Uma falha de energia geral ocorrida esta segunda-feira (28), por volta das 11h30, deixou Portugal e Espanha sem luz e com muitas dificuldades nas comunicações. Problema teve origem em Espanha, mas a causa do "apagão" da Península Ibérica ainda está em investigação. Montenegro anuncia pedido de auditoria.

Estação de metro da Casa da Música do Porto às escuras e sem metros esta segunda-feira. Foto: Fernanda Lima/JPN

Portugal e Espanha estiveram esta segunda-feira, 28 de abril, sem eletricidade durante cerca de dez horas. O inusitado “apagão” começou por volta das 11h30, hora de Portugal Continental, e prolongou-se até ao início da noite. O corte maciço do abastecimento elétrico teve também implicações nas telecomunicações e no abastecimento de água.

A situação “grave, inédita e inesperada”, como a classificou o primeiro-ministro português, provocou enormes constrangimentos e prejuízos nos mais diversos setores, dos transportes à saúde, da educação à generalidade das atividades económicas. A situação foi entretanto normalizada.

O corte de energia afetou todo o território continental da Península Ibérica, deixando de fora as ilhas, tanto as portuguesas como as espanholas, pelo menos ao nível do fornecimento de energia.

A origem do problema não está completamente descrita pelas autoridades, mas a Rede Elétrica Nacional (REN) referia ontem que a falha decorreu “de uma significativa oscilação de tensões na rede espanhola num momento em que Portugal se encontrava a importar energia de Espanha.” Descartada foi a hipótese de um ciberataque.

Governo pede auditoria e cria comissão técnica

Em conferência de imprensa dada ao início da tarde desta terça-feira, o primeiro-ministro Luís Montenegro confirmou o que a REN e a E-Redes já tinham avançado: o país está agora “ligado” e “os 6,4 milhões de clientes [nacionais] estão a ser alimentados” por energia elétrica.

O chefe de Governo português anunciou ainda, na mesma ocasião, o pedido de uma auditoria independente à Agência de Cooperação dos Reguladores da Energia para encontrar “respostas tão rápidas quanto urgentes” sobre “um problema sério que não teve origem em Portugal”.

A par da auditoria, Montenegro avançou também que vai ser criada uma comissão técnica independente para avaliar a capacidade de reação de Portugal a eventos desta natureza. Terminaram também quaisquer restrições ao abastecimento de combustível, que decorriam da declaração de situação de crise energética decretada ontem. Montenegro elogiou o comportamento dos cidadãos e das autoridades e regozijou-se pelo facto de hoje o sistema elétrico estar a funcionar com produção nacional (ontem, o país estava a importar a energia de Espanha no momento em que o problema se deu).

Do lado espanhol, o primeiro-ministro Pedro Sanchéz afirmou esta terça-feira de manhã que “o pior” tinha passado no país, mas anunciou também uma investigação ao sucedido para exigir responsabilidades e tomar medidas para que não se repita “jamais” um evento do género, relata o “El País”.

Em Portugal, a REN procedeu à reposição da energia de forma progressiva, começando por locais prioritários: “hospitais, forças de segurança, infraestruturas de abastecimento de água e transportes”.

Na região do Grande Porto, a energia começou a voltar pouco depois das 18h00 – por exemplo, em Gaia, na zona de Santo Ovídio -, mas áreas houve onde a energia só chegou já com a noite escura, como nalgumas ruas de Rio Tinto, Gondomar, onde a luz só voltou a ligar depois das 22h00, ou em Leça da Palmeira, já mais perto da meia-noite.

Um dia atípico e de desorientação

Com a falha geral de energia, o cenário que se viveu um pouco por todo o país, foi o de uma desorientação geral, decorrente da falta de eletricidade mas reforçada pelas muitas dificuldades verificadas nas telecomunicações. De um momento para o outro, tornou-se quase impossível realizar chamadas ou aceder à internet.

Nos transportes, o metro parou – esta manhã já estava em pleno funcionamento, no Porto -, os semáforos nas ruas ficaram desligados, lançando algum caos no trânsito – sobretudo em algumas artérias das grandes cidades. Os comboios também pararam, embora, em dia de greve de grande adesão, na CP, o efeito não tenha sido tão notado quanto em dias normais. No Porto, a STCP manteve a operação, apesar do “apagão”.

Nos hospitais, foram canceladas consultas e toda a atividade não urgente, tendo sido ativados os planos de contingência, por exemplo, no Centro Hospitalar São João, o maior da região Norte.

As creches, escolas e universidades, como a Universidade do Porto, optaram por encerrar à hora do almoço e evacuar os edifícios.

No comércio, muitos supermercados das principais cadeias de distribuição fecharam portas ao início da tarde, não sem antes receberem muitos clientes receosos dos efeitos do corte de energia, que “limparam” muitas prateleiras.

Sem muitas informações oficiais – Luís Montenegro terá sido a primeira fonte oficial portuguesa a avançar com um horizonte de resolução do problema ao dizer, pelas 15h00, aos jornalistas, que tinha a expectativa que o problema fosse integralmente resolvido até ao final do dia -, e perante a notícia de que o corte tinha sido geral e ibérico, ao início da tarde formaram-se aglomerados de pessoas junto às mercearias, padarias e supermercados que se mantinham abertos, com pessoas à procura de água, gás, enlatados e pão, como o JPN testemunhou no centro do Porto.

Já mais ao final da tarde, e com o bom tempo que se fez sentir neste dia, viu-se muita gente nas ruas a circular. O assunto era só um: o “apagão”.

A Polícia de Segurança Pública, que se tornou mais visível nas ruas, desde logo nos pontos de maior tráfego automóvel, apelou aos cidadãos, através das redes sociais, para que tivessem especial cuidado na circulação rodoviária. 

O corte de energia na Península Ibérica provocou ainda muitos problemas na aviação, com muitos voos cancelados ou atrasados e fortes constrangimentos no funcionamento dos aeroportos.

Outro efeito colateral do “apagão” foi o adiamento do debate televisivo entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, que estava marcado para a noite de segunda-feira. O frente a frente entre os líderes da Aliança Democrática e do Partido Socialista, que vão a votos nas Legislativas antecipadas de 18 de maio, foi adiado para quarta-feira para as 20h30 e vai ter transmissão simultânea da RTP, SIC e TVI.

Com Fernanda Lima