O Roomie é um agente virtual criado e lançado pela Rumo, uma plataforma portuguesa composta por profissionais na área da saúde mental. A nova ferramenta de inteligência artificial foi criada em 2022. Francisco Valente Gonçalves, diretor da Rumo, sublinha que "a ferramenta não substitui um psicólogo".

O Roomie é o único chatbot português com recurso a IA na área da saúde mental. Foto: Liliana Silva Costa/JPN

Mais de cem pessoas de pelo menos sete países já utilizaram o Roomie, uma ferramenta de apoio psicológico online, com recurso a inteligência artificial, que foi criado há cerca de dois anos pela Rumo, uma plataforma portuguesa, criada em 2017, com o objetivo de promover e facilitar o acesso a serviços de saúde mental.

O Roomie é o assistente virtual da plataforma, que tem a missão de complementar a ação dos profissionais: “A ambição não é a substituição, é a complementaridade”, explica Francisco Valente Gonçalves, psicólogo clínico e diretor da Rumo. Segundo o responsável, o chatbox consegue auxiliar os profissionais, através do recurso a mais informação sobre um determinado assunto e do desenho de “estratégias que complementam o trabalho que está a ser feito”.

Na altura do lançamento, em 2022, o Roomie não foi muito bem recebido nas redes sociais e Francisco Gonçalves admite que pode ter havido um erro na comunicação, que fez com que as pessoas tirassem conclusões precipitadas. “Parece que não ficou bem claro que a ferramenta não substitui um psicólogo, a ferramenta não vai fazer psicoterapia, mas consegue fazer algumas coisas que um psicólogo poderá fazer, nomeadamente, responder a uma pergunta sobre mais estratégias para trabalhar a ansiedade, às quatro da manhã, quando o psicólogo está a dormir”, argumenta o diretor da Rumo.

Francisco Valente Gonçalves sublinha que a criação do Roomie é um resultado de várias atividades de investigação científica. O psicólogo afirma que após realizar testes com mais de 130 pessoas, a equipa não encontrou “diferenças significativas entre as respostas que foram dadas pela máquina e as respostas que foram dadas por psicólogos humanos”. Além disso, há cinco profissionais na área da saúde mental envolvidos no projeto da ferramenta, todas com “mais de dez anos de experiência em consultório clínico.”

Apesar de ter sido lançada há dois anos, o Roomie ainda se encontra em fase de testes e o diretor da Rumo adianta que “eles vão sempre continuar a ser feitos”. Ainda assim, Francisco Valente Gonçalves acredita que, até ao final deste ano, a primeira e segunda fases do período de testes, que incluem também a formação de profissionais de saúde, já estarão terminadas.

Portugal, Noruega, Holanda, Brasil, Alemanha, Suíça e Inglaterra são os países de origem dos que já recorreram à ferramenta virtual da Rumo.

O “estigma” da tecnologia

O diretor da Rumo acredita que a receção mais crítica das pessoas numa fase inicial se deveu ao “grande desconhecimento” e ao “grande estigma à volta das tecnologias”. Francisco Valente Gonçalves defende que “poderia ser interessante promover a curiosidade antes de incitar a rejeição”. Ainda sobre o avanço tecnológico, o psicólogo acrescenta: “É muito curioso que nós não somos nada curiosos para com as máquinas e as máquinas são muito curiosas para connosco.”

Nesse sentido, o psicólogo sublinha que uma outra conclusão da fase de testes foi a “limitação [demonstrada pelas pessoas envolvidas nos testes] na literacia em inteligência artificial e em ferramentas de IA aplicadas à área da saúde, em particular da saúde mental”. Por esse razão, o diretor da Rumo declarou que a equipa está a pensar organizar, “em colaboração com uma empresa de tecnologias”, “um curso de inteligência artificial para psicólogos“.

Quanto à credibilidade e segurança do novo agente virtual, Francisco Valente Gonçalves garante que a Rumo cumpre todas as normas exigidas. “Aquilo que podemos dizer é que nós, no trabalho que fazemos, seguimos todas as boas práticas que são tidas em consideração, quer seja ao nível deontológico, da Ordem dos Psicólogos e da Entidade Reguladora da Saúde, quer ao nível legal, com os vários regulamentos, afirma o psicólogo clínico.

Ainda assim, o cofundador da Rumo tem noção de que, como com qualquer ferramenta online, há sempre riscos relativos à segurança – “dizer que nunca na vida vai haver uma violação de dados, qualquer que seja a ferramenta, é utópico”, afirma –, contudo, assegura que “há um consentimento informado assinado entre as partes.”

Saúde mental acessível

A Roomie é uma das ferramentas da Rumo, uma plataforma online que, na origem, queria chegar, maioritariamente, à população em mobilidade. Emigrantes e pessoas em situação de crise, como vítimas de atentados terroristas e de catástrofes naturais, são alguns exemplos de utilizadores da plataforma.

Em 2020, com o surgimento da Covid-19 e dos períodos de quarentena, a Rumo alargou os serviços a todos aqueles que quisessem cuidar da sua saúde mental, tanto ao nível psicológico, como psiquiátrico.

Desde 2017, a Rumo já trabalhou com mais de 65 mil pessoas em cerca de 35 países. Segundo Francisco Valente Gonçalves, o principal objetivo da iniciativa é assegurar que “todas as pessoas possam ter acesso a algum tipo de serviço na área da saúde mental”.

O psicólogo clínico sublinha ainda que a missão da Rumo passa também por “desenvolver serviços, ferramentas e metodologias para os psicólogos que estão em formação poderem estar mais bem preparados para o futuro, que está a mudar constantemente, quer seja ao nível social, quer seja com a evolução tecnológica.”

Francisco Gonçalves tem conversado com o Roomie em contexto de podcast, para desmistificar a ferramenta:

Editado por Filipa Silva