Tino de Rans é candidato à Câmara do Porto nas autárquicas de 2025. Promete levar o "Porto a Bom Porto" como forma de agradecer à cidade onde trabalha como calceteiro, "por amor". Em entrevista ao JPN, o candidato falou sobre a infância, a entrada na vida política e o que o leva a avançar com uma candidatura na Invicta.
Vitorino Francisco da Rocha e Silva, mais conhecido como Tino de Rans, é “calceteiro por amor” e gosta de fazer “um bocadinho de tudo”. Nasceu a 19 de abril de 1971, em Penafiel. Abandonou a escola aos 15 anos para iniciar a profissão que mantém até hoje.
Foi presidente da Junta de Freguesia de Rans, no concelho de Penafiel, e duas vezes candidato à Presidência da República. Entrou no mundo da política de uma forma pouco convencional, incentivado pelo irmão. Considera-se um ”homem da cultura”. Autor do livro “A… Corda p’rá Vida”, lançado em 2019, e dos temas musicais “Pão, Pão, Fiambre, Fiambre” e “Fado Calceteiro”, candidata-se este ano à Câmara Municipal do Porto e promete levar o “Porto a Bom Porto”, o seu lema de campanha.
No centro histórico da cidade, partilhou com o JPN a sua história de vida. Quanto às autárquicas 2025 compromete-se a fixar os jovens portuenses na cidade, criando melhores condições para a habitação.
JPN – Como foi a sua infância? Tem memórias marcantes dessa época?
Vitorino Silva (VS) – Estávamos no ano de 1975. Eu sou de uma aldeia do concelho de Penafiel que se chama Rans. Começaram a chegar os primeiros altifalantes a Rans, uns jipes, alguém a falar ao altifalante e [começaram a atirar] panfletos para a rua. Eu estava ao lado da minha mãe, num campo. Vou apanhar um panfleto de um partido político, já não me lembro bem qual era, e vem uma motoreta e atropela-me. A minha grande primeira memória é desse dia, a seguir ao 25 de Abril, em que chegaram os primeiros panfletos a Rans.
Na altura, vivíamos numa casa sem condições, sem casa de banho, sem frigorífico, dormíamos três ou quatro em cada cama. A partir daí, comecei a notar uma diferença: comecei a ver o frigorífico a chegar, comecei a ver um colchão novo a chegar, comecei a tomar banho de água quente. Lembro-me perfeitamente da primeira televisão. Valeu a pena ter dado aquele tombo. Quero agradecer àquela gente que me permitiu ser curioso. Foi a partir daí que comecei a gostar da democracia e a perceber o que era a democracia. Nós podemos cair, mas também podemos ser levantados. A minha mãe, na altura atrapalhada, levantou-me e disse: “Ó rapaz, já sabes cair. Da próxima vez que caíres, olha que eu não te levanto, ainda levas por cima.” Aí, percebi que é preciso muito cuidado ao andar no meio da política.
JPN – Que planos tinha para o futuro na juventude?
VS – Eu fiquei sem pai quando tinha nove anos de idade. Foi muito, muito duro. Fui uma criança que teve a sorte de ser criança no tempo certo. A nossa mãe, mesmo ficando viúva com oito filhos muito cedo, sempre nos deixou ser crianças no tempo certo. Continuo a ser uma criança feliz, porque nunca perdi essa criancice que há em mim. [Essa] é a beleza do Tino mesmo como político, as pessoas gostam desta pureza. Há dias achei muita graça quando tentei pesquisar na Inteligência Artificial (IA) o que era o Tino e a IA respondeu-me que o Tino é tudo menos artificial. É disso que eu gosto: da minha meninice, da minha autenticidade e transportei a minha meninice até aos dias de hoje.
Continuo a ser uma criança feliz, porque nunca perdi essa criancice que há em mim.
JPN – O que é que o Tino de hoje diria ao Tino de 20 anos?
VS – “Sê tu próprio”. Claro que muitas vezes queria pedir um conselho ao meu pai e o meu pai já não estava cá. Deixei de perguntar [aos outros], porque ninguém me responderia o que o meu pai me responderia.
