Membros da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia do Porto são acusados de gravar e partilhar imagens íntimas de colegas sem consentimento num grupo de Whatsapp, segundo denunciaram estudantes e a fundadora da associação Não Partilhes, com quem o JPN falou. A AEFEUP garante que afastou os envolvidos e remete mais esclarecimentos para uma Assembleia Geral na próxima semana.
A FEUP é a maior faculdade da Universidade do Porto. Foto: Bárbara Brochado
Alguns elementos da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia do Porto (AEFEUP) são acusados de terem, sem consentimento, tirado fotografias e gravado vídeos “por baixo das saias” de colegas, durante a Gala de Aniversário da associação, em meados de março, e de terem partilhado essas imagens num grupo de WhatsApp.
O caso foi denunciado, internamente, por múltiplos estudantes da FEUP e foi tornado público esta quinta-feira, nas redes sociais, por Inês Marinho, fundadora do movimento Não Partilhes. Segundo relata, “várias raparigas foram fotografadas por baixo das mesas e das saias, contra o seu consentimento, e expostas num grupo”, citando testemunhos de alunos da FEUP que recebeu.
O grupo de WhatsApp terá oito integrantes, entre eles o atual presidente da AEFEUP, bem como outros elementos e ex-membros da associação de estudantes e terá sido criado com o objetivo de partilhar imagens íntimas de alunas e colegas, segundo Inês Marinho.
A fundadora do movimento Não Partilhes contou ao JPN que já recebe denúncias semelhantes de colegas da FEUP desde 2012 e que “vários ex-estudantes relatam que estes grupos não são novidade e que sempre existiram e que até eram mais graves do que este grupo atual”.
Inês Marinho explicou que esta associação sem fins lucrativos foi criada com o intuito de consciencializar a comunidade estudantil e para “capacitar os professores, os educadores, os doutores, psicólogos” para ajudarem os jovens se forem vítimas de situações desta natureza.
Na quarta-feira, um dia antes da divulgação do vídeo de Inês Marinho, a AEFEUP enviou um email à comunidade académica no qual afirma condenar “veementemente os acontecimentos recentes” sem especificar a que situações concretas se referia. A mesma comunicação indica ainda que “foram e serão tomadas medidas concretas”, incluindo o afastamento dos envolvidos dos cargos que ocupam.
Já na noite de quinta-feira (3), a AEFEUP fez um esclarecimento público sobre o caso. No comunicado, partilhado nas redes da associação, a estrutura fez referência às “mensagens divulgadas nos últimos dias envolvendo alguns dos seus elementos” e confirmou que os envolvidos foram exonerados dos respetivos cargos executivos, com efeitos imediatos e definitivos. Ainda assim, sem especificar quantos ou que membros foram afastados.
Do mesmo modo, o comunicado da associação de estudantes também não esclareceu concretamente a que situações se referia. No entanto, menciona a existência de uma alegada “campanha de desinformação e extrapolação dos factos”, sem contudo desmentirem as acusações.
A direção da FEUP também se pronunciou via email, num comunicado dirigido a toda a comunidade académica, e afirmou estar “a acompanhar, de forma atenta e rigorosa, o evoluir da situação e a tomar todas as medidas adequadas, interna, e externamente junto das entidades competentes, tal como resulta da lei e dos regulamentos internos aplicáveis na Universidade do Porto“.
O JPN contactou um membro da AEFEUP que não quis acrescentar informações para lá das que constam do comunicado publicado pela AEFEUP nas redes sociais e disse ainda que “todos os esclarecimentos serão apurados em sede própria, na Assembleia Geral da próxima semana”. Esta assembleia está prevista para a próxima quarta-feira (9), mas poderá ser antecipada, de acordo com o que o JPN pode apurar junto de outra fonte. Por regra, as assembleias são eventos abertos a todos os estudantes, mas a AEFEUP estará a ponderar restringir o acesso a estudantes da instituição dada a dimensão que o caso ganhou nas redes sociais.
A Federação Académica do Porto (FAP), num esclarecimento nas redes sociais, afirmou não ter recebido “qualquer queixa relativa ao caso” e reiterou a sua proposta para a “criação de um mecanismo nacional“, que inclua uma linha telefónica e/ou um site dedicado que ofereça apoio a estudantes vítimas de assédio ou discriminação. Este sistema vai permitir que os alunos apresentem denúncias de forma segura e confidencial, com o intuito de “diminuir os receios que muitas vezes vigoram nestes casos”.
Editado por Filipa Silva