A banda do hip-hop português vai lançar um novo álbum e regressa aos palcos em 2026 para um concerto especial, longo e cheio de convidados, para assinalar os 30 anos de carreira. O JPN falou com Mundo Segundo e DJ Guze sobre o espetáculo.

Foi numa sala convertida em estúdio, num prédio em Vila Nova de Gaia, que Mundo Segundo e DJ Guze receberam o JPN para refletirem sobre o passado e sobre aquilo que têm de novo para oferecer aos fãs dos Dealema. Em 2026, o grupo celebra 30 anos de carreira e vai assinalar esta já longa estrada com um concerto no Coliseu do Porto, a 20 de fevereiro. O próximo ano é também data para o grupo voltar aos discos, 12 anos depois do último: “Alvorada da Alma”.

Para Mundo Segundo e DJ Guze, celebrar os 30 anos de carreira com um concerto e lançar um novo álbum é “juntar o útil ao agradável”. A comemoração de três décadas de existência como banda foi motivo para idealizar o concerto de 2026, mas a razão por detrás do lançamento do novo álbum é outra. “Não foi algo programado, foi uma feliz coincidência”, afirmou Mundo Segundo relativamente ao facto de, ao mesmo tempo, darem um concerto e editarem novas músicas.

Habituados a “alguns interregnos entre álbuns”, para os Dealema, aquilo que os faz voltar é terem “algo importante para dizer”. Sobre o novo álbum, DJ Guze antecipou que aquilo que se pode esperar é “muito peso, muita escrita diferente e nova”. Vão ser músicas com “a essência pura dos Dealema” e já se conhece o primeiro single, “Doutro Tempos”, que, segundo DJ Guze, é a música mais calma do novo projeto.

A “essência dealemática” marca o próximo trabalho e relaciona-se com “o amor pela escrita, pela mensagem, pela espiritualidade e pela luta”. Formados em 1996, os Dealema marcaram a história do hip-hop português. Mundo Segundo considera que, no geral, este género musical vai “numa boa direção e o crescimento e a presença do hip-hop português tem vindo a aumentar de qualidade”.

Para DJ Guze o melhor período do hip-hop em Portugal foi “entre o fim dos anos 90 e 2010”, altura em que “a essência portuguesa era muito maior”. “Não quer dizer que seja mau, mas acho que já foi mais puro do que aquilo que é hoje”, afirmou DJ Guze.

Uma banda que “fez tudo por si própria”

O começo da banda foi muito “naïf e inocente”, diz Mundo Segundo. Sempre quiseram fazer música em português, apesar de terem tentado “fazer algumas coisas em inglês”. Rapidamente perceberam que a essência dos Dealema passava pela música em português. “Havia muito convívio entre rappers de diferentes grupos e zonas”, algo que se perdeu um pouco nos dias de hoje, segundo Mundo Segundo. A “paixão genuína por algo, sem um segundo interesse” marcou o início da carreira.

Manter um grupo de cinco elementos durante 30 anos nem sempre é fácil. Com “os seus debates e discussões” que fazem parte do “crescimento” da banda, os Dealema foram sempre alternando entre editar álbuns em conjunto e trabalhos a solo dos elementos do quinteto. Os interregnos entre trabalhos do coletivo, segundo Mundo Segundo, são “saudáveis” e contribuem para “um equilíbrio espiritual e mental”.

O sucesso e a fama podem, por vezes, levar alguns artistas a alterar a sua essência, a sua génese. DJ Guze considera que é possível “continuares a ser quem és e a manter a própria essência”. A influência de Vila Nova de Gaia e do Porto é notória na obra dos Dealema, cidades de onde os seus integrantes são naturais. “Representar a zona onde vives, a tua cidade e as tradições” é importante no hip-hop, para Mundo Segundo.

Celebrar 3o anos de carreira na “sala mais mítica da cidade do Porto” é “uma afirmação de uma banda independente que, desde o início, fez tudo por si própria”. Para os Dealema é importante ser “independente, gerir a própria carreira e essência”. O concerto do próximo ano “vai ser bem mais extenso que o normal” e, além das músicas novas, vai contar com “muitos convidados, amigos de longa data”.

Mundo Segundo e DJ Guze falaram com o JPN. Foto: Maria Marques/JPN

Mundo Segundo, DJ Guze, Expeão, Fuse e Maze constituem os Dealema desde 1996. O grupo surgiu da fusão entre os projetos “Factor X”, de Mundo Segundo e DJ Guze, “Fullashit”, de Fuse e Expeão, a quems e juntou, mais tarde, Maze. A banda editou seis discos entre 1996 e 2013, editando no próximo ano o sétimo álbum. Os bilhetes para o concerto do Coliseu já foram colocados à venda.

Artigo editado por Filipa Silva