Numa partida marcada por confusão e nervosismo, os axadrezados pouco criaram e complicam-se ainda mais as contas do Boavista na tabela. Equipa sofreu três golos em dez minutos.

Numa noite pouco inspirada, o Boavista sofreu mais uma dura derrota frente ao Gil Vicente no Bessa XXI. A equipa da casa pouco produziu no jogo e quase não levou perigo à baliza adversária. Os gilistas, por sua vez, tiraram proveito de um adversário nervoso e marcaram três vezes num espaço de dez minutos. O ponta de lança luso-brasileiro Pablo Felipe marcou os três golos e terminou o jogo ovacionado pelos adeptos gilistas. 1-3 foi o resultado final.

Pré-jogo

O Boavista sabia que uma vitória seria fundamental para manter a esperança na manutenção na Primeira Liga. Na última posição, um triunfo faria com que a equipa chegasse aos 18 pontos e ficasse a apenas cinco das equipas que figuram fora da zona de despromoção. O confronto com o Gil Vicente era uma grande oportunidade para dar esse passo em frente, uma vez que a equipa barcelense chegava ao jogo com uma péssima série de oito derrotas nos últimos nove jogos.

Os gilistas também viam a partida como uma grande oportunidade de recuperar confiança e buscar um lugar mais confortável na classificação. Com 23 pontos, o Gil tinham a mesma pontuação do AVS SAD, equipa que se encontra no 16.º lugar, em posição de disputar o play-off de descida da liga.

Primeira parte sem grande história

O jogo começou com baixa temperatura. O Gil Vicente foi quem construiu as primeiras tentativas. Com jogadas que passavam sempre pelos extremos, os visitantes chegavam com alguma facilidade ao último terço do campo, mas não conseguiam criar oportunidades de remate. O primeiro remate do jogo ocorreu apenas aos oito minutos, quando Pablo Felipe chutou fraco ao centro da baliza, mas não criou perigo.

Os minutos seguintes foram de tentativas malsucedidas de ambos os lados. O Boavista esbarrava na falta de criatividade dos seus médios e não conseguia progredir em campo. Como alternativa, tentava lançamentos longos desde a defesa, mas quase sempre eram parados pelos defesas do Gil.

O Gil Vicente conseguiu ditar o ritmo do jogo e criar mais jogadas. Com mais força no meio-campo, era quase sempre Mohamed Bamba quem reconquistava a posse da bola e logo lançava um dos extremos.

As chances de maior perigo das duas equipas foram pelo alto. Aos 33’, o Gil chegou ao ataque com Sandro Cruz pela esquerda, que cruzou para o cabeceamento de Pablo, mas a bola acabou nas mãos do guarda-redes. Do lado do Boavista, a oportunidade também apareceu pela esquerda do ataque, com Kurzawa que achou Kone no centro da área. Este cabeceou forte, mas já muito em cima de Andrew.

Três minutos decisivos

Se a primeira parte foi monótona, a segunda recompensou os amantes de futebol no estádio (mas não os boavisteiros). Ambas as equipas voltaram do intervalo mais agressivas e a tentar ataques mais verticais e diretos. Aos 55’, o Gil Vicente conseguiu um pontapé de canto no lado esquerdo do ataque: Tidjany faz um cruzamento forte e fechado no primeiro poste e Pablo Felipe antecipou-se à defesa, desviou a bola e marcou o golo.

No minuto seguinte, o defesa boavisteiro Fogning, tentou um passe, mas foi travado por Fujimoto, do Gil Vicente. O médio gilista dominou a bola no flanco direito do ataque, passou para o meio para Pablo Felipe, que teve espaço para dominar, ajeitar a bola na entrada da área e rematar cruzado e rasteiro. Sem hipóteses para Vaclík.

Os axadrezados ficaram abalados com os golos sofridos e os jogadores passaram a cometer mais faltas e desorganizaram-se defensivamente. Aos 65’, Tidjany foi ao ataque pelo flanco esquerdo e, ao chegar na área, cortou para dentro e rematou. O guarda-redes Vaclík defendeu, mas a bola sobrou para os pés de Pablo Felipe, que anotou o terceiro.

Logo depois, aumentaram os momentos de tensão. Os adeptos mostravam-se nervosos e a equipa sentia isso no relvado. O Boavista lançava-se ao ataque em desespero e não conseguia chegar à baliza de Andrew.

