Evento apresentou tema e programa da edição que chega ao Porto e a Matosinhos em outubro. Quarta edição da bienal promete promover um modelo participativo e de impacto nas comunidade.

Magda Seifert, diretora executiva da Porto Design Biennale, à esquerda, e Ângela Rui, curador geral do evento, à direita. Foto: Mara Soutinho/JPN

A Porto Design Biennale regressa em outubro de 2025 com um formato renovado e um tema atual: “O tempo é presente. Inventar o Comum”. Fruto de uma colaboração entre os municípios do Porto e Matosinhos, a nova Biennale quer acentuar o caráter transformador do design, associado-o a iniciativas sociais. O programa foi apresentado esta quinta-feira (27).

Com curadoria das italianas Angela Rui e Matilde Losi, a Porto Design Bienal 2025 expande a sua atuação para além das exposições convencionais, promovendo um modelo participativo e de impacto nas comunidades. Este ano, serão ativados seis projetos-piloto, três no Porto e três em Matosinhos, que têm como premissa não serem efémeros, focando-se em novas formas de imaginar as cidades e de gerar debate.

Entre as novas iniciativas desta quarta edição, destacam-se projetos com crianças, intervenções urbanas e estratégias de inclusão para pessoas com deficiência intelectual, promovendo a interação entre estas e os seus cuidadores. Além disso, a Biennale promete investir na recuperação do espaço público e na criação de redes de convívio e apoio a comunidades vulneráveis, através de iniciativas solidárias e espaços dedicados à produção musical para jovens.

Não obstante, o programa inclui também uma vertente mais tradicional, apresentando uma exposição central na Casa do Design, em Matosinhos, que reúne projetos nacionais e internacionais, além de um programa público de debates e ativações. Este programa irá estender-se de outubro a dezembro, com foco em espaços como a Praça do Marquês e a Biblioteca Popular Pedro Ivo.

Com esta nova abordagem, a Porto Design Biennale reafirma a sua vocação como evento dinâmico e transformador, procurando afirmar o design não só como um elemento estético, mas um meio de gerar mudanças sociais significativas e duradouras. Ao investir no envolvimento das comunidades e em projetos sustentáveis, a organização procura consolidar a Biennale como um marco no design contemporâneo.

Redefinir o tempo e o comum

A 4.ª edição da Porto Design Biennale, intitulada “O tempo é presente. Inventar o Comum”, convida à reflexão sobre a forma como percebemos e utilizamos o tempo na sociedade contemporânea. Em vez de encarar o presente como uma crise a ser superada, a Biennale sugere uma abordagem alternativa: recuperar o tempo como um bem comum, um recurso partilhado que pertence a todos.

Produzido por uma equipa de curadoras inteiramente feminina, a Biennale convida o seu público a mudar a perspetiva do tempo qualitativo num mundo onde este “é cada vez mais mercantilizado, fragmentado e extraído”, afirmou Angela Rui no seu discurso. 

Quanto ao subtítulo do certame, “Inventar o Comum”, a intenção do evento é repensar a forma como nos relacionamos com o tempo e com os recursos coletivos. Inspirando-se em teóricos como Michael Hardt e Antonio Negri, a Biennale propõe o design como uma prática colaborativa e política, capaz de criar novas formas de organização social e fortalecer laços comunitários. O evento procura ultrapassar o papel tradicional do design como ferramenta de inovação e consumo, promovendo-o como um meio para transformar as dinâmicas sociais e espaciais.

Também a experiência do público assume um papel fundamental nesta exposição. A busca por tempo de qualidade, onde se encontra o prazer e criação de novas formas de vida, é o que esta nova edição pretende despertar naqueles que a visitam. 

Porto e Matosinhos reforçam parceria 

Na conferência de imprensa, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e a homóloga de Matosinhos, Luísa Salgueiro, destacaram a importância que a Porto Design Biennale tem para os centros urbanos, como um modo de difusão do design. Ambos os presidentes entendem o próprio design como um pilar fundamental na construção da identidade das cidades e um garante de uma maior coesão nos panoramas social e cultural. “Não é só uma questão de estética, não é só uma abordagem ao produto: é a forma como vemos as cidades e como queremos influenciar as vidas das pessoas”, enfatizou a autarca de Matosinhos. 

Os presidentes da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e do Porto, Rui Moreira, também marcaram presença. Foto: Mara Soutinho/JPN

 O design permite a construção e aproximação de comunidades e revela-se como uma ferramenta de inclusão e diversidade cultural. “O design tem de facto a capacidade de ligar pessoas, de as unir em torno de valores, tradições e costumes e a fazer partilhar a mesma identidade histórico-cultural, mas também de instituir um sentimento de pertença comunitária e pós-comunitária”, constatou o presidente da Câmara Municipal do Porto.

A Porto Design Biennale tem por missão uma maior democratização do acesso ao design e de espaços para esse efeito, tal como, o Antigo Abrigo dos Pequeninos do Porto, espaço no qual decorreu a conferência de imprensa da última quinta-feira. O antigo edifício do Estado Novo, que serviu, originalmente, como uma instituição de apoio a crianças em situação vulnerável, foi abandonado e encontra-se, agora, em reabilitação. Este promete ser um local de exposições.

No dia seguinte à conferência, a 28 de março, abriu a open call para os artistas interessados em ter os seus projetos na Porto Design Biennale, desde que estes estejam em concordância com os princípios do evento e com a sua linha temática.

Editado por Filipa Silva