Federação de Atletismo passa a obrigar ao pagamento de uma licença desportiva por quem não é federado. Atletas e organizadores de provas insatisfeitos com nova obrigação que deverá entrar em vigor na próxima época.

A generalidade dos atletas amadores, como Ângela Martins (na foto), não aprovam a medida anunciada pela FPA. Foto: Ângela Martins/Facebook

A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) anunciou, esta semana, a implementação de uma nova taxa obrigatória para os participantes não federados nas provas de estrada, trail e montanha organizadas no país. A FPA criou uma licença para provas pagas que se traduz na “filiação obrigatória” dos atletas não federados, justificando a medida com a necessidade de dar mais segurança aos participantes, reforçar a organização e aumentar a sustentabilidade do atletismo.

Num comunicado, a organização explica que, a partir de agora, no ato de inscrição de qualquer prova paga, o atleta terá de preencher o seu número de filiado na FPA e, caso não seja federado, terá de fazer a sua filiação.

Para isso, será possível fazer a filiação para toda a época, com um custo “a partir de 31 euros/ano”, ou então, a “filiação por um dia”. Este novo modelo tem o valor de três euros e é válido especificamente para a prova em que o atleta se inscreveu. O custo de ambos os modelos incluem o seguro obrigatório para as provas. “Exames médicos válidos e atualizados” serão também “obrigatórios”, segundo a federação.

Além disso, a entidade esclareceu que o pagamento da taxa de filiação será obrigatória para maiores de idade que participem de provas pagas nas categorias “absoluto” e “veterano”. Entretanto, provas sem classificação ou cujo valor de inscrição seja inferior a cinco euros estão excluídas da licença. Menores de 18 anos estão também isentos.

Organizadores de provas e corredores reclamam

A medida gerou polémica e insatisfação sobretudo entre os não federados que são simultaneamente participantes regulares de corridas. É o caso de Ângela Martins, que é entusiasta da modalidade e participante habitual de provas em Portugal e Espanha. Para a corredora, a medida pode “afastar ainda mais quem gosta de corrida”. Os maiores afetados, diz ao JPN, serão aqueles que participam em provas ocasionalmente, pois “não vão estar dispostos a pagar uma taxa extra, uma vez que as provas não são de graça”.

Em Portugal, há centenas de provas de atletismo todos os anos para corredores amadores organizadas por diferentes entidades privadas, que reúnem milhares de participantes. Há já uma petição pública com mais de 12 mil assinaturas a pedir a revogação da licença.  

Ângela Martins disse ainda ao JPN que participa, em média, numa prova por mês há quase uma década e garante que não vai deixar de correr por conta da nova taxa, mas afirma estar insatisfeita “por ser obrigada a se filiar na federação” e que “35 euros por ano são um absurdo”. Para ela, a grande questão reside no facto de não haver grandes benefícios em contrapartida.

Neste particular, a FPA refere que quem tiver o cartão digital de filiado vai ter “acesso aos mais de 100 centros do Programa Nacional de Marcha e Corrida” com “acompanhamento por técnicos especialistas em marcha e corrida, treinos em grupo, atividades gratuitas e acesso às infraestruturas disponíveis no centro”, entre outras “vantagens”, 

A Associação Portuguesa de Organizadores de Provas de Atletismo (APOPA) também criticou a medida. Em nota, a organização mostrou-se descontente por não ter sido consultada previamente à apresentação da medida. Além disso, declarou “compreender a necessidade de novos financiamentos pela FPA”, mas que não pode deixar de se solidarizar com “a grande maioria dos competidores que se mostrou profundamente contra a medida”.

A APOPA também condena o tratamento recebido no caso pois “é a entidade que mais interage com os corredores, que mais procura dar resposta às suas pretensões e que tudo tem feito para que as provas tenham qualidade”. Conclui a reforçar que está ao lado dos atletas e que “fará de tudo para minimizar o impacto desta medida que penaliza seriamente aqueles que apenas gostam de correr”.

A FPA, por sua vez, diz que os organizadores de eventos podem baixar ao valor das inscrições, uma vez que o seguro desportivo passará a estar assegurado através do processo de filiação. Ainda de acordo com a FPA, o novo Regulamento de Filiações de Agentes Desportivos, com as novas regras em discussão, “deverá entrar em vigor na próxima época desportiva”.