O que eu diria ao Tino de 20 anos seria: “sempre que precisares de te adaptar, adapta-te, porque se souberes onde estás, sabes onde vais. Nunca percas o tino, nunca percas o rumo. Sempre com um pé à frente, outro atrás e sempre com a noção do que é o equilíbrio. Podes ir à direita, podes ir à esquerda, mas nunca ir para a valeta ou até bater no muro”. Fugir dos extremos. Fugir dos declives. Foi essa a minha grande preocupação nestes anos todos. Muita gente da minha idade ia para a droga e para os maus caminhos. Eu tentei sempre nunca tocar nos extremos.
JPN – Que ferramentas lhe dá a profissão de calceteiro para aplicar na política? Considera que essa experiência lhe trouxe competências importantes para esta área?
VS – Permite-me estar bem preso à terra. Um calceteiro está com os pés e com as mãos a mexer na terra. A energia vem do interior da terra. Tenho uma grande vantagem, porque o meu gabinete é a rua. E [o meu gabinete] nunca está à mesma temperatura. Gosto do meu gabinete em janeiro, quando está um frio de rachar, e também gosto do meu gabinete em agosto, quando está calor. Gosto de tirar a camisola, gosto de trabalhar debaixo das árvores.
A minha arte permite fazer uma coisa que gosto muito, que é pensar. Enquanto trabalho com o corpo, liberto a cabeça. É por isso que gosto de ser calceteiro. Sou calceteiro por amor. Nunca encontrei duas pedras iguais. Tenho a certeza de que quando encontrar duas pedras iguais, pousarei o martelo e deixarei de ser calceteiro. Enquanto trabalho com o corpo, de vez em quando, tenho ideias e anoto-as. Não me posso esquecer que tenho cinco livros publicados e muitos deles saíram quando estava a calcetar.
Sou calceteiro por amor. Nunca encontrei duas pedras iguais. Tenho a certeza de que quando encontrar duas pedras iguais, pousarei o martelo e deixarei de ser calceteiro.
JPN – Diz que o seu gabinete é a rua. Como é que as suas origens e as pessoas que o rodeiam influenciaram os seus ideais?
VS – Fui para a política numa morgue de um hospital. Nunca pensei ser presidente da Junta [de Rans]. Na altura tinha um irmão, o Neca. Era um visionário que em 1992, numa noite de Natal, olhou para o mapa de Portugal e só via as terras grandes: só via o Porto, Lisboa, Coimbra. Ele pegava na lupa e, mesmo com uma lupa, não conseguia ver as terras pequenas. As terras pequenas não estavam no mapa. Ele gostava muito de Rans e entendia que era possível pôr Rans no mapa. Disse-me: “tu és a única pessoa capaz de pôr Rans no mapa. As terras pequenas também cabem no mapa”. Na altura, ri-me. Não acreditava nele. Pensava que ele estava na brincadeira. Só que, entretanto, o Neca morreu de acidente, no dia 5 de Janeiro de 1993. Fui à morgue do hospital Penafiel, olhei para ele e disse: “vou pôr Rans no mapa”.
Entrei na política de uma forma muito diferente. Muita gente entra na política porque são filhos de políticos, porque vão à procura de emprego. Eu não. Calhou. Ia a passar e a política apanhou-me com unhas e dentes. Acho que a política gosta de me ver ali no meio e acho que faço falta à política. Faço política por missão.
Eu não me posso esquecer que fui presidente da Junta [de Rans] e a primeira obra que fiz foi uma rampa. Havia um rapaz, que era o Américo, que ficou em cadeira de rodas e ele gostava muito de ir para o campo de Rans. No campo de Rans havia um degrau para entrar para a sede. E na altura custava-lhe muito estar sempre a pedir ajuda. Apercebi-me e acho que foi a obra mais importante e a mais simples que fiz como político.
Há muita gente que vai para a política para fazer grandes obras. Às vezes, as obras tão pequeninas, tão simples, são aquelas mais próximas das pessoas. Podia não ter feito mais nada, mas ajudar uma pessoa a subir melhor uma rampa, para mim, já é muito.
