Em entrevista ao "JN" e "O Jogo", o presidente do FC Porto opinou sobre a forma atual da equipa e definiu o futuro de Anselmi. Falou também de Pinto da Costa e das finanças do clube.

André Villas-Boas tratou dos assuntos mais atuais e projetou o futuro do clube Foto: Filipa Silva/JPN

Prestes a completar um ano no comando do FC Porto, André Villas-Boas concedeu uma grande entrevista aos jornais “JN” e “O Jogo”. Na entrevista publicada nesta quarta-feira (26), o dirigente portista falou sobre diversos temas da atualidade do clube, como a troca de treinadores, finanças, a reestruturação do clube, Pinto da Costa e sobre os planos de construção do Centro de Alto Rendimento.

Saída de Vítor Bruno, chegada de Anselmi e o plantel

Sobre o despedimento de Vitor Bruno do comando técnico da equipa, em finais de janeiro, Villas-Boas esclareceu que a questão se deu meramente pela irregularidade nos resultados e por ser sua convicção de que o treinador teria perdido a confiança dos jogadores. Aproveitou também para elogiar o antigo ex-adjunto de Sérgio Conceição ao afirmar que é “um excelente treinador e que triunfará”.

Em relação a Martín Anselmi declarou que a contratação do treinador era um desejo pessoal desde a saída de Vitor Bruno e que sua contratação foi uma “antecipação” ao que já projetava como “um dos próximos grandes treinadores do futebol europeu”. O presidente do FC Porto também garantiu a permanência do treinador para a próxima temporada “a 100%”.

Questionado sobre o plantel, Villas-Boas reconhece que apesar de ter montado uma equipa na qual confiava, os resultados estão longe do esperado. Afirmou também que vai “construir um plantel que dê garantias de êxito”. Em relação a transferências, garantiu que vai contratar jogadores de acordo com a visão de Anselmi e que na próxima janela o clube vai “atacar o mercado com pujança financeira”.

Sobre a permanência de jogadores emprestados ao clube, demonstrou interesse em ativar a cláusula de compra de Nehuén Pérez e afirmou que quer manter Fábio Vieira e Tiago Djaló, mas que isso depende de negociações com os clubes que detêm os direitos destes atletas.

Finanças

André Villas-Boas falou também sobre muitas questões relacionadas com a parte financeira do clube. O presidente declarou ter pagado 179 milhões de euros em passivos durante os 11 meses em que esteve à frente do clube. Afirmou, também, que o clube esteve em apuros financeiramente e que “não seria possível pagar salários não fosse a generosidade de alguns sócios que compraram papel comercial em maio, no valor de 15 milhões de euros”.

Ainda sobre o tema, afirmou que as Dragon Notes, empréstimo obrigacionista contraído em novembro, foram fundamentais para a manutenção das operações no clube. Segundo o presidente, os 115 milhões contraídos a título de empréstimo obrigacionista resolveram “desespero absoluto” e foram usados para pagar 179 milhões em passivos, além de deixar em dia os salários, pagar a fornecedores e renegociar empréstimos contraídos a juros altos.

AVB: “Chegamos a uma situação, em novembro, de desespero absoluto, tínhamos salários em atraso nas modalidades, no futebol e nos funcionários.”

Além disso, afirmou que a reestruturação financeira do clube se deu, também, através da venda de jogadores nos dois últimos mercados, vendas que renderam 183 milhões aos cofres portistas. De acordo com Villas-Boas, isso possibilitou ao FC Porto ser “um clube cumpridor em salários, nas dívidas a fornecedores e a clubes”.

AVB: “O futuro do FC Porto comigo tem de ser obrigatoriamente de sucesso.”

CAR – Centro de Alto Rendimento

Em relação a um dos projetos que foi um dos pilares da sua campanha para a presidência, Villas-Boas afirmou que o projeto do Centro de Alto Rendimento (CAR) em Vila Nova de Gaia atrasou-se por falta de liquidez financeira do clube. Agora, com as operações da Ithaka e Dragon Notes, o clube pôs as contas em dia e hoje tem capacidade de financiar o terreno e avançar com o projeto sem a necessidade de um investidor, garantiu.

Sobre o pavilhão desportivo do CAR, o presidente deseja a construção e afirmou que a busca por um terreno está a ser executada junto a Câmara Municipal do Porto e que deve ser localizado próximo de Campanhã. A ideia do clube é que seja o mais próximo possível ao Estádio do Dragão.

Além disso, informou também que há interesse do FC Porto em implementar novas modalidades no clube, como o futsal. Entretanto, a ideia esbarra na barreira financeira. Atualmente, os gastos com modalidades gira em torno de 10 a 12 milhões de euros anuais e, para incluir o futsal, o aumento de custo seria de dois a quatro milhões por ano, enunciou Villas-Boas.

Jorge Nuno Pinto da Costa

Em relação ao “presidente dos presidentes”, Jorge Nuno Pinto da Costa, o histórico presidente do clube que faleceu em fevereiroVillas-Boas demonstrou grande respeito pela sua memória e afirmou que “nunca tive o intuito de o magoar”. Também, declarou que “foi difícil não ir ao funeral”, apesar de compreender o “posicionamento” do ex-presidente. Sobre a cerimónia fúnebre, destacou que “gostava que o velório tivesse sido no Dragão” e que “custou muito ter sido difícil convencer a família para que o presidente passasse os últimos momentos no estádio”.

Homenagens dos adeptos portistas a Pinto da Costa, que serão exibidas num museu. Foto: Inês Saldanha/JPN

Sobre as homenagens feitas pela massa adepta portista, o líder dos azuis e brancos assegurou que farão parte de um museu que vai estar operante dentro de cinco meses. Ainda dentro do tema, Villas-Boas demonstrou incómodo com a postura de Benfica e Sporting no post mortem de Pinto da Costa. De acordo com ele, “o silêncio dos clubes prejudicou a paz” entre os três grandes do futebol português: “só volto a sentar-me à mesa porque somos obrigados, ao nível de direção da Liga”, afirmou.

Operação Pretoriano

Sobre a operação que levou à detenção de membros dos Super Dragões, inclusive o líder, Fernando Madureira, por conta de incidentes na Assembleia Geral Extraordinária do clube a 13 de novembro de 2023, o atual presidente afirmou que o facto não fez com que a atual direção voltasse as costas à claque. Entretanto, Villas-Boas afirma que houve danos relativos a bilhética em cerca de um milhão em cada uma das cinco épocas investigadas e que espera que o clube seja ressarcido.

Perguntado sobre o que mais o surpreendeu à chegada na relação entre clube-claque, o presidente foi enfático ao destacar o “nível de permissividade e ilegalidade”. De acordo com ele, o FC Porto foi lesado durante anos por conta disso e que, a partir de agora, a relação deve ser “limpa, verdadeira e racional”.

Arbitragem

André Villas-Boas encerrou a entrevista a responder a questões sobre a arbitragem na Liga Portugal. O presidente pôs em causa a reputação do campeonato ao questionar que “se não há VAR a 100% em Portugal, como poderemos ter um campeonato credível?”. Entretanto, o dirigente portista declarou também que mudanças podem ser feitas e que se houver alinhamento com a Liga, Pedro Proença (antigo árbitro e novo presidente da Federação Portuguesa de Futebol), pode ajudar nesta questão.

Editado por Filipa Silva