Sexta edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia inicia-se este sábado (5) e prolonga-se até dia 12 de julho. Evento conta com 51 exposições, espalhadas por vários espaços e regiões, com destaque para a Quinta da Fiação de Lever. No total, são 427 os artistas envolvidos nesta "bienal de causas".
Sexta edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia começa este sábado (5). Foto: Camila Teixeira/JPN
A sexta edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia regressa ao município este sábado (5) e prolonga-se até dia 12 de julho. A celebrar uma década de existência, a iniciativa volta a estar na Quinta da Fiação de Lever, um dos principais espaços que vai acolher parte das 51 exposições, que implicam o envolvimento de 427 artistas. O evento assume-se como um palco de reflexão e compromisso com causas sociais. A edição deste ano promete trazer obras que convocam um diálogo em torno de questões essenciais da atualidade.
Este ano, a organização apostou numa cerimónia de inauguração diferente do habitual, que vai contar com a presença de Manuel Sobrinho Simões, diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), que vai fazer uma intervenção sobre a relação entre “Ciência, cancro e arte”. O evento tem início às 16h00 deste sábado, na Quinta da Fiação de Lever.
O evento distingue-se de outras exposições patentes um pouco por todo o país, por se preocupar com questões sociais. “Convocámos os artistas, através de 51 exposições, em Gaia e fora do concelho, a abordarem, na escultura, na pintura, no desenho, na fotografia, temas relacionados com a intervenção social, como a guerra, as desigualdades, a injustiça, as questões ambientais, as discriminações entre o homem e a mulher – temas que fazem parte do quotidiano e nos inquietam“, explicou ao JPN Agostinho Santos, diretor da bienal há dez anos.
Lagoa Henriques é o artista homenageado nesta edição, através de uma exposição que agrega dezenas dos seus desenhos e esculturas. Também a literatura vai ter espaço nos meses de bienal. Vão marcar presença escritores portugueses de renome como Valter Hugo Mãe, Rui da Graça, Nazaré Álvares, Celeste Ferreira e Miguel Carvalho. Esta edição fica também marcada pelo regresso do “Porto Cartoon — World Festival”, onde 40 cartoonistas de diversos países vão ter a oportunidade de expor a sua arte.
A programação completa vai estar disponível para consulta a partir deste sábado (5), na página da Bienal Internacional de Arte de Gaia. Também é possível ter-lhe acesso em formato físico marcando presença no evento de inauguração.
“Queremos fazer mais e melhor”
“A arte é uma arma no sentido de denunciar o que está mal. Os artistas têm uma voz contra a desumanidade e os males que existem no mundo e a bienal é um alicerce para que essa voz tenha ainda mais força”, sublinhou Agostinho Santos, destacando o objetivo principal desta exposição.
Agostinho Santos afirma que a ligação às instituições culturais e académicas tem sido fundamental para o crescimento da bienal. A Universidade do Porto (UP) assume um papel de destaque na edição deste ano, uma vez que é na Reitoria que acontece a sessão de fecho, no dia 12 de julho, com uma exposição chamada “Gabinete das Curiosidades/Museu de Causas”. Aqui vão reunir-se um conjunto de trabalhos de antigos alunos e professores das diversas faculdades que fazem parte da UP, com destaque para a Faculdade de Belas Artes (FBAUP).
Ainda no plano educativo, o evento conta com a colaboração do Plano Nacional das Artes, que se concretiza na exposição de trabalhos dos alunos de escolas dos vários municípios parceiros da bienal, que se envolveram na iniciativa “Comemoração dos 50 anos de Abril de 1974 vai às escolas“. “É fundamental que as pessoas, os jovens continuem a saber o que foi o 25 de Abril, o antes e o depois”, reitera Agostinho Santos.
Neste âmbito, Agostinho Santos reforça a importância de fomentar uma boa relação entre o sistema educativo e a arte. “A arte começa na escola e na educação. É fundamental ter uma ligação forte com a Universidade do Porto, sobretudo quando é dirigida, atualmente, e bem, por pessoas que estão atentas àquilo que se faz na arte e nas outras áreas. Temos também as melhores relações com a Fundação de Serralves e com outras instituições. Se estivermos unidos com as forças da região Norte, conseguimos fazer mais. A universidade é um pilar fundamental”, declarou ao JPN.
“Queremos fazer mais e melhor. Hoje, a nossa Bienal já se impõe no panorama artístico português e até internacional. Desejamos que continue a crescer e a fazer a diferença“, refere Agostinho Santos.
Para além das exposições em Gaia, a bienal vai ter presença expandida a 14 outras regiões – Baião, Esposende, Ferrol (Galiza), Funchal, Lisboa, Macedo de Cavaleiros, Oliveira do Hospital, Paços de Ferreira, Paredes, Peso da Régua, Póvoa de Varzim, Sertã, Viana do Castelo e Viseu -, havendo uma participação, de um modo geral, de artistas de várias nacionalidades.
Na primeira edição, em 2015, nem todos os artistas estavam recetivos a abordar temas ligados às desigualdades, como, por exemplo, a problemática das pessoas que vivem em situação de sem-abrigo ou os efeitos de uma guerra. “Esses não são temas que qualquer artista queira trabalhar“, admite Agostinho Santos, recordando as dificuldades sentidas quando assumiu o cargo. No entanto, com o agravamento destes cenários nos últimos anos, têm suscitado mais sensibilidade nos artistas, que têm tido mais disponibilidade para retratar estas, considera o responsável.
“Infelizmente, o mundo é cada vez mais injusto, mais desumano e é uma necessidade os artistas refletirem isso nas suas obras”, defende Agostinho Santos ao JPN.
A Bienal Internacional de Arte de Gaia foi criada pela Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural, que conta 40 anos de história, e tem sido apoiada pela Câmara Municipal de Gaia. Ao longo dos anos, o evento cresceu em dimensão e impacto, reunindo cada vez mais artistas e tornando-se na “maior bienal de arte do país”, declarou Agostinho Santos ao JPN.
Editado por Filipa Silva