um ano, nas quais “impunha critérios aos candidatos do PSD para as autarquias, que não podiam ser arguidos”. Nesse sentido, a comentadora descreve a recandidatura de Montenegro a São Bento como “uma contradição total”, uma vez que o político já afirmou que “mesmo sendo arguido, se candidata”.

Embora não esteja admirada com a recandidatura de Luís Montenegro, Ana Gomes afirma estar “chocada com o facto do PSD aceitar” a decisão do atual primeiro-ministro. “Lamento ver tantas pessoas que respeito no PSD completamente na mão de um primeiro-ministro que não merece confiança”, acrescenta a militante do PS.

No que diz respeito à atuação do Presidente da República durante todo este processo, Ana Gomes defende que Marcelo Rebelo de Sousa “está preso pelas suas próprias contradições e pelas suas anteriores e absolutamente despropositadas dissoluções”. Além disso, a comentadora acredita que o Presidente da República não deveria ter permitido que Montenegro “lhe faltasse ao respeito institucional”, ao convocar uma comunicação ao país sem antes o avisar.

Ainda assim, Ana Gomes elogia a posição de Marcelo em agir rapidamente e concorda que é importante “tirar consequências rápidas do chumbo da noção de confiança que tudo indica que vai ocorrer hoje [terça-feira]”, o que se traduz em “programar eleições no mais curto espaço de tempo possível”.

Quanto à possibilidade de substituição de Luís Montenegro no papel de primeiro-ministro como alternativa à queda de todo o Governo, a antiga eurodeputada do PS afirma que tal só seria viável se o Presidente da República não tivesse rejeitado essa possibilidade no passado, quando o mesmo foi sugerido por António Costa. “Como ele [Presidente da República] não aceitou nessa altura, não me parece curial [conveniente] que ele venha a aceitar agora, ainda por cima porque, nessa altura, o governo do António Costa era um governo de maioria absoluta e este é um governo com uma maioria muito, muito escassa”, conclui Ana Gomes.

Artigo editado por Filipa Silva