Naquela que foi a sétima e última noite da Queima das Fitas do Porto, Nininho Vaz Maia protagonizou um concerto marcado pela emoção e por uma forte ligação com os cerca de 25 mil fãs presentes no Queimódromo, na sua primeira atuação depois de ter sido notícia num caso de polícia.
Nininho Vaz Maia subiu ao palco da Queima das Fitas do Porto, este sábado à noite, depois de uma semana em que o seu nome foi associado a uma investigação policial por alegado envolvimento numa rede de tráfico de droga e branqueamento de capitais. No primeiro concerto depois da polémica, o artista entregou-se por completo ao espetáculo e foi recebido com entusiasmo desde os primeiros momentos da noite.
Ainda o palco principal tomava forma, já se ouviam fãs a gritar pelo nome do cantor. Durante o concerto, o público não hesitou em demonstrar apoio, nomeadamente através de cartazes que não passaram despercebidos ao artista, que se mostrou comovido em diversos momentos da atuação.
A abertura do espetáculo fez-se ao som de “Bébé”, e ao longo do concerto seguiram-se vários dos maiores sucessos do cantor, como “E Agora”, “Te Quiero”, “Hoje Estou Chateado” ou “Gosto de Ti” – tema no qual Nininho adaptou a letra para declarar-se ao público: “Eu gosto de vocês”, cantou. A interpretação de “Foste Embora” foi um dos momentos mais intensos da noite, e com a participação espontânea de três fãs – Cátia, Francisca e Rutner – que se juntaram ao cantor em palco. O espetáculo encerrou com “Calón”, um dos mais recentes lançamentos de Nininho.
Para além da música, também o ambiente cénico contribuiu para o impacto do concerto, com recurso a uma banda extensa — incluindo corista e bailarina – luzes de fundo dinâmicas e lançamento de confettis, num espetáculo visual que complementou a forte emoção e ligação vivida entre artista e público. A plateia era diversa, ultrapassando as fronteiras estudantis habituais da Queima e reunindo pessoas de várias faixas etárias.
A emoção do artista foi visível ao longo de toda a atuação, com agradecimentos constantes e uma mensagem de determinação que deixou gravada já perto do fim: “Eu não vou parar. A minha música não vai parar. A minha voz não vai parar. Eu vou viver sempre e cantar sempre à minha maneira, porque não sei ser doutra forma. Vocês, vivam à vossa maneira. Coragem! Sem medo algum! Obrigado de coração.”
Apesar de ter sido a atuação de Nininho Vaz Maia o destaque da noite, também os Dealema e os Hybrid Theory marcaram presença com atuações que conquistaram o público, ainda que com uma afluência mais tímida.
Os Dealema, grupo de hip-hop de Vila Nova de Gaia, celebram 30 anos de carreira em 2026 e revisitaram, na sua atuação, temas icónicos como “Mais Uma Sessão”, “Demónio” e “Talento Clandestino”, num concerto que também celebrou os 20 anos da estreia do grupo na Queima das Fitas do Porto. Ao lado de temas clássicos, incluindo alguns lançados a título individual por alguns dos integrantes do quinteto, os Dealema apresentaram pela primeira vez ao vivo o novo single “Doutros Tempos”, parte de um álbum a lançar no próximo ano, e contaram também com a presença de ACE (MindDaGap) em palco, para a interpretação de “Brilhantes Diamantes” num dos momentos altos do espetáculo. Mundo Segundo, parte integrante dos Dealema, finalizou a atuação dando destaque à importância e particularidade da união do grupo ao longo de quase três décadas, num género onde o “individualismo” é cada vez mais frequente.
Para encerrar a noite e a edição de 2025 da Queima, subiram ao palco os Hybrid Theory, banda portuguesa de tributo aos Linkin Park que tem alcançado grande sucesso, nacional e internacional. Sempre com muita energia e constante interação com o público, interpretaram temas como “Numb”, “What I’ve Done” e “Points of Authority”, revivendo o legado de uma banda que marcou gerações.