A minha mãe, que era analfabeta, só sabia ler duas tabuletas: a placa de Rans quando entrava em Rans e quando saia de Rans. Ela gostava muito de viajar. Gostava de ir aos passeios na camioneta, e eu, às vezes, ia com ela, e ela ia sempre ao lado da janela. Quando ela entrava numa terra muito populosa perguntava-me: “rapaz, que terra é esta?” Eu dizia-lhe, mas dizia-lhe muito triste, porque tinha pena, tinha desgosto, de a minha mãe não saber ler uma tabuleta. Mas eu dizia-lhe com todo gosto, queria que ela soubesse onde estava. Quando fui presidente da Junta [de Rans], a segunda obra que fiz foi uma escola para as pessoas que não sabiam ler nem escrever, e a minha mãe foi para a escola aos 61 anos, em 1994. Um dia, a jornalista do JN, a Isabel Peixoto, foi fazer uma entrevista à escola da minha mãe, e ela perguntou-lhe qual foi a coisa mais importante que aprendeu na escola. Ela respondeu: “ó menina, agora, onde quer que esteja, já sei onde estou”, porque já sabia ler mais do que duas tabuletas. É isso que eu tenho neste mundo, como político. Acho que a política precisa de tempero e tem de ser temperada por estas histórias tão próximas de nós, tão óbvias, mas que, às vezes, estão tão perto e nós não as conseguimos ver.
Há muita gente que vai para a política para fazer grandes obras. Às vezes, as obras tão pequeninas, tão simples, são aquelas mais próximas das pessoas.
JPN – Já concorreu a várias eleições ao longo dos anos. O que o motiva a continuar a querer estar na política?
VS – Eu costumo dizer, nos meus discursos: o meu povo, a minha gente, a minha população, a minha terra. A natureza nunca processou nenhum político. Há políticos que são muito maus para a natureza e não pensam nela. Eu nasci em 1971 e nasci na muche. Nasci no ano em que queria nascer. Tenho pena que nós não deixemos este planeta como nos deixaram em 1971 porque nós estamos a ser muito mauzinhos para o planeta, e eu tenho a certeza que quero que as pessoas que nasçam daqui para a frente também digam com muito orgulho que nasceram na muche. Eu não gostava de ter nascido dez anos antes, nem gostava de ter nascido dez anos depois. Considero-me metade urbano, metade rural e não quero perder essa essência.
JPN – Disse que um homem culto é aquele que faz um bocadinho de tudo. Como é que surgiu este envolvimento na música e na escrita? Como concilia todos os seus interesses?
VS – Gosto de experimentar um bocadinho de tudo. Se tiver de fazer uma música, subir ao palco do Coliseu, passar uma mensagem, dar alegria às pessoas e perceber que as pessoas estão felizes quando me estão a ver em cima do palco, se tiver de escrever um livro e se perceber que as pessoas estão felizes ao lerem a história, faço-o.
Não faço nada para ser o melhor, para ter estátuas. A minha estátua é poder contribuir no dia a dia, e adaptar-me sempre. Carregar a cultura às costas. As pessoas conhecem-me como político, mas o político representa 1% da minha vida. Quero ficar conhecido na história como o pai da Catarina. Tenho a certeza de que as pessoas não se vão lembrar que fui presidente da Junta [de Rans], que concorri à Câmara do Porto, que publiquei livros, porque sei que a luz a mais também queima.
Os mais difíceis de conquistar são a família, porque os outros são muito mais fáceis de conquistar. [A minha família] esteve sempre ao meu lado nas vitórias, mas estiveram ainda mais presentes nas derrotas e ficariam tristes se algum dia eu desistisse por ter perdido.
Até hoje, nunca houve ninguém que conseguisse deitar-me abaixo e fazer com que eu desistisse, porque quando arranco, arranco sozinho, mas já estou a ver a meta. Às vezes, a meta está muito longe, mas eu nunca arranco sem ver a meta. Consigo ver aquilo que ninguém vê porque eu não olho para onde todos olham. Gosto de ir atrás do pormenor e poucos são aqueles que reparam no pormenor. O pormenor é que faz a diferença.
