Mario Vargas Llosa, figura central da literatura latino-americana, faleceu este domingo (13). A morte foi anunciada pela família na rede social X. O trabalho do escritor foi reconhecido com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2010. Em 1990, candidatou-se à presidência do Peru.
O peruano Mario Vargas Llosa publicou 20 romances, um livro de contos, dez peças de teatro, 14 livros de ensaios, dois livros de crónicas e um de memórias. Foto: Hreinn Gudlaugsson/Wikimedia CommonsCC 4.0
Mario Vargas Llosa, figura incontornável da literatura latino-americana, faleceu este domingo (13) aos 89 anos. O anúncio da morte foi feito na rede social X pelo filho, Álvaro Vargas Llosa: “Com profunda dor, tornamos público que o nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje [domingo] em Lima, rodeado pela sua família e em paz”. Também a filha, Morgana Vargas Llosa, partilhou a mensagem. A família informou que as cerimónias fúnebres vão ser realizadas “de acordo com as instruções” dadas pelo escritor, não sendo abertas ao público.
Llosa nasceu a 28 de março de 1936 em Arequipa, no Peru. O impacto e a audiência internacional notáveis incluem-no no “boom” latino-americano, uma geração literária composta por escritores como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo. Em 2010, a vasta obra valeu-lhe a atribuição do Prémio Nobel da Literatura.
Tornou-se numa personalidade multifacetada, que, além de escritor, foi político, jornalista, ensaísta e professor universitário. A componente política sempre esteve muito presente nas suas obras, que se apresentam como declarações de oposição às injustiças sociais, com fortes críticas às desigualdades raciais e hierárquicas.
O percurso de Mario Vargas Llosa na política passou também pela candidatura às eleições presidenciais do Peru, em 1990, a representar uma coligação de centro-direita, contra Alberto Fujimori, que saiu vencedor.
É autor de obras publicadas por todo o mundo como “Conversa n’A Catedral”, “A Guerra do Fim do Mundo”, “A Festa do Chibo”, “A Tia Júlia e o Escrevedor”, “A Cidade e os Cães” e “As Travessuras da Menina Má”. Mario Vargas Llosa deixa uma obra composta por 20 romances, um livro de contos, dez peças de teatro, 14 livros de ensaios, dois livros de crónicas e um de memórias.
A sua escrita, comprometida com a democracia e liberdade, transporta os leitores para mundos e realidades distantes, mais precisamente para, por exemplo, tensões políticas e culturais do Peru e países vizinhos da América Latina.
Além da distinção com o Prémio Nobel da Literatura, em 2010, o romancista peruano foi galardoado com muitos dos mais conceituados prémios literários internacionais, entre eles, o Prémio PEN/Nabokov, o Prémio Cervantes, o Prémio Príncipe das Astúrias e o Prémio Grinzane Cavour.
O livro “A Casa Verde”, publicado em 1967, destaca-se como uma das obras mais galardoadas. Entre as distinções estão o Prémio Nacional do Romance do Peru, Prémio da Crítica Espanhola e o Prémio Rómulo Gallegos.
Em Portugal, Llosa foi editado pela Dom Quixote, durante vários anos. A editora divulgou em comunicado à imprensa que pretende continuar a publicar a obra do escritor peruano. Uma reedição de “As Travessuras da Menina Má” vai ser publicada em setembro, integrada nas comemorações dos 60 anos da editora. As obras do escritor são, mais recentemente, editadas pela Quetzal.
À Renascença, o diretor editorial da Quetzal, Francisco José Viegas, recorda o Nobel da literatura peruano como “um dos grandes autores, uma das grandes referências da literatura contemporânea [que], em Portugal, teve várias gerações de leitores”. O responsável acrescentou ainda que “seria impossível falar da arte do romance e da maneira como nós lemos o romance sem Vargas Llosa”, que deixa um “legado humaníssimo”.
Foram várias as figuras nacionais e internacionais que deixaram uma nota de pesar pela partida de Vargas Llosa.
Em declarações à estação do país natal do escritor Rádio Programas del Perú (RPP), Alfredo Bryce Echenique foi um dos primeiros a manifestar o luto por Llosa, descrevendo-o como “o peruano de todos os tempos”.
Também o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte manifestou o seu luto partilhando no Instagram uma fotografia de uma reunião com Llosa, Javier Marias e Pilar Reyes, que legendou com: “fica sempre um para contar a história, embora, no final haja sempre outros que acabam por contar a história àquele que a conta”.
Dina Boluarte, presidente do Peru, e o governo do país lamentaram a morte do escritor, classificando-o como “um escritor universal e distinto Prémio Nobel da Literatura”.
Editado por Filipa Silva