No livro "A Mais Breve História do Líbano", a complexidade de um território moldado por conflitos, diversidade religiosa e cultural é retratada de um modo que pretende ser acessível para todos. O JPN entrevistou a autora, a jornalista Catarina Maldonado Vasconcelos.
A história do Líbano dissecada em 248 páginas.
Um “laboratório da história da humanidade”. É assim que Catarina Maldonado Vasconcelos, jornalista de 32 anos, define o Líbano, protagonista maior do seu primeiro livro: “A Mais Breve História do Líbano”, lançado a 20 de março.
A jornalista formada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto [curso de que o JPN faz parte] acredita que “a história do Líbano não interessa só àqueles que quiserem conhecer o país em concreto, mas também a quem queira perceber a fundo o Médio Oriente”.
O facto de o Líbano ser um país pouco conhecido dos portugueses foi o que mais a intrigou na escrita do livro. A partir daí, desenvolveu um trabalho junto de investigadores que a ajudaram a preencher as “lacunas” de conhecimento que tinha sobre o país.
O livro vai além da história moderna do Líbano e parte para curiosidades de um país que “se desenvolve como uma encruzilhada de civilizações”. É “como se nós pudéssemos recortar aquele bocadinho e acontecesse ali o erigir-se de vários impérios”, descreve ao JPN em entrevista. Por este território passaram fenícios, assírios, persas, gregos, romanos, bizantinos, turcos otomanos, franceses, que construíram uma identidade cultural única, e que permitiram ao país ter o rótulo de “Suíça do Médio Oriente” – uma promessa que ficou por cumprir.
Catarina Maldonado Vasconcelos é a autora do livro “A Mais Breve História do Líbano” Catarina Maldonado Vasconcelos
O livro tem o propósito assumido de ser acessível para todos, contando a sucessão de eventos que nos trazem até ao momento atual. “Interessava-me contar bem a história, contar com justiça os episódios marcantes”, diz ao JPN. A autora, que começou a carreira na TSF e trabalha agora no “Expresso”, apela à sensibilidade dos leitores para entenderem a história de um país com pouco mais de 80 anos de existência – só em 1943 é que o país nasceu, ao nível de independência e demarcação territorial. Ao longo da história, encontramos simbolismos e evocações que servem os mais curiosos e foi esse olhar que Catarina procurou imprimir no seu livro para o distinguir dos muitos outros livros de história.
Uma das dificuldades que a jornalista enfrentou foi o pouco tempo para a escrita do livro. Além disso, como nunca esteve no Líbano, assume que “é difícil contar com justiça a história de um território que não se visitou”. Somando a isso, existia também pouco material para investigar determinadas épocas de um passado mais distante.
O seu lado de jornalista veio ao de cima quando adotou para o livro um estilo mais próximo da reportagem, mais conversacional e intimista. Ainda assim, Catarina tentou “aproximar-se daquilo que fariam os historiadores, sem ser historiadora”.
Quando falamos do Líbano, falamos num país que teve de “nascer inúmeras vezes ao longo da história” e com “dores de crescimento para viver independente de impérios e de forças exteriores”. Ao falar deste país, Catarina afirma que “a história do Líbano é a história da resiliência de um sonho”.
Este país está encurralado por um ciclo de guerra difícil de contornar. O Hezbollah tem uma grande influência naquilo que acontece neste território visto que “amarrou o destino do Líbano ao seu e amarrou o destino do Líbano ao que aconteceria em Gaza”, comentou a autora.
O Líbano é um país marcado por uma grande diversidade religiosa – 18 comunidades religiosas oficialmente registadas – e cultural, tornando-se um dos países mais diversos do Médio Oriente. A sua história leva a que a identidade deste país seja “difusa” e “artificial”. Segundo Catarina, “talvez a verdadeira identidade libanesa esteja a ser construída agora, com estas novas gerações, em que muitos dos traumas começam a sarar-se”.
Um dos capítulos deste livro levanta a questão fulcral: “Como se mata uma ideia”? Aborda toda a complexidade dos conflitos no Médio Oriente, cuja resolução não depende apenas de um grupo, mas de vários, que têm ideologias muito vincadas e, muitas vezes, de coexistência difícil ou mesmo impossível.
Sobre o próximo país sobre o qual gostaria de escrever, são várias as opções que Catarina aponta: Ucrânia, Síria, Estados Unidos e até Portugal. A jornalista deixa a nota de que este “é um trabalho extremamente interessante e ajuda-nos a compreender o enredo do que nos traz aqui”.
O livro “A Mais Breve História do Líbano”, editado pela Ideias de Ler, é apresentado esta terça-feira, 1 de abril, às 18h30, na Fnac do Centro Comercial Colombo, em Lisboa e vai contar com a presença de Germano Almeida. No Grande Porto, a apresentação será a 10 de abril, na Fnac do GaiaShopping, também às 18h30.
Editado por Filipa Silva