O Biopolis reúne o maior orçamento alguma vez aplicado a um centro de investigação em Portugal. 86 milhões de euros é o valor investido no projeto com sede em Vairão, inaugurada esta segunda-feira (24) pelo primeiro-ministro. A Universidade do Porto é uma das parceiras do projeto.
O Biopolis tem uma sede renovada na Quinta de Crasto, em Vila do Conde. Foto: Luísa Vilarinho / JPN
O maior projeto português de investigação em ambiente, ecossistemas e biodiversidade tem uma nova casa, em Vairão, Vila do Conde. A sede do Biopolis foi inaugurada esta segunda-feira (24), pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, depois de uma operação de reabilitação no valor de nove milhões de euros. O palacete do séc. XIX, localizado na Quinta de Crasto, passa a ser o epicentro desta nova estrutura científica, que reúne o maior orçamento alguma vez aplicado a um centro de investigação em Portugal.
“Apostar na inovação é criar riqueza e gerar desenvolvimento. Isto não é para contemplar, é para preservar e desenvolver”, realçou Luís Montenegro no discurso de encerramento da cerimónia, referindo-se a todo o investimento aplicado no laboratório, um valor estimado em 130 milhões de euros até 2030.
Um número que o Governo deseja que não fique só “muito bonito para a fotografia”, desafiando quem vai usar os laboratórios do Biopolis a apresentar resultados: “As coisas não ficam feitas quando os orçamentos são apresentados. As coisas ficam feitas quando os orçamentos são executados”, afirmou o primeiro-ministro cuja intervenção ficou marcada por várias “notas esperança”.
Luís Montenegro aproveitou para elogiar as parcerias entre o setor público e privado, entre a academia e a sociedade civil, que sustentam projetos como o Biopolis: “A sociedade terá tanto mais condições para poder construir projetos de felicidade, aproveitando a riqueza e distribuindo-a, se aproveitar o potencial todo que tem à sua disposição”.
Também o facto de a Associação Biopolis ter projetos em várias zonas de Portugal e em vários países, é um sinal de esperança ao nível da coesão territorial, na visão do primeiro-ministro que não falou aos jornalistas à margem da cerimónia.
Ciência contra os “grandes perigos”
O Biopolis resulta de uma parceria entre o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO), a Universidade de Montpellier, em França, e a Porto Business School (ver caixa).
A abrir os discursos, o reitor da Universidade do Porto (UP), António Sousa Pereira descreveu o Biopolis como “uma garantia de preservação da biodiversidade do planeta e, portanto, uma reserva essencial para o futuro da comunidade humana.”
O responsável sublinhou o “enorme alcance do Biopolis enquanto projeto internacional”, que responde à “necessidade urgente de fazer face aos grandes perigos que hoje enfrentam os ecossistemas terrestres e a biodiversidade”.
O Biopolis vai funcionar na Quinta de Crasto, no polo de Vairão da UP, mas estende-se a outros pontos do país. As Estações Biológicas de Lisboa, no Instituto Superior de Agronomia, de Ponta Delgada, na Universidade dos Açores, de Mértola e do Gerês são exemplos da dispersão territorial da nova estrutura científica.
Entre outros elementos, o Biopolis apresenta os Twin Labs que são laboratórios concebidos em parceria com instituições científicas de outros países, particularmente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também de Macau e Índia, por exemplo. O objetivo é a “capacitação científica e tecnológica de instituições académicas”, referiu ainda António Sousa Pereira.
Vladimir Rousseau, o representante dos parceiros internacionais da Biopolis, particularizou, na inauguração, a importância destas colaborações para países como Angola, “um dos mais biodiversos de África”, no desenvolvimento de soluções inovadoras que assegurem os sistemas e a biodiversidade do território.
130 milhões em dez anos
O orçamento do projeto resulta da convergência entre fundos europeus (Programa Teaming – 15 milhões de euros), instituições nacionais, como a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, parcerias com o setor privado, como as cátedras convidadas (EDP, SONAE e empresas na Arábia Saudita, Espanha, Uzbequistão), e de outros projetos de investigação e desenvolvimento financiados ao nível europeu e nacional.
Nuno Ferrand Almeida, o diretor da Associação Biopolis, parabenizou, no discurso, os financiadores do projeto, pelo valor do orçamento. “Mas, obviamente, é fundamental nós sermos capazes de manter e de aumentar ainda este nível de investimento. Se alguma coisa sabemos sobre o setor da ciência em Portugal, é o seu subfinanciamento crónico”, acrescentou.
Para os primeiros sete anos de funcionamento, a Biopolis reúne o maior orçamento alguma vez dedicado a um centro de investigação nacional – 86 milhões de euros.
Deste valor, nove milhões de euros foram dedicados às remodelações do espaço da Quinta de Crasto.
A reabilitação incluiu a modernização de escritórios e laboratórios, com destaque para a construção de um laboratório de ponta em colaboração com a Universidade de Oxford dedicado à análise de ADN antigo e ambiental, pensado para ser o mais avançado do género na Península Ibérica.
O programa europeu Teaming, a que o projeto se candidatou, tem por objetivo criar alianças entre um país com um sistema científico ainda frágil – neste caso, Portugal -, e um país com um sistema científico plenamente desenvolvido e maduro – França foi o país escolhido.
A Porto Business School conecta o conhecimento científico ao setor empresarial. A transformação das ideias que surgem da investigação em valor económico é assegurada por esta instituição, relacionando-se ciência, sociedade e inovação.
Biopolis produz conhecimento, mas também forma estudantes
O Biopolis é uma associação científica privada sem fins lucrativos que se centra a sua investigação na genética e evolução, ecologia e conservação, e estudo de ecossistemas – três áreas principais quando se fala de preservação da biodiversidade. A investigação é feita com recurso à computação, informática e tecnologia.
Dos laboratórios do Biopolis já saíram vários artigos científicos para revistas reconhecidas à escala global, como a “Nature”, a “Science” ou a “PNAS”.
Os trabalhos desenvolvidos passam, por exemplo, pela adaptação dos mamíferos às condições desérticas, os impactos das alterações climáticas no meio marinho, a diversidade dos carvalhos portugueses, ou temas relacionados com a desflorestação, uso do solo e respetivas políticas públicas.
Paralelamente, o Biopolis oferece um programa doutoral – o BIODIV em Biodiversidade, Genética e Evolução –, que atualmente conta com 130 estudantes e é o maior doutoramento da Universidade do Porto.
A Biopolis promove ainda conferências e cursos de formação avançada, destinados a investigadores, técnicos, estudantes, mas também à comunidade científica nacional.
“Queremos transformar isto, de facto, em algo que projete a investigação e a ciência em Portugal, mas também a nossa capacidade de inovação nas áreas da biotecnologia”, concluiu Nuno Ferrand Almeida.