Presidente da FAP fala em “edição de sucesso”
Na última noite da Queima, Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), fez um balanço positivo do evento: “Foi uma edição de sucesso, marcada pela festa, pela tradição, mas também pela segurança e responsabilidade”, afirmou em declarações ao JPN. Segundo a FAP, passaram pelo Queimódromo mais de 230 mil pessoas ao longo da semana – um número abaixo do registado em 2024, algo que o responsável justifica com a meteorologia desfavorável nos primeiros dias.
O maior desafio logístico, segundo Francisco Porto Fernandes, foi precisamente esse: “Há necessidade de alterações ao nível dos palcos, de material que pode estragar-se, e de uma estratégia para garantir que a experiência continua a ser positiva.” Ainda assim, a quebra na afluência foi, segundo o presidente da FAP, recuperada a partir de terça-feira e a Queima das Fitas de 2025 fica registada como uma das edições do evento com maior afluência.
A segurança foi novamente uma prioridade nesta Queima das Fitas do Porto, e também neste plano o responsável estava satisfeito no final: “Há pequenas incidências, continuamos a ter, às vezes, um ou outro conflito, mas que rapidamente é sanado, pela equipa de segurança privada ou pela PSP (…) Temos muito menos evacuações do que era comum há cinco anos”, afirmou o presidente da FAP, que referiu ainda a articulação positiva entre PSP, bombeiros e segurança privada, com reuniões e briefings diários ao longo da semana.
“Ninguém sozinho consegue fazer deste evento algo aprazível, seguro. Todos juntos conseguimos de facto fazer com que tudo corresse pelo melhor”, acentuou.
Francisco Porto Fernandes satisfeito com a Queima deste ano. Foto: Rita Vila Real/JPN
Os pagamentos, questão problemática em anos anteriores, foram otimizados em 2025, com um sistema totalmente baseado em cartões bancários, criado em parceria com a SIBS e o MBWay, o que permitiu “reforçar a rede e evitar falhas”.
A vertente ambiental também não foi esquecida. “Vamos conseguir números muito bons ao nível da reciclagem, tal como nos últimos dois anos”, avançou Francisco Porto Fernandes, que destacou a crescente responsabilidade dos estudantes neste sentido. Esta edição teve também como destaque a oferta de dois mil bilhetes a estudantes bolseiros.
Quanto ao impacto económico, as previsões são animadoras. Com base num estudo realizado pela FEP em 2024, o impacto do evento na cidade do Porto terá rondado os 30 milhões de euros, valor que, este ano, poderá subir devido à inflação, explicou Francisco Porto Fernandes. “É o segundo maior evento da cidade, só atrás do São João”, garantiu.
Parte das receitas da Queima das Fitas do Porto tem sido aplicada em projetos concretos para a comunidade académica. Depois da abertura de uma residência estudantil pela FAP há dois anos, está prevista para setembro a inauguração de uma nova unidade no Marquês. Em 2025, também será reaberto um auditório [localizado no edifício-sede da FAP, no Campo Alegre] encerrado à Academia há mais de uma década, com obras financiadas pelas receitas da Queima e que permitirá a realização de eventos e palestras diversos, dinamizados até por grupos académicos, explicou Francisco Porto Fernandes.
O presidente da FAP fez também menção ao esforço para evitar subidas nos preços dos bilhetes, algo que diz ser conseguido sobretudo através do recurso a patrocínios. “A Queima das Fitas é a festa dos estudantes, mas acaba por ter uma marca identitária, que é realmente poder ver bandas internacionais e artistas de topo nacional a preços muito reduzidos”, considerou.
A edição de 2025 da Queima das Fitas terminou no passado sábado, 10 de maio. O compromisso da da FAP é claro: Francisco Porto Fernandes fala “na vontade de ter melhores artistas, melhores espetáculos, maiores palcos” e “melhor festa” para os estudantes. Até à próxima Queima das Fitas, o Queimódromo volta ao silêncio – mas, com certeza, com muitas memórias para mais tarde recordar.
Editar no Filipa Silva