Com 30% do investimento da Queima das Fitas direcionado para a segurança e saúde, os Bombeiros Voluntários do Porto e a equipa de psicólogos da Queima detetam melhorias nas condições e na conscientização do público para os exageros.
Bombeiros, estudantes de enfermagem e psicólogos ajudam à prevenção de riscos na Queima. Foto: Beatriz Veloso/JPN
A Queima das Fitas do Porto é um ambiente de festa, celebração e música que, todos os anos, reúne dezenas de milhares de estudantes e entusiastas para celebrar. Pelo seu caráter festivo e juvenil, também engloba riscos associados ao consumo excessivo de álcool e substâncias psicoativas, quedas, incêndios e violências de género. Para garantir a segurança, estão presentes na Queima uma equipa dos Bombeiros Voluntários do Porto (BVP) e uma equipa de Prevenção e Controlo de Riscos (PCR).
Em entrevista ao JPN, o comandante dos BVP, Luís Silva, afirmou que o público parece estar mais consciente e controlado relativamente ao consumo de álcool, relativamente aos outros anos: “Noto realmente diferenças. Eu penso que, após o Covid, o cidadão estudantil mudou o seu comportamento. As pessoas parecem ter mais consciência daquilo que é o exagero no álcool, principalmente. Mudou para melhor”.
Os Bombeiros Voluntários do Porto fazem trabalho de prevenção em diversos eventos, como as festas de São João ou os festivais Primavera Sound e North Music Festival. O maior desafio para operar num evento dessa dimensão, segundo o comandante, é “ter disponibilidade de pessoal com vontade de colaborar num evento desses”.
A equipa deste ano é formada por 24 bombeiros efetivos, que “estão em permanência desde 19h30, aproximadamente, até as 6h30”. Para além dos bombeiros voluntários, o apoio clínico inclui estudantes de enfermagem, em “estágio de observação”, que têm a oportunidade de experienciar a prevenção pré-hospitalar do evento.
“Nós conseguimos colocar os estudantes de enfermagem a observar aquilo que é a vertente pré-hospitalar, eles acompanham esse processo, até porque os estudantes têm outra visão das coisas. Dentro do apoio clínico e do posto médico podem observar mais coisas fora do âmbito habitual deles”, contou o comandante.
Raquel Machado, estudante do terceiro ano de enfermagem da Escola Superior de Saúde do Porto e responsável executiva pela Saúde e Segurança da Queima, já tinha participado no evento no ano passado e voltou este ano com novas responsabilidades. “Eu sinto que este ano, de certa forma, as pessoas estão um bocadinho mais consciencializadas e responsáveis”, declara. “Essa experiência é realmente muito gratificante. Aquela parte pré-hospitalar, que é quando estamos no terreno, isso nós não temos no estágio. Não existe nenhum tipo de estágio pré-hospitalar, mesmo estágios a nível de urgências é reduzido”, afirma. A estudante demonstrou entusiasmo ao participar na Queima exercendo a sua função.
A Queima das Fitas conta ainda com o “Abrigo-(te)”, orientado pela Comissão de Prevenção de Comportamentos de Risco (PCR). O objetivo do projeto é prestar auxílio a pessoas em situação vulnerável ou alvo de violência de género.
“Essas noites são bastante desafiantes. No foro psicológico, o consumo de álcool e de substâncias acaba por desencadear comportamentos e algumas crises até, principalmente de ansiedade”, afirmou Joana Moita, psicóloga do Abrigo-(te).
A equipa de prevenção de riscos é formada por três psicólogos, para além de comissionistas, técnicos do ICAD [Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências] e “colaboradores espalhados pelo recinto, que vão fazendo reconhecimento e verificam se há comportamentos de risco, e sinalizam”.
Segundo a nota de imprensa da Federação Académica do Porto (FAP), 30% do orçamento do evento foi direcionado para reforçar a segurança e PCR, “garantindo a presença de aproximadamente 500 efetivos entre PSP, segurança privada e bombeiros, a que acresce o acompanhamento nas torres de segurança e os sistemas de vídeovigilância que cobrem todo o recinto”. O financiamento também foi direcionado para a formação de profissionais, para que pudessem lidar com as ocorrências específicas da Queima das Fitas. Para além disso, a FAP sensibilizou o público para a campanha “Queima Segura”, com comunicações nas redes sociais e no recinto para reforçar a importância do respeito, cuidado e intervenção responsável.
“Sinto que, em termos de recursos e nas questões de público, acho que estão mais consciencializados. Conseguimos aumentar o tamanho do nosso contentor, aumentar o número de comissionistas, o Abrigo-(te) todas as noites tem técnicos e profissionais da área da psicologia. Temos mais vias de comunicação, é um ponto muito benéfico”, afirmou Ariana Moreira, coordenadora da comissão da PCR e estudante de psicologia da Universidade do Porto.
Como mensagem final, os entrevistados da equipa sensibilizaram os estudantes para divertirem-se, com responsabilidade: “Tentem balancear aquilo que é diversão e aquilo que é o consumo excessivo”, aconselhou a psicóloga. O comandante dos Bombeiros recomenda “ouvirem a opinião dos mais velhos”, pela sua experiência “de idade” e “da vida académica”. As estudantes de psicologia e enfermagem, por sua vez, reforçaram a importância da diversão consciente, e relembraram que, caso os estudantes necessitem, a PCR e o apoio clínico estarão dispostos a ajudar.
Editado por Filipa Silva