Livro do atual presidente da Câmara Municipal do Porto é uma coletânea de crónicas, nas quais o autarca aponta o dedo ao sistema, à centralização e ao conformismo político. Apresentação contou com Paulo Portas e uma sala cheia com várias personalidades públicas.

“Ponto Final.” de Rui Moreira foi apresentado por Paulo Portas. Foto: Ana Rita Machado/JPN

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, apresentou esta terça-feira (15), o livro “Ponto Final.”, que representa, de acordo com o próprio, uma despedida dos cargos políticos executivos. “Este livro representa um ponto final. Um ponto final que assinala a passagem para outro parágrafo da minha vida”, afirmou. A sessão decorreu na Biblioteca Almeida Garrett e contou com a presença de várias personalidades.

A obra, ao contrário do que podia ser esperado, não é um livro de memórias nem um balanço da carreira política, mas uma compilação de crónicas escritas ao longo dos últimos anos.

“Ponto Final.” reúne artigos de opinião que chamam a atenção para “comportamentos, ações e decisões”, que, na sua opinião “põem em causa o interesse público e o desenvolvimento do país”, afirma. Entre os temas abordados estão o futuro Aeroporto de Lisboa, a TAP, o TGV, o Estado Social, a Justiça, a Habitação e o Turismo.

O antigo presidente do CDS-PP, Paulo Portas, amigo de longa data de Rui Moreira, foi o responsável pela apresentação do livro, não resistindo a comentar o próprio título: “Se fossem três pontinhos, seria mais justo e mais provável”, afirmou.

Dos temas abordados no livro, Paulo Portas destacou a posição moderada de Rui Moreira em relação a alguns deles como a imigração, referindo que o autarca acredita que Portugal precisa de imigrantes, mas que a sua entrada no país deve ser regulamentada. Sobre as alterações climáticas, sublinhou que Moreira não é “nem negacionista nem fanático quanto as alterações climáticas”.

Entre diversos elogios ao amigo, o antigo líder do CDS-PP salientou a frontalidade de Rui Moreira, sublinhando a sua capacidade de “ser incómodo quando acha que tem razão“, qualidade que, segundo o ex-governante, é cada vez mais rara na vida pública.

Também José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, marcou presença e comentou o título. Para ele, as reticências estão implícitas na declaração de Moreira, quando assumiu que não voltará “a desempenhar qualquer cargo político executivo”, deixando em aberto outros tipos de intervenção.

Rui Moreira reafirmou, no entanto, que não pretende regressar à política, sublinhando a independência que marcou o seu percurso: “Decidi entrar na política executiva pelo meu pé e terei a oportunidade de sair também pelo meu pé”, afirmou. Ainda assim, garantiu que continuará a intervir na vida pública portuguesa.

Já esta quarta-feira, em declarações à Antena 1, no programa Ponto Central, Moreira foi enfático em relação ao tema, sublinhando que “por opção pessoal” este será mesmo “um ponto final” na política: “Cargos políticos executivos, seguramente que não” estão no horizonte, afirmou.

Voltando à apresentação, perante um auditório lotado, o autarca reforçou a sua visão descentralizadora: “Vivemos num país macrocéfalo”, afirmou, referindo-se ao peso excessivo da capital nas prioridades políticas nacionais. “O Porto é a cidade da liberdade. O Porto é intransigente na defesa dos seus interesses e preservação da sua identidade”, afirmou ainda.

Rui Moreira não poupou críticas ao panorama político atual, alertando para os perigos da demagogia e do populismo, tanto da extrema-direita como de outros setores da sociedade. Apontou ainda a influência da extrema-esquerda sobre a esquerda democrática e descreveu o Estado como “anafado” e “imóvel”, incapaz de responder às necessidades de uma população em crescimento.

O lançamento do “Ponto Final.” contou com a presença de familiares e amigos Rui Moreira, além de várias figuras públicas, entre elas o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, o presidente do Futebol Clube do Porto, André Villas-Boas, e o músico Pedro Abrunhosa.

O livro chega às livrarias esta quinta-feira (17) com um valor de 17,70 euros. A 21 de abril, é apresentado na sala de âmbito cultural do El Corte Inglés de Lisboa, pelas 18h30, com apresentação do socialista Sérgio Sousa Pinto.

Bolhão é corolário do mandato

A propósito do lançamento do livro, Rui Moreira passou esta manhã pela rádio pública. Além de ter insistido que não tem no horizonte nenhum cargo político executivo, depois de deixar a autarquia em outubro, Moreira sublinhou que, enquanto presidente da Câmara, cumpriu aquilo a que se propôs fazer no Porto.

Destacou como marcos do seu mandato a reabilitação do Mercado do Bolhão e a reconversão do antigo Matadouro Industrial em centro de arte contemporânea, dois projetos emblemáticos na cidade, com pena, em relação a este último, de não o ver inaugurado antes de sair. “Aquilo que tinha para fazer no Porto já fiz e o que ainda não fiz está a caminho de ser feito”, afirmou. Sobre o que fica por fazer, “gostava que as obras da metro do Porto já tivessem terminado e não estão terminadas.”

Moreira foi ainda questionado sobre eventuais apoios a quem o vai suceder depois de 12 anos à frente da presidência da Câmara do Porto. O independente tentou explicar por que razão não deverá apoiar publicamente qualquer candidato:  “Tendo, entre os meus vereadores, um deles que poderá, eventualmente, ser candidato, o Filipe Araújo, mas outros [vereadores] como a Catarina Araújo juntamente com o Pedro Duarte ou o Fernando Paulo que está com o Manuel Pizarro compreendo que devo manter a coesão da equipa até ao fim e, portanto, não conto, de facto, dar apoio a nenhuma candidato.”

Editado por Filipa Silva