O nome do novo papa foi anunciado ao final da tarde desta quinta-feira. O cardeal Prevost, agora Leão XIV, de origem norte-americana, mas com longo percurso missionário na América do Sul, foi o escolhido.

O novo Papa no dia do anúncio, esta quinta-feira, na Basílica de S. Pedro. Foto: Vatican Media

O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi escolhido pelo Colégio Cardinalício para suceder ao Papa Francisco, falecido a 21 de abril. Leão XIV, nome que adotou, será o primeiro Papa agostiniano e o primeiro com origem nos EUA, sendo o segundo a ter nascido nas Américas, depois de Jorge Mario Bergoglio (1936-2025), nascido na Argentina.

Esta quinta-feira, no segundo dia de votações e à quarta ronda, o muito aguardado fumo branco saiu da chaminé da Capela Sistina, para grande comoção dos fiéis que na altura se encontravam na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Pelas 19h13, uma hora e cinco minutos depois de o fumo e os sinos confirmarem que os 133 cardeais-eleitores tinham chegado a um nome, Dominique Mamberti assumou à varanda central da Basílica de São Pedro para dizer Habemus Papam”. Coube ao cardeal francês de origem marroquina revelar o nome do 267.º Papa.

Nascido em Chicago, nos EUA, em 1955, o cardeal Prevost, agora Leão XIV, tem pai com ascendência francesa e italiana e mãe com ascendência espanhola. Cresceu com a família, estudou e fez a profissão de fé nos EUA, tendo ingressado na Ordem de Santo Agostinho, em St. Louis, em 1977. Em 1985, pelos 30 anos, foi enviado para uma missão agostiniana no Peru, país onde acabou por passar duas décadas da sua vida, e do qual adquiriu nacionalidade em 2015.

Francisco nomeou-o Bispo de Chiclayo, no norte do Perú, em 2015, e chamou-o a Roma, em 2023, para fazer dele Prefeito do Dicastério para os Bispos, cargo em que era responsável pelo aconselhamento do Papa nas nomeações de bispos em todo o mundo.

“Paz” e “pontes” dominam primeiro discurso

Na primeira vez em que se dirigiu aos fiéis, o Papa Leão XIV usou dez vezes a palavra “paz” na sua breve intervenção.

Lembrou o Papa Francisco, a quem agradeceu, e na linha do antecessor deixou apelos à paz, à justiça, ao diálogo e à inclusão de “todos”: “Devemos procurar juntos o modo de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher a todos, como esta Praça, de braços abertos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo e de amor.”

Assumindo-se como “filho de Santo Agostinho”, Leão XIV considera-se acima de tudo um “missionário”, como revelou numa entrevista ao Vaticano News há dois anos, quando assumiu funções no Dicastério.

A universalidade do catolicismo, a proximidade com as comunidades e o sentido de serviço são valores que o novo Papa evocou como fundamentais a qualquer bispo. “Não podemos cair na tentação de viver isolados num palácio, satisfeitos com um certo nível social ou um certo nível dentro da igreja. E não nos podemos esconder atrás da ideia de autoridade que não faz mais sentido hoje”, disse na mesma entrevista.

Sobre a relação da Igreja com as sociedades modernas, o Papa falou esta sexta-feira, na sua primeira missa diante dos cardeais.

Como foi eleito o novo papa? Depois de uma missa e de um juramento em que prometem guardar segredo sobre a reunião, sem acesso a TV, jornais, rádio ou internet, 133 cardeais de 71 nacionalidades reuniram-se em conclave na Capela Sistina. Quatro eram portugueses (António Marto, Américo Aguiar, Manuel Clemente e Tolentino de Mendonça). Por dia, estão previstas quatro votações. A primeira votação, na tarde de quarta-feira, resultou num fumo negro, já ao final do dia. Na manhã de quinta, realizaram-se mais duas votações, de novo, sem sucesso. À quarta, saiu fumo branco. É necessária uma maioria de dois terços para eleger o Sucessor de Pedro.

Leão XIV falou de uma instituição que precisa de ser vivida pelos seus e percecionada pelos outros de outra forma: “hoje, não são poucos os contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo destinada a pessoas débeis e pouco inteligentes; contextos em que a ela preferem-se outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”, afirmou, para à frente concluir: “não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre quem não crê, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático.

Num momento da história em que tanto se fala dos EUA, mormente pela figura do seu atual presidente, Donald J. Trump, a nacionalidade norte-americana do Papa não passou despercebida, mas Leão XIV será, nas palavras do jornal italiano “La Republica”, “o menos americano dos [cardeais] americanos” do conclave, afastado das posições mais conservadoras da Igreja e com intervenções públicas nas redes sociais em sentido contrário a afirmações ou posições de responsáveis da atual administração norte-americana. O “National Catholic Reporter”, dos EUA, apresenta-o como um apoiante do Papa Francisco na sinodalidade – defesa de uma igreja mais participativa, unida e missionária – e nos seus esforços reformistas da Igreja.

A escolha do nome – no encalço de Leão XIII (1878-1903), autor da encíclica inaugural da Doutrina Social da Igreja – é também indiciadora do seu pensamento.

Depois de uma das decisões mais rápidas da história dos conclaves cardinalícios, o Papa Leão XIV tem já vários eventos na agenda, a começar por um encontro com os cardeais, este sábado, com a imprensa internacional, na segunda-feira, e com o corpo diplomático do Vaticano, na sexta. Para domingo, 18 de maio, está agendada a missa inaugural do Pontificado. Será às 10h00 locais (menos uma hora em Portugal Continental) na Praça de São Pedro.