As pessoas conhecem-me como político, mas o político representa 1% da minha vida.
JPN – O que é que o leva a candidatar-se à Câmara Municipal do Porto?
VS – O Porto ajudou-me muito. O Porto acreditou em mim quando ninguém acreditava. Hoje, sou um nenúfar, não preciso que me reguem. [A candidatura] é a minha paga ao Porto por aquilo que o Porto me deu. A minha filha estudou nas melhores faculdades e na melhor escola.
Uma vez eu queria emigrar, e nunca mais me esqueço, na altura os meus irmãos emigraram quando veio a troika. A minha filha tinha nove ou dez anos e fui pedir-lhe um conselho. Ela conseguiu demover-me. Hoje, passado muito tempo, agradeço à Catarina por ter feito isso, porque se eu emigrasse, não via a minha filha crescer, distraía-me.
Conheço o Porto. Posso não conhecer as ruas todas, mas conheço as zonas todas, as casas. Posso não saber qual é o nome daquela rua, mas conheço muita gente do Porto, ando aqui no meio deles há muito tempo e costumo dizer que não preciso de GPS. Tenho também uma certa experiência. Fui candidato a Presidente da República duas vezes e acho que posso acrescentar algo ao Porto, que posso ajudar o Porto a evoluir, ajudar a que o Porto não perca esta autenticidade.
Eu vejo muita gente do Porto que teve que sair daqui e saem tristes. Uns porque vão trabalhar, outros porque não têm condições para ter casas aqui. O Porto é uma porta de entrada e quando digo que o Porto é nosso, ninguém escolhe a terra para nascer, mas podemos escolher esta terra para viver. Acho que todas as pessoas que querem viver no Porto devem ter esse direito e há muita gente que não vive no Porto porque não pode. Nós, os políticos, não criamos condições para que eles se possam fixar.
JPN – O que é o Presidente da Câmara “do povo” tem que os outros candidatos não têm? O que é que o diferencia?
VS – Toda a gente sabe que têm ali uma pessoa para os ouvir e que têm ali um amigo, porque um político não pode ser só político junto do povo na altura das eleições. Ando no meio do povo desde que me conheço e nunca me escondi do povo.
JPN – O que é que achou do trabalho feito por Rui Moreira nestes 12 anos?
VS – O Rui Moreira é o meu presidente. Não vou ser adversário do Rui Moreira porque na democracia os votos chegam para todos. É uma pessoa por quem eu sempre tive muito respeito e tenho a certeza absoluta de que muita gente que votou no Rui Moreira vai votar no “Porto a Bom Porto”, porque até temos algumas parecenças, gostamos muito da cultura. Se um dia eu for presidente da Câmara e lhe pedir um conselho, ele vai estar pronto, com as portas abertas, para me ajudar a ajudarmos o Porto, porque estamos em sintonia. Somos duas pessoas que podemos acrescentar saberes diferentes. Ninguém sabe de tudo, mas ele sabe de coisas que eu não sei e que lhe vou pedir e ele também sabe que sempre que precisar de coisas que eu sei, vou pôr o meu saber ao dispor dele também. Sempre me recebeu bem e não me posso esquecer que quando fui candidato a Presidente da República, ele me abriu os Paços do Conselho. Pôs-me a mesma passadeira que se usa quando vem o Papa ou um presidente de um país estrangeiro. Esta candidatura nunca será contra ninguém, é uma candidatura da democracia, é um direito que tenho, é um movimento em movimento.
Esta candidatura nunca será contra ninguém, é uma candidatura da democracia, é um direito que tenho, é um movimento em movimento.
JPN – Na sua opinião, o que é que precisa de ser urgentemente mudado no Porto?
VS – O primeiro passo é não perdermos esta gente e estes jovens. Estamos a cavar a nossa própria terra. Os jovens estão uma geração à frente.
