Atual treinador do Al Hilal pode ser o quarto estrangeiro no comando brasileiro. Problema com Neymar “atrapalha”. Construir uma equipa coletivamente forte é o grande desafio que o futuro selecionador terá pela frente, na opinião de Bruno Andrade.
Jorge Jesus é o favorito para assumir o comando técnico da seleção brasileira. Foto: Palácio do Planalto
O nome de Jorge Jesus é o favorito para assumir o comando da seleção brasileira de futebol. O antigo treinador de Benfica e Sporting é apontado pelos media brasileiros como a principal alternativa para substituir Dorival Júnior, despedido após a derrota por 4-1 contra a Argentina na semana passada. Além de Jesus, outro nome especulado – mas improvável – é o de Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid.
Apesar de não haver um posicionamento oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), muitos veículos de comunicação ligam o nome do treinador português à federação. O jornalista italiano Fabrizio Romano, especialista em transferências de futebol, afirmou que o treinador já demonstrou interesse em assumir a seleção brasileira após o fim da temporada na Arábia Saudita.
O nome do português gera expetativa no público brasileiro dado o seu incrível desempenho no comando do Flamengo, em 2019, quando venceu o Brasileirão e a Libertadores na mesma época. Esse feito não era conseguido por um clube desde o Santos de Pelé, em 1963. Jesus deixou o Flamengo em 2020 com um aproveitamento de 81,6% dos pontos conquistados, cinco títulos e apenas quatro derrotas em 58 jogos.
Jesus aparece no radar do Brasil num dos piores momentos da seleção na história. Se contratado, o treinador de 70 anos terá como missão não só vencer jogos, mas também fazer jogar bem uma equipa que ainda não se encaixou, qualificar o país para o Mundial de 2026 e restaurar a moral de uma massa de adeptos totalmente descrente. Além disso, fora de campo, vai ter de gerir uma crise com Neymar, que mandou embora do Al Hilal e que criticou publicamente pela sua condição física, em janeiro deste ano.
Atualmente, Jorge Jesus está na sua segunda passagem como treinador do clube saudita. Na última temporada, a equipa que conta com Rúben Neves e João Cancelo teve um ótimo desempenho e foi campeão nacional, além de ter alcançado o recorde mundial de 34 vitórias seguidas.
A crise na seleção
A seleção brasileira vive um péssimo momento desde a saída de Tite, no final da Copa do Mundo de 2022. Apesar de o treinador ter antecipado, em fevereiro daquele ano, o seu desejo de deixar o cargo após o Mundial, a CBF não conseguiu encontrar um bom sucessor até agora. Após o mundial, quem comandou a seleção provisoriamente foi Ramon Menezes, que à época tinha o cargo de treinador da equipa sub-20 do Brasil.
Enquanto isso, a federação negociava a contratação de Carlo Ancelotti. As conversas duraram alguns meses, até que as partes supostamente chegaram a acordo e, em julho de 2023, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, garantiu que o italiano chegaria no início da temporada seguinte, logo após o fim de seu contrato com os merengues. Para os 12 meses em que o cargo ainda estaria vago, a CBF contratou Fernando Diniz como interino. O treinador, que fazia à altura uma grande época pelo Fluminense, comandou o clube e a seleção paralelamente.
Alguns meses depois, em dezembro, tudo mudou. Ancelotti renovou contrato com o Real Madrid até 2026 e os planos de Ednaldo Rodrigues falharam. Em janeiro, a CBF substituiu o “provisório” Fernando Diniz pela opção permanente Dorival Júnior.
Durante o ano em que esteve à frente da seleção brasileira, Dorival Júnior não conseguiu apresentar um bom plano e a equipa não jogou bem. Nos primeiros quatro amistosos, venceu Inglaterra e México e empatou com Estados Unidos e Espanha. Na Copa América, venceu apenas o Paraguai e empatou outros três confrontos, finalizando a participação da equipa nos quartos de final.
Após a competição, foram mais oito jogos no comando da equipa nacional nas eliminatórias para o Mundial e venceu apenas quatro. Nesse período, Dorival foi muito criticado por não conseguir fazer os jogadores apresentarem uma boa performance e o futebol da equipa não evoluir. A derrota por 4-1 contra a Argentina, a pior da história do Brasil em eliminatórias, foi a gota de água que gerou a sua demissão.
Ramon Menezes: três jogos, uma vitória e duas derrotas.
Fernando Diniz: seis jogos, duas vitórias, um empate e três derrotas.
Dorival Júnior: 16 jogos, sete vitórias, sete empates e duas derrotas.
Os concorrentes de Jesus
O atual treinador do Al Hilal é o favorito a assumir o comando da seleção canarinha face a uma lista com grandes nomes. Além dele, estão cotados também Carlo Ancelotti, do Real Madrid, Abel Ferreira, do Palmeiras e Filipe Luís, do Flamengo. Apesar de concorrentes de respeito, Jesus lidera a corrida por uma série de fatores, como o grande desejo que tem em assumir o cargo e o respeito que tem entre os brasileiros.
Entre os citados, o nome preferido do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, é Ancelotti. Mas a sua contratação esbarra no facto de Ednaldo já ter tentado contratá-lo, em 2023, e o italiano ter preferido continuar no comando do Real Madrid. Na época, Ednaldo tratou a contratação do treinador como “certa”, esperou-o durante vários meses e, no fim, a contratação falhou. O episódio fez com que a imagem do presidente da CBF ficasse desgastada publicamente.
Outro nome português considerado para o cargo é Abel Ferreira. O antigo lateral-direito é comandante do Palmeiras desde 2020 e por lá venceu todos os troféus possíveis. Porém, o seu comportamento agressivo à beira do relvado e à frente dos media sempre foi um empecilho posto nas discussões acerca da sua contratação. Para agora, sua ascensão ao cargo é improvável pelo mau momento vivido no clube paulista.
Além deles, o nome de Filipe Luís também foi citado pelos media brasileiros. Contudo, o jovem treinador sofre resistência por parte do público por ter menos de um ano de experiência. O antigo lateral esquerdo do Chelsea e Atlético de Madrid assumiu o comando técnico do Flamengo apenas em outubro de 2023, em sua primeira experiência profissional. Além disso, o treinador declarou estar feliz com seu cargo atual no clube rubro negro e já afirmou que não vai assumir a seleção brasileira caso haja convite.
Desafio: construir um coletivo forte
Para o comentador da TVI e da CNN Portugal, Bruno Andrade, Jorge Jesus pode trazer algo de novo à seleção brasileira, principalmente, através de sua liderança dentro e fora de campo. Para o brasileiro, outro ponto positivo é a convergência entre o estilo de jogo do treinador e as características dos jogadores da seleção.
Além disso, o jornalista afirma, em declarações ao JPN , que caso Jesus seja contratado, o seu grande desafio à frente da seleção será construir uma equipa coletivamente forte. De acordo com o comentador, o Brasil continua a ter grandes talentos individuais, mas, desde a saída de Tite, deixou de ter uma equipa coesa e equilibrada.
Outro ponto que Bruno Andrade destaca é Neymar. Para ele, será fundamental para Jesus recuperar a sua confiança. Em relação ao mal-estar dos dois, o jornalista acredita que uma conversa “olho no olho” pode ser capaz de resolver as coisas e que “ambos têm a experiência suficiente para superarem a situação”.
Editado por Filipa Silva