No julgamento da Operação Pretoriano, André Villas-Boas acusou a antiga administração do FC Porto de lesar o clube em milhões de euros devido à falta de regulamentação no financiamento das claques. O presidente dos dragões terá de voltar a tribunal para ser confrontado com um vídeo.

André Villas-Boas, presidente do FC Porto, criticou, esta quinta-feira (20), durante a terceira sessão do julgamento da Operação Pretoriano, a falta de regulamentação no financiamento das claques do clube, durante a liderança de Pinto da Costa, defendendo que os novos estatutos trouxeram maior transparência nesse processo.

No Tribunal de São João Novo, no Porto,  o líder do clube afirmou que a revisão do protocolo feita pela nova administração, após a sua entrada no clube, revelou a existência de privilégios não oficializados, o que resultou em prejuízos de vários milhões de euros. “Nós revimos o protocolo após a nossa entrada e havia uma série de privilégios que não estavam contemplados. O FC Porto foi lesado em vários milhões de euros, porque o protocolo era praticamente inexistente”, acusou Villas-Boas.

Novos estatutos limitariam direitos dos associados

Villas-Boas apontou ainda outras razões para se opor à alteração dos estatutos, cuja discussão esteve no centro dos desacatos que marcaram a Assembleia Geral de novembro de 2023, que está no centro da Operação Pretoriano. Segundo o antigo treinador dos dragões, a mudança retiraria direitos aos sócios e, a poucos meses das eleições – marcadas para abril de 2024 – introduzir o voto eletrónico e de correspondência, tornaria o processo eleitoral mais complexo e difícil de gerir.

Villas-Boas também mencionou a existência de negócios familiares, em mais uma referência ao anterior presidente dos dragões, afirmando que é algo “amplamente conhecido, como foi revelado” na auditoria que solicitou depois de assumir a liderança.

Além disso, criticou a possibilidade de se poder começar a fazer cooptação de um novo membro da direção sem ato eleitoral, o que “prevaricava com o novo ato eleitoral, daí o movimento orgânico e massivo dos sócios”.

Villas-Boas terá de regressar a tribunal para ser confrontado com vídeo

Cristiana Carvalho, advogada de Fernando Saúl, solicitou a inclusão de um vídeo no processo, no qual, alegadamente, Villas-Boas incentiva as pessoas a participarem nas eleições de abril de forma irregular. No vídeo, o presidente dos dragões terá dito que, caso alguém estivesse impossibilitado de votar, pedisse a outra pessoa para votar em seu lugar. Este pedido da defesa de Fernando Saul surgiu depois de Villas-Boas ter negado ter feito tal apelo, o que levou a advogada de Fernando Saúl a requerer que o presidente “seja confrontado [com o vídeo] para disputar qual a diferença entre uma citação e outra”.

A procuradora do Ministério Público discordou e opôs-se ao pedido, argumentando que o vídeo se referia às eleições de abril de 2024, que terminaram com a vitória de André Villas-Boas sobre Pinto da Costa, e não à Assembleia Geral de novembro de 2023. Além disso, destacou que a advogada já tinha conhecimento do vídeo, tornando o pedido de inclusão como prova “extemporâneo”, uma vez que já tinha confrontado o arguido com o conteúdo, anteriormente.

A advogada do FC Porto partilhou da mesma posição que a magistrada e também se manifestou contra a inclusão do vídeo no processo. “No limite, pediria prazo para se pronunciar”, declarou Sofia Ribeiro Branco. Por outro lado, o advogado de Vítor Aleixo e Vítor Oliveira não se opôs à junção do vídeo, argumentando que seria útil utilizá-lo para confrontar o assistente.

A juíza Ana Dias concedeu à advogada Sofia Ribeiro Branco o prazo de cinco dias para a revisão solicitada. “Peço desculpa, senhor Villas-Boas, mas terá de retornar ao tribunal”, informou a juíza.

Assembleia Geral do FC Porto na origem do julgamento

O processo envolve Fernando Madureira, ex-líder dos Super Dragões, Sandra Madureira, Vítor Catão e outros nove arguidos, que respondem por crimes alegadamente cometidos durante a Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto que se realizou a 13 de novembro de 2023.

Na sessão desta quinta-feira, o presidente do clube destacou que, na Assembleia Geral, pessoalmente, apenas testemunhou o rebentamento de petardos quando chegou ao Estádio do Dragão: “o resto chegou-me por relatos de pessoas ou pela comunicação social”. Acrescentou ainda que havia uma forte mobilização associativa, algo que considerou positivo: “não posso dizer que presenciei momentos de grande agressividade, além do rebentamento dos petardos”.

De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), este processo investiga uma eventual tentativa da claque Super Dragões de instaurar um ambiente de intimidação e medo durante a Assembleia Geral, onde ocorreram vários incidentes e agressões. O objetivo seria garantir a aprovação da revisão estatutária, “do interesse da direção” azul e branca, antes sob a liderança do ex-presidente do clube Jorge Nuno Pinto da Costa.

Fernando Madureira, ex-líder dos Super Dragões, que se encontra em prisão preventiva, assim como Sandra Madureira, Vítor Catão, Hugo “Polaco” e Fernando Saúl, estão, juntamente com os restantes arguidos, acusados de vários crimes. Entre eles, sete de ofensa à integridade física em contexto de espetáculo desportivo, 19 de coação e ameaça agravada, um de instigação pública a um crime, um de arremesso de objetos ou líquidos e três de atentado à liberdade de informação. O arguido Hugo Loureiro responde ainda por posse de arma proibida.

Na acusação, o Ministério Público solicita como pena acessória que os arguidos sejam proibidos de entrar em recintos desportivos por períodos que variam entre um e cinco anos.

Editado por Filipa Silva