Gosto muito da palavra oportunidades e, primeiro, é preciso captar os nossos jovens. Os nossos jovens estão bem formados, pelos melhores professores, nas melhores faculdades, e quando vão para fora são os melhores. Nós podemos “cavar” o nosso Porto, fixar a nossa gente, as nossas qualificações, fazer com que os nossos portuenses não saiam. Quero que toda a gente do Porto goste de viajar, mas também, que goste de ficar. Não estou a dizer que temos que obrigar toda a gente a ficar mas, se as pessoas quiserem ficar, criar condições para que elas possam ficar. Temos de nos adaptar.
Nós podemos “cavar” o nosso Porto, fixar a nossa gente, as nossas qualificações, fazer com que os nossos portuenses não saiam.
JPN – Qual seria a primeira medida que gostaria de implementar sendo eleito?
VS – Eu sou um homem da cultura. Queria mesmo investir fortemente na cultura e mostrar o Porto aos portuenses, porque há muita gente que mora no Porto e que não conhece o Porto. A melhor forma de mostrar o Porto aos portuenses é através da cultura. Claro que quero melhores condições de mobilidade, claro que quero mais metro, investir nos campeões olímpicos.
Sou o artista que tem a melhor tela do mundo. Quero ser candidato para agradecer ao Porto aquilo que fez por mim. Permitiu-me que eu, ao ficar aqui, não emigrasse e que visse a minha filha crescer e evoluir. Sinto muito orgulho, porque sei que a minha filha não foi órfã de pai vivo. Hoje em dia há muitos jovens que são órfãos de pais com os pais vivos, porque às vezes a sociedade, a economia, faz-nos ter que emigrar à força e perde-se muito. Quero agradecer ao Porto por me ter conseguido prender este tempo todo. Gosto muito de estar preso ao Porto.
JPN – Diz que um dos seus objetivos é fixar os jovens na cidade e promover a habitação a preços acessíveis. Como é que pretende fazer isto acontecer?
VS – Às vezes, não é preciso uma casa muito grande. Casas grandes fazem muitas casas pequenas porque as casas pequenas são muito mais fáceis de encher.
Uma das grandes medidas que eu tenho é que das casas grandes, quero fazer casas pequenas. Que aquelas casas pequenas possam ser preenchidas por aquela gente que não quer deixar o Porto. O Estado tem aí muita casa de vago. Nas casas pequenas, as pessoas estão mais próximas. Há casas muito grandes em que vivem três ou quatro pessoas e o pai está numa divisão da casa, a mãe está na outra, o filho está na outra e estão tão longe uns dos outros e às vezes, as pessoas nem se apercebem que enquanto família podem estar mais próximas.
JPN – Já tem um programa eleitoral pensado? Que medidas destaca nesse programa?
VS – Não, não tenho. O Porto já não precisa de grandes obras. O Porto precisa de defender a sua marca, o nosso bairrismo, os nossos produtos. Dar importância aos sentidos, o cheiro do Porto, a brisa do Porto, o som do elétrico que é nosso, aquela banca do peixe no Bolhão, aqueles pregões. Isto também tem de ser defendido, porque daqui a uns anos ninguém vai saber fazer um pregão, ninguém vai saber cortar o peixe como elas [as vendedoras], cortam. Nós, do antigo podemos fazer o novo e não temos de ter vergonha de defender o antigo, nem que seja à base de as pessoas terem que ser ajudadas. O pequeno peixe tem de ser ajudado.
O Porto precisa de defender a sua marca, o nosso bairrismo, os nossos produtos.
Tino de Rans Raquel Sousa/JPN
JPN – O RIR [Reagir, Incluir, Reciclar] diz não ter sido informado da sua intenção de candidatura à Câmara do Porto. Por que motivo não se candidata pelo partido que fundou?
