Numa fase de crescente afluência em relação aos primeiros dias de Queima, os concertos de WIU e T-Rex fizeram o público do Queimódromo do Porto vibrar esta quarta-feira (7), com atuações enérgicas e momentos memoráveis. Fãs vindos de vários pontos do país acorreram à Queima das Fitas para assistir a estes dois nomes fortes do hip-hop e trap lusófonos.
Na quinta noite da semana de Queima das Fitas do Porto, desde cedo, dezenas de fãs ocuparam as primeiras filas junto ao palco principal, muitos com camisolas e merchandising alusivos aos artistas da noite.
Entre os muitos fãs presentes, Juliana Neto, de 16 anos, não escondia a emoção. A jovem contou ao JPN que veio de Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda, para poder assistir ao seu primeiro concerto daquele que tem como cantor favorito – T-Rex -, depois de dois anos de tentativas falhadas.
“É a minha primeira vez numa Queima das Fitas, por completo, e está a ser brutal”, comentou. Relativamente ao espetáculo em si, disse ter a certeza de que seria memorável “Estou completamente ansiosa e estou com a expectativa de que vai um ser um concerto incrível, inesquecível, uma coisa de outro mundo”, partilhou.
Para Rafael Crestelo, de 19 anos, foi WIU que motivou a deslocação ao Queimódromo desde Famalicão, onde é estudante de Fisioterapia na Escola Superior de Saúde de Vale do Ave. Ao JPN, Rafael contou que acompanha o rapper há mais de um ano e que o brasileiro é um dos seus artistas preferidos, principalmente pela boa energia e ritmo que caracterizam a sua música. “Isto está um bocadinho vazio ainda, mas espero que isto encha e que seja uma boa noite”, disse em antevisão ao espetáculo.
A expectativa era grande — e não foi defraudada.
O primeiro a subir ao palco foi o brasileiro WIU, pelas 22h00. Com cenografia elaborada, visuais apelativos e uma presença contagiante, o artista rapidamente conquistou a enchente de plateia. Canções como “Coração de Gelo”, “Rainha da Finesse”, “Luiza Sonza”, “Horas Iguais” ou “Vampiro” (que fechou a atuação) foram recebidas em coro, num concerto que ainda contou com a participação surpresa de Ivandro e Mizzy Miles para a interpretação de “Tóxico” – parceria entre os artistas que constituiu um dos momentos altos da noite, por ter terminado com o público em uníssono a entoar o refrão do tema.
No final da atuação, WIU falou com o JPN e não poupou elogios ao público da Queima das Fitas. “Eu sinto que a galera vem já focada em viver o melhor momento da sua vida, eu sinto isso de cada um”, começou por dizer. “Fico muito feliz, porque é esse, exatamente, o tipo de postura que eu gosto de um público quando vou cantar: a galera que está disposta a ter uma noite especial, sair do chão, esquecer qualquer tipo de vaidade em casa e eu vi isso aí hoje”, concluiu.
Sobre futuras colaborações com artistas portugueses, depois do lançamento recente de “Zona Sul”, com Bárbara Bandeira, WIU revelou ser fã do trabalho de T-Rex e já ter falado com o artista sobre a possibilidade de trabalharem juntos.
WIU destacou ainda como o público nacional, à semelhança do brasileiro, “respeita muito qualquer tipo de música, gosta muito de outros ares, outros ritmos, não somente o que está acostumado ou o que toca na rádio e é um público que gosta de descobrir coisa nova”. Para exemplificar, referiu o tema “Rainha da Finesse”, que mistura influências do forró (género musical do nordeste brasileiro) e do trap, mencionando como este foi recebido pelo público português com “mente aberta”, num momento do espetáculo em que WIU sentiu que a plateia se soltou realmente.
Ivandro foi um dos convidados surpresa de WIU durante o espetáculo do brasileiro. Foto: Beatriz Veloso/JPN
Depois de projetos que exploraram referências em diversos géneros musicais, WIU explicou a necessidade de voltar às origens no trap com a última mixtape “808 Club” – lançada em janeiro deste ano – com o facto de gostar de fazer a sua música com inspiração na música que consome. “Acho que tem também fãs que sentem saudade dessa sonoridade, pelo tempo que eu passei brincando em outros ritmos, sendo um camaleão ali dentro do estúdio”, refletiu. O próprio artista admite ter tido vontade de revisitar “clichés” do trap que o atraem, desde as correntes grandes no visual à sonoridade mais soturna nas músicas, sempre com autenticidade.
Para WIU, a participação na Queima das Fitas de Coimbra, a 27 de maio, encerra um ciclo de três espetáculos marcados em Portugal, prometendo uma atuação “muito especial” em Coimbra, e garantindo estar “muito feliz por ter essa oportunidade de oferecer mais para o público português e poder oferecer coisas com mais impacto, shows mais densos, cenografia nova”. “Preparar tudo para ir para tão longe leva você a refletir sobre muita coisa: sobre carreira, sobre as músicas que eu lancei, sobre que existem novos horizontes”, considerou.
T-Rex tem novo trabalho na forja
A encerrar a noite esteve T-Rex, que subiu ao palco já perto da meia-noite e manteve a energia elevada entre os milhares que compunham o público, até ao final. A forte conexão com os presentes foi, sem dúvida, o destaque do espetáculo, também marcado pela plataforma de luzes led que ao longo da atuação ambientou o momento, juntamente com a iluminação e os efeitos pirotécnicos. O rapper português de origem angolana, conhecido pela intensidade emocional das suas letras, brindou o público e fê-lo vibrar com temas como “Tempo”, “Volta”, “Dias” e “Macarena”, este último lançado já este ano.
A meio do espetáculo, T-Rex recorreu ao palco da Queima das Fitas para anunciar que está a trabalhar num novo álbum. “I gotta put in the work. Já lá vão dois anos. Um gajo tem que vos dar de comer”, brincou, referindo-se ao seu último álbum completo, “Cor d’Água”, de 2023.
T-Rex encerrou a noite de quarta-feira, no palco principal do Queimódromo. Foto: Beatriz Veloso/JPN
A atuação foi também momento para T-Rex relembrar as origens do rap na crítica social, e admitindo só há pouco tempo ter começado a prestar mais atenção ao universo da política. Em época de campanha eleitoral para legislativas antecipadas, o rapper aproveitou o momento para sensibilizar o público a não deixar de exercer o seu direito de voto nas eleições de 18 de maio.
Quando já se despedia do palco, os presentes não deixaram T-Rex sair sem mais um clássico. Ao som dos gritos que pediam por “Tinoni”, o artista retomou o concerto para interpretar o tema que que não podia faltar e fechar a noite com o grande entusiasmo do público. Já fora do palco, os fãs puderam adquirir discos e merchandise de T-Rex na barraca da Federação Académica do Porto (FAP), onde o artista distribuiu autógrafos.
A Queima das Fitas do Porto decorre até 10 de maio (sábado). Nesta sexta-feira (09), Lukas Graham, Miguel Luz e Dillaz sobem ao palco principal do Queimódromo, para concertos que prometem trazer uma nova enchente de fãs ao recinto.
Editado por Filipa Silva