O terceiro encontro do “Be a Boss” reuniu antigos estudantes da Faculdade de Letras, que criaram os seus próprios negócios, para falarem sobre empreendedorismo. Uma das principais ideias partilhadas é a de que é necessário “mudar o paradigma de ser de Letras”.
Ernesto Sousa, Sara Duarte Brandão e Joana Maia conversaram na FLUP numa sessão moderada por Ana Rita Magalhães. Raquel Sousa/JPN
Porque o empreendedorismo “vem pelo exemplo”, como refere a estudante Ana Rita Magalhães, o projeto BOSS – “Board Of StudentS @UPTEC” – reúne empreendedores alumni de várias faculdades da Universidade do Porto na iniciativa “Be a Boss”.
De forma a aproximar a UPTEC dos estudantes da Universidade do Porto, a incubadora convidou antigos alunos a tornarem-se nos seus embaixadores.
Este ano letivo, Francisco Pinto representa a FEUP, Daniel Lemos é embaixador pela Faculdade de Farmácia e Ana Rita Magalhães é a representante da Faculdade de Letras (FLUP). A estes nomes somam-se os de Gabriel Weber, da Faculdade de Arquitetura, Joana Barbosa, da Faculdade de Belas Artes, Margarida Allen, da Faculdade de Economia e de José Neves, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
Segundo Susana Pinheiro, da equipa de desenvolvimento da UPTEC, a missão do projeto BOSS é “promover o empreendedorismo [e estabelecer a] ligação [entre os estudantes e] os empreendedores.”
Ana Rita Magalhães, estudante de Ciências da Comunicação, criou a SoDigitally, uma startup ligada ao impacto social e ao software, inserida na incubadora de empresas da UP. Ao JPN, a embaixadora conta que o projeto da UPTEC é uma oportunidade para “desmistificar [a ideia de] que o empreendedorismo não é só para quem vai para gestão ou economia”, mas que os jovens de Letras ou de Belas Artes também podem ter projetos empreendedores.
“Nos Estados Unidos, as startups [começam] nas faculdades. Em Portugal, estamos mais habituados ao percurso tradicional: fazer parte de certos grupos académicos ou só estarmos [focados] no curso. Despertar os jovens para estas questões é muito importante”, referiu ainda. Acrescenta que ouvir a experiência de empreendedores de sucesso é imprescindível para o interesse e a vontade dos jovens em empreender.
Neste sentido, o projeto BOSS criou a série de eventos “Be a Boss”, que convida empreendedores de diversas faculdades a conversar sobre o tema e a contarem a sua experiência no mundo do empreendorismo. O terceiro evento do “Be a Boss” teve lugar na FLUP, a 27 de março.
“Mudar o paradigma de ser de Letras”
Paula Pinto Costa, diretora da FLUP, abriu a sessão e elogiou o nome “Be a Boss” pelo “sentido imperativo” na medida em que incute e inspira o estudante a tornar-se “construtor da sua própria carreira”.
Joana Maia, uma das oradoras, é co-fundadora da Mediagaps, uma empresa que desenvolve software para a indústria de media e entretenimento. A ex-aluna da licenciatura de Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Ingleses e Alemães – não teve um percurso profissional linear. Apesar da licenciatura, acabou a trabalhar numa startup de software, devido ao facto de saber falar alemão.
Em 2013, aliciada por um colega de trabalho e desalinhada com a estrutura da empresa onde trabalhava, Joana arriscou e fundou a sua própria startup virada para um mercado de nicho. À margem do evento confessou ao JPN que é imprescindível encontrar as pessoas certas com quem trabalhar e que “as pessoas têm que partilhar os mesmos valores”.
Também Sara Duarte Brandão, licenciada em Design da Comunicação pela Faculdade de Belas Artes e ex-estudante da FLUP, criou uma editora de livros em parceria com a irmã gestora. Esta parceria, refere Sara ao JPN, foi importante na criação da empresa devido ao facto de serem de áreas distintas.
Para a jovem, que sempre gostou de “livros enquanto objetos”, a Truz Truz Editora “tem espaço para existir no meio de outras”. Focada na criação de projetos infantojuvenis, apesar do pouco tempo de vida (cinco anos), a Truz Truz Editora já publicou um livro que integrou o Plano Nacional de Leitura. Em conversa com o JPN, Sara Duarte Brandão afirma que ela própria é “um produto daquilo que é a cultura em Portugal: os apoios são poucos, tens de te mexer e estar em muita coisa ao mesmo tempo.”
A oradora mais jovem do painel retira do evento a ideia de que é, de facto, possível cada um controlar a maneira como usa o seu tempo e que “pode-se ter sucesso, mas criar fronteiras no dia a dia é importante”.
Por sua vez, Ernesto Sousa, ex-estudante de Sociologia, foi investigador criminal durante mais de 20 anos. Durante o evento contou que o seu percurso não foi linear, nunca terminou o curso e não sabe programar, mas criou uma empresa de software que visa a aceleração da justiça. O Sistema Integrado de Informação Processual (SIIP) tem a “capacidade de desencriptação, por exemplo, dos telemóveis bloqueados, assim como a celeridade na obtenção desses dados e a sua interpretação analítica, fazendo a correlação entre os dados encontrados e as tipologias criminais que estavam em investigação.”
No evento, o antigo estudante frisou ser necessário “inverter o cone”, isto é, apontar metaforicamente o bico do objeto à cabeça de forma a ter uma visão alargada da realidade. Ao JPN, acrescenta que um “empreendedor tem que ser mais do que alguém que faz, tem que ser alguém que gere”, ou seja, tem de ter a capacidade de gerir uma equipa e uma empresa.
Apesar das áreas distintas, os três oradores partilham um sentimento em comum: “mudar o paradigma de ser de Letras.” Defendem que as saídas profissionais dos cursos não definem os percursos profissionais, sendo necessário ser persistente. No final, existiu uma sessão de networking, onde os estudantes tiveram a oportunidade de conversar informalmente com os oradores e embaixadores da UPTEC.
O “Be a Boss” já passou pelo ICBAS/FFUP, FEUP e FLUP. Volta a realizar-se na Faculdade de Belas Artes, a 10 de abril, na Faculdade de Arquitetura a 24 de abril e na Faculdade de Economia a 8 de maio.
Editado por Filipa Silva