Ekrem Imamoglu foi detido na quarta-feira (19) por acusações de corrupção e terrorismo. Já são seis dias de protestos massivos e cerca de 1.133 detidos.

Ekrem Imamoglu está detido desde a última quarta-feira (19) e sua prisão gerou manifestações em toda Turquia Foto: Orhan ErkılıçCreative Commons

Já são seis dias de protestos e milhares de detidos na Turquia por conta da prisão do presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu. O autarca, que é considerado o mais provável opositor de Erdogan nas próximas eleições presidenciais, foi detido na última quarta-feira (19) sob acusação de corrupção e terrorismo. Desde então, uma multidão de turcos tomou as ruas de várias cidades do país em apoio ao político.

Imamoglu foi detido na última semana acusado de uma série de crimes, entre eles, liderança de organização criminosa, corrupção, ligação ao terrorismo e fraude em concursos. Entretanto, ainda não foram apresentadas provas concretas dos crimes.

Na última terça-feira (18), um dia antes de ser detido, Imamoglu viu o seu diploma na Universidade de Istambul ser anulado por supostas irregularidades. Por conta disso, fica impedido de concorrer às eleições presidenciais, visto que a constituição turca exige um diploma universitário aos concorrentes. O Partido Republicano do Povo (CHP), de Imamoglu, e parte do país consideram o movimento como uma tentativa de golpe contra o protocandidato à presidência.

O autarca foi ouvido em tribunal no sábado à noite (22) e teve prisão preventiva decretada. O juiz do caso recusou a acusação de ligação ao terrorismo, mas aceitou as relativas a corrupção, e afirmou, também, que há “provas robustas” quanto aos factos.

Protestos

Nos últimos dias, foram realizados protestos diariamente por toda a Turquia em apoio ao político. Em Istambul, uma multidão concentrou-se em frente à Câmara Municipal e na praça Taksim a pedir a liberdade imediata do autarca. Vários políticos discursaram à população e houve muitas ocorrências de violência policial. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram uso excessivo de gás de pimenta e agressões a manifestantes caídos no chão. De acordo com as autoridades, pelo menos 1.133 manifestantes foram presos.

A onda de protestos atingiu também algumas universidades, onde as aulas foram interrompidas por movimentos estudantis e os campi foram ocupados. Na segunda-feira (24), a Universidade de Istambul foi alvo de um boicote dos estudantes e houve uma grande manifestação por conta da anulação do diploma de Imamoglu.

“Quem ganhar Istambul, ganhará a Turquia”

A frase, que ganha novos contornos com os acontecimentos mais recentes, foi dita pelo atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan em 1994, logo após conquistar o cargo de presidente da Câmara da cidade pela primeira vez. Desde então, a ideia virou uma máxima no país. Imamoglu venceu as eleições em Istambul em 2019 e, assim, acabou com a hegemonia dos partidos políticos ligados a Erdogan, que comandavam a cidade desde a subida do atual presidente ao poder, na década de 1990.

A vitória de Imamoglu em Istambul foi considerada uma grande derrota para o atual presidente. Além disso, o ganho constante de popularidade do opositor é visto como grande ameaça ao poder de Erdogan. As próximas eleições presidenciais decorrem apenas em 2028, porém, as primárias do CHP aconteceriam em poucos meses e Imamoglu era apontado como o mais provável candidato à presidência pelo partido.

Na sequência da detenção do candidato, o CHP organizou as primárias do partido com caráter de urgência e instalou urnas por toda a Turquia. As votações aconteceram durante todo o dia de segunda-feira, 23, e, de acordo com o presidente do partido, Özgür Özel, Imamoglu recebeu quase 15 milhões de votos.

Uma semana depois do início do caso, a situação mantém-se tensa no país. Os protestos continuam em vários locais e o partido de Imamoglu continua a convocar movimentações populares. O CHP prometeu divulgar nesta quarta-feira uma lista oficial de marcas a boicotar por apoiarem o atual governo.