VS – Fui o fundador do RIR, é como um filho e tenho muito orgulho no RIR. Gosto muito dos partidos, mas também gosto de movimentos independentes e movimentos independentes podem ser apoiados por partidos, o que é o caso. Na altura, queria falar com a presidente [do RIR], porque queria lançar o movimento no dia 31 de Janeir,o que é um dia especial para o Porto. Tentei falar, mas a Presidente não estava e tinha de ser naquele dia, porque se não fosse naquele dia, eu não ia apresentar (a candidatura) no dia 31 de Janeiro do ano que vem, porque as eleições já teriam passado. O RIR apoia-me e isto é um ponto assente. Há movimentos independentes que concorreram com partidos, não está nada posto de parte. O RIR apoia, a presidente apoia, só que eu tinha o direito de apresentar naquele dia, que era o dia que eu queria. Tenho o direito de ter o apoio do RIR, mas também tenho de alargar [o movimento], porque acho que vou ter muita gente do RIR que me apoia, mas também não quero só os votos de quem vota RIR. Há muita gente que não vota no RIR normalmente e que vai votar no “Porto a Bom Porto” e vou fazer de tudo para levar o “Porto a Bom Porto”.
JPN – Sabemos que o lema da sua campanha é “Porto a Bom Porto”. De uma forma curta, como é que se faz isso?
VS – No fundo é ouvir esta gente que tem muito para nos ajudar a levar o “Porto a Bom Porto”. Vou ser a ponta da seta, mas tenho a certeza absoluta de que vai haver muita gente que me quer ajudar a ter um tiro certeiro. Eu posso ir em cima do andor, mas tenho a certeza que vai haver muita gente que não me vai deixar cair. Quando fui presidente da Junta de Rans, pus Rans no mapa, e agora posso pôr os portuenses todos no mesmo mapa.
JPN – Qual é a promessa mais realista que pode fazer aos portuenses?
VS – O Porto é a segunda cidade do país. O dinheiro do Estado muitas das vezes não chega ao interior. A promessa mais realista é que quando tivermos de dividir [os apoios do Estado] pelo Porto, que chegue por igual ao Porto todo. É regar o Porto todo para que não haja grandes diferenças.
Uma coisa que se nota é que há no Porto muitas diferenças. A Foz é diferente de Campanhã. Há várias realidades. Quero que não se notem tantas diferenças, tentar que seja mais homogéneo, que as pessoas do Porto sejam todas do Porto, independentemente de serem de zonas mais periféricas ou menos periféricas.
Quero que não se notem tantas diferenças, tentar que seja mais homogéneo, que as pessoas do Porto sejam todas do Porto, independentemente de serem de zonas mais periféricas ou menos periféricas.
JPN – Tendo em conta a possibilidade de eleições antecipadas em maio, considera uma hipótese entrar novamente na corrida à Assembleia da República?
VS – Não vou ser candidato, porque não sei se há eleições, mas se houver, com certeza que o RIR se vai apresentar em todos os círculos. Ainda não decidimos quem é que vai ser candidato, agora que o RIR vai a votos, vai a votos em todos os círculos e tem todo o meu apoio. Estou ao serviço do partido. Agora, eu não posso estar a falar de uma coisa que ninguém sabe. As pessoas não votam nos partidos, votam nas pessoas. O “Porto a Bom Porto” é um movimento de pessoas e eu, se quiser ser candidato à Assembleia da República sozinho, não posso porque a nossa Constituição não o permite, o que está mal feito. Porque é que os partidos políticos têm o monopólio das candidaturas à Assembleia da República? Se um dia o RIR tiver deputados [na Assembleia], vai fazer de tudo para que os movimentos independentes também possam concorrer a deputados. Eu criei um partido político para poder lutar de igual para igual, senão, nunca na vida tinha sido candidato. Não se sabe se o governo vai cair mas a única coisa que posso garantir é que se o RIR for a votos, vai em todos os círculos. É ponto assente que o Porto a Bom Porto vai a votos no Porto e é ponto assente que se o Governo cair, o RIR vai a votos nos 22 círculos.
Como com Tino de Rans as conversas nunca ficam bem fechadas, ainda houve tempo, no final da entrevista, para contar ao JPN alguns episódios caricatos, como um que envolveu o seu clube de eleição e o seu ex-presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa.
Editado por Filipa Silva