Proposta foi aprovada na reunião pública do executivo municipal desta segunda-feira (24). Investimento vai permitir a criação de um gabinete médico dentário para apoiar pessoas em situação económica desfavorável.

Mundo a Sorrir é uma ONG que atua desde 2005 na saúde oral de pessoas em situação de carência económica.

O executivo municipal do Porto aprovou por unanimidade na reunião pública desta segunda-feira (24) um investimento no valor de 32 mil euros para a criação de um gabinete médico-dentário que visa apoiar jovens e cuidadores informais em situação de vulnerabilidade. A proposta surge no âmbito do Plano Municipal de Saúde do Porto e como complemento da oferta de cuidados do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO), cujo objetivo é prevenir a doença oral e promover hábitos de vida saudáveis, principalmente na população em idade escolar.

De acordo com a proposta concebida por Catarina Araújo, vereadora do Pelouro da Saúde e Qualidade de Vida, Juventude e Desporto, o projeto desenvolvido em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Mundo a Sorrir, prevê a realização de 600 consultas no Centro de Apoio à Saúde Oral entre abril e setembro, além da colocação de 35 próteses dentárias removíveis e da promoção de seis sessões de rastreio.

O espaço onde vão decorrer as consultas e rastreios, disponibiliza serviços de saúde oral e apoio psicossocial a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconómica, com o objetivo de promover a integração na sociedade. Conta com uma equipa multidisciplinar, composta por profissionais das áreas das ciências sociais além dos da saúde oral, e trabalha em parceria com os gabinetes de ação social dos municípios para garantir o acesso a cuidados dentários a quem enfrenta situações de pobreza ou exclusão social.

O apoio vai ser aplicado de forma faseada, sendo disponibilizados dez mil euros à data de assinatura do contrato e o restante ao longo da execução dele. A Câmara do Porto refere que o objetivo deste investimento é complementar a oferta dos cuidados de saúde oral já existentes a nível nacional, como o cheque-dentista para jovens e pessoas com mais de 65 anos que usufruem do complemento solidário para idosos, que tem vindo a revelar-se insuficiente.

Importância de promover a saúde oral

Os dados apresentados na proposta revelam-se preocupantes, justificando o investimento. As doenças orais continuam a ser um grande problema de saúde pública, afetando cerca de 3.5 mil milhões de pessoas em todo o mundo. Grande parte destes casos estão ligados a outras doenças graves, como diabetes, problemas cardíacos, doenças pulmonares crónicas e a alguns tipos de cancro. Todas estas condições têm fatores de risco em comum, como o consumo frequente de tabaco, álcool e uma alimentação pouco saudável.

Segundo o Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO), apenas 6% dos jovens de 18 anos escovam os dentes pelo menos duas vezes por dia, nem usam fio dentário para remover a placa bacteriana. De acrescentar que, cerca de dois terços desses jovens têm cáries. O Estado dá cheques-dentista a adolescentes em duas fases: entre os 13 e os 16 anos e dos 16 aos 18, mas só podem usufruir do apoio na segunda fase segundo se tiverem utilizado o anterior e concluído o tratamento. Esta regra faz com que muitas pessoas, mesmo em situação de vulnerabilidade, acabem por não usufruir do apoio.

A proposta alerta ainda para a necessidade de prestar mais tratamentos de medicina dentária aos cuidadores informais, que, por dedicarem muito tempo a quem deles depende, passam por muitas situações de grande desgaste físico e emocional e negligenciam a própria saúde. Para os cuidadores informais o risco de isolamento é maior, podendo conduzir à falta de autocuidado e levar ao desenvolvimento de problemas como cáries, doenças nas gengivas, perda de dentes e até ao diagnóstico tardio de cancro oral.

A Mundo A Sorrir foi criada em julho de 2005, no Porto, com a missão de garantir que a saúde oral seja acessível a todos e para promovê-la junto de pessoas em situação de fragilidade socioeconómica. A associação atua em Portugal e em diversos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), nomeadamente Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, através de projetos que incentivam a inclusão social e a cooperação para o desenvolvimento. O trabalho da associação é amplamente reconhecido pela Câmara do Porto, tendo-lhe sido atribuída a Medalha de Mérito de Ouro da Cidade.

Editado por Filipa Silva