Aos 78’, Tidjany tentou queimar tempo e levou amarelo. Avisado pelo árbitro, o extremo gilista correu para a bancada boavisteira e fez um sinal de “três” com os dedos para os adeptos axadrezados. A provocação deixou furioso o público, que lhe atirou objetos e armou-se uma grande confusão. Por conta disso, o jogador foi expulso.

No banco de suplentes, mais quezílias. Membros das duas equipas mandavam bocas uns aos outros e quando Tidjany, que havia sido expulso do outro lado do relvado, passou por ali para ir para o balneário, os suplentes do Boavista foram tirar satisfação e iniciou-se um grande tumulto. Steven Vitória, que estava no banco, entrou no túnel para confrontar o extremo francês e também foi expulso.

Com um jogador a menos, o Gil Vicente fechou-se na defesa a tentar segurar o resultado. Novamente, o Boavista tentava, mas não conseguia produzir lances de perigo. Aos 90+5’, houve um cruzamento para a área gilista e, na disputa pelo alto, a bola bateu no braço de Rúben Fernandes. O árbitro assinalou penálti e Bozeník rematou forte e marcou, praticamente no último lance da partida.

Após o final do jogo, os adeptos boavisteiros protestaram e vaiaram muito a equipa. Do outro lado, as centenas de gilistas presentes fizeram a festa e ovacionaram o melhor jogador do encontro: Pablo Felipe.

Mau desempenho de uma equipa limitada

Na partida, o Boavista deu mais uma demonstração das fraquezas que já apresentou no decorrer da época. Sem um médio de criação de qualidade, a equipa foi muito inferior nas disputas por espaço no meio campo e não conseguiu ir ao ataque. Bamba, médio defensivo gilista, foi soberbo e ficava com a posse de praticamente todas as bolas que passavam perto de si.

Apesar de ter voltado mais ofensiva para a segunda parte, a equipa da casa sucumbiu mentalmente logo depois de sofrer o primeiro golo. A falta de equilíbrio emocional foi responsável pela desorganização da equipa, o que gerou os outros dois golos, e foi visto, também, durante a confusão com Tidjany. Agora, as panteras vão ter de recompor-se e tirar forças de onde não têm, para sonhar com a (quase) impossível permanência na Primeira Liga.

O Gil Vicente, por outro lado, soube explorar os seus pontos fortes e fez o que era preciso. Grande jogo de Tidjany, que fez o que quis no flanco esquerdo e participou de todos os golos e, claro, de Pablo Felipe, que mostrou grande inteligência ao aproveitar as oportunidades que teve e marcou um hat-trick.

O Boavista permanece assim na última posição do campeonato, com 15 pontos, a oito da linha de água. Já o Gil, ganhou um balão de oxigénio e descolou da zona de despromoção. Tem 26 pontos, e está no 14.º lugar.

Vidigal assume que “está muito mais difícil”

Na conferência de imprensa, Lito Vidigal, treinador do Boavista, foi direto nas respostas. Sobre a permanência na Primeira Liga, o treinador afirmou que está “muito mais difícil”, porém ainda confia que a situação pode ser mudada: “a mensagem que tem sido passada para os jogadores é que está mais difícil, mas aqui ninguém desiste”. 

Sobre a intranquilidade demonstrada pela equipa, o técnico considerou que ela é natural e decorre do lugar em que o Boavista se encontra: “Quando estamos a jogar várias jornadas nesta posição, numa posição com uma vontade tremenda de sair dela, é normal que os jogadores tenham alguma ansiedade. E isso é ultrapassado com vitórias. Quando nós ganharmos, consolidamos aquilo que estamos aqui a fazer”, afirmou.

César Peixoto, comandante do Gil Vicente, revelou-se satisfeito com o desempenho da equipa e destacou a importância da vitória. Congratulou, também, Pablo Felipe pela grande partida e os três golos. Mas lamentou o golo sofrido no final e afirmou que apesar de ter marcado três vezes, a equipa teve oportunidades para fazer mais

“O mais importante é a união que houve, é a organização. É a equipa ter a onda que teve, ganhar duelos, o que nos faltou no jogo anterior, e sobretudo sermos uma equipa a 90 minutos. Mesmo a menos um, agarrámo-nos, trabalhámos todos, a malta da frente, quem entrou, entrou muito bem”, comentou aos jornalistas.

O Boavista volta a ação na próxima segunda-feira (7), contra o Rio Ave, em Paços de Ferreira. O Gil Vicente recebe o Moreirense, em Barcelos, no próximo domingo (6).

Editado por Filipa Silva