Na noite em que Bispo foi o cabeça de cartaz, foi a banda brasileira Jovem Dionísio que abriu o palco principal. Com um repertório que mesclou originais e uma versão dos Capitão Fausto, os músicos animaram o público presente. No final, falaram com o JPN sobre a carreira e a vida académica.
Formados por cinco amigos da cidade de Curitiba (Paraná, Brasil), os Jovem Dionísio estrearam-se esta segunda-feira no palco de uma Queima das Fitas. Foi no Porto que o grupo brasileiro tomou contacto com um evento “muito bonito”, nas palavras do vocalista Bernardo Pasquali, encantado com uma festa que é tocada a música, mas que se faz bem para lá dos concertos.
“Acho que tem uma diferença clara ali no público. A galera ‘tá numa onda de uma celebração já até antes de a gente vir, então, o show passa a ser uma celebração dentro da celebração. É muito gostoso encontrar com a galera nesse clima”, confessou Pasquali ao JPN, numa entrevista dada pela banda no backstage logo a seguir ao concerto.
Durante a atuação, o vocalista confessou que demorou sete anos para terminar a licenciatura e que se arrependeu de a ter tirado. Na entrevista ao JPN, considerou que os jovens deviam ter mais tempo para maturarem as suas escolhas: “A gente escolhe esse lance da faculdade e qual curso vai seguir para o resto das nossas vidas numa idade em que você não sabe exatamente o que quer”, refletiu.
Bernardo Pasquali é formado em Engenharia Civil, mas podia ter escolhido “outra coisa que gostasse um pouquinho mais”, desabafou. O cantor acredita que mudar de curso ou esperar alguns meses antes de decidir o que cursar pode ser uma alternativa para tomar a decisão certa, uma vez que “cada pessoa é de um jeito, então, às vezes as decisões não são tão claras”.
Homenagem aos Capitão Fausto
Numa noite que ainda não foi de enchente no Queimódromo, os Jovem Dinísio tocaram para uma plateia curta, mas muito animada. Durante a apresentação, que precedeu a atuação de Bispo, a banda cantou músicas dos álbuns “Acorda, Pedrinho” (2022) e “Ontem eu tinha Certeza” (2024), o disco que acabou nomeado para o Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Ao JPN, a banda destacou o “tamanho dos shows” e a menor “quantidade de erros” como as maiores diferenças do momento atual face ao início da carreira – quando ainda eram chamados de Huff.
O teclista Bernardo Hey recordou que em 2022, quando se apresentaram no Rock in Rio em Lisboa, a banda “nem tinha equipamento direito”. Chegar a Portugal e perceber que as músicas do grupo tinham ultrapassado as fronteiras do Brasil foi um momento revelador para a banda: “a gente viu a maluquice que estava acontecendo: não era só Brasil, era Portugal também”.
E por falar em Portugal, a banda brasileira decidiu incluir no repertório do concerto, para gáudio do público presente, uma versão da canção “Amanhã Tou Melhor” dos Capitão Fausto. Porquê? Segundo o baterista Gabriel Mendes, a escolha da música foi pessoal. “Mendão” morou em Lisboa durante um ano e esse foi o tema que mais ouviu. Bernardo Pasquali enfatizou que a intenção não foi reproduzir a canção original, mas reinterpretá-la à maneira dos Jovem Dionísio, adaptando-a ao estilo e à sonoridade próprios da banda.
O tema serviu ainda de mote para um apontamento sobre as diferenças linguísticas entre o Brasil e Portugal, sobretudo no vocabulário e no sotaque. “Mendão” revelou que, ao ouvir a música dos Capitão Fausto, teve dificuldade em entender totalmente as palavras, devido ao “sotaque bem puxado do português de Portugal”. No entanto, o baterista expressou a sua admiração pela letra da música: “Eu não entendia, só entendia algumas frases. Mas quando eu parei para ler a letra, achei muito daora [porreiro].”
Sobre o processo de composição, o baterista destacou a flexibilidade como ponto-chave do processo: “Depende do dia, do humor, é individual, é em grupo… A gente gosta bastante de mudar o processo também, não ficar no mesmo. A gente sabe que quando faz uma coisa diferente, é aí que ‘tá o ouro.”
Descontraídos e bem-dispostos, antes, durante e depois da atuação, a banda tem a sua tática para manter a sintonia entre os elementos do grupo, que se consideram “uma família”: antes dos concertos, o ritual passa por fazer contato visual em grupo por alguns segundos: É o “famoso olho no olho que a gente faz: antes do show, a gente fica ali na sala e todo mundo se olha muito bem no olho para se sintonizar e para entrar, todo mundo, na mesma energia. É para conectar”, contam.
Segundo Pasquali, a banda está em processo de gravação e composição de novas faixas, agora com uma abordagem mais espontânea e direta: a música será lançada “o mais rápido que der, no tempo dela”, priorizando a produção de conteúdo, ao invés da forma como este será lançado.
Como mensagem final para os estudantes da universidade, a banda ressaltou a importância de aproveitar a jornada académica com leveza e propósito. Incentivaram os jovens a se divertirem, aproveitarem a faculdade e dedicarem tempo ao que realmente gostam, sempre com o olhar voltado para um bem maior: “Não é só porque não é gostoso de fazer que não é importante”, afirmaram. “Mendão” também destacou o valor da educação como ferramenta de transformação: “A arma mais poderosa que a gente pode ter é o estudo, é o aprendizado — para você conseguir usar o teu intelecto como uma arma.”
Bispo encerrou a noite
A noite de segunda-feira encerrou, no palco principal, com a atuação de Bispo. A plateia encheu um pouco mais com a entrada em palco do rapper português, que protagonizou um concerto emotivo, com momentos de alguma melancolia e de grande ligação com o público. Aos estudantes, deixou um repto “vão para onde a vossa energia não é consumida, mas alimentada”.
A Queima das Fitas do Porto prossegue até sábado (10). Esta quarta-feira à noite atuam no Queimódromo o brasileiro WIU e o português T-Rex.
Editado por Filipa Silva