Líder do PAN esteve, esta quinta-feira à tarde, na Federação Académica do Porto, onde ouviu falar de falta de alojamento e de democracia no Ensino Superior. Voltou a apelar ao voto "nas causas" e afirmou que, como deputada única, trabalhou "mais do que 50 deputados do Chega".
Inês Sousa Real foi recebida na FAP esta quinta-feira (15). Foto: Filipa Silva/JPN
O Porto precisava de 12 a 15 mil camas para estudantes deslocados, mas o número não chega às 18 mil em todo o país. A Universidade do Porto tem mais de 35 mil alunos, mas o seu órgão máximo é eleito por 23 pessoas. Na academia do Porto, onde estudam mais de 80 mil jovens, mais de 70% pensa em emigrar.
Depois de ter reunido com associações académicas em Lisboa e em Coimbra, a líder do PAN, Inês Sousa Real, passou esta quinta-feira (15) pela sede da Federação Académica do Porto (FAP) para ouvir o presidente da estrutura falar sobre “o problema gritante” da falta de alojamento estudantil, a “falsa democracia” em que vivem as instituições e da “sangria de talento” que está a afetar Portugal.
A deputada única do PAN ouviu com atenção Francisco Porto Fernandes a apresentar o “Caderno de Medidas da Academia para o país” que a FAP entregou aos partidos com assento parlamentar – AD, PS, Chega, IL, CDU e Livre também por ali passaram.
Inês Sousa Real quis saber de quantas camas precisariam os estudantes do Porto e ouviu do presidente da FAP que, para uma academia onde 40% dos estudantes são deslocados, “12 a 15 mil seria o ideal”, mas o país está a léguas desses números – “não chegam a 18 mil ao nível nacional”. “É preciso vontade política”, insistiu o líder da FAP, ao notar que “90%” do investimento que está a ser feito nesta altura em novas camas vem do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR, fundos europeus), e só 10% do Orçamento do Estado.
A revisão do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES) também esteve em cima da mesa da reunião. “Hoje vivemos numa falsa democracia nas IES. Um reitor na UP é eleito por 23 pessoas. Seis dessas pessoas são escolhidas pelas outras 17. Não faz sentido”, disse Porto Fernandes.
Questionado sobre a proposta de revisão do Governo no que à proporção de votos diz respeito para eleger reitores e presidentes das instituições de ensino superior, o presidente da FAP considerou “surreal” que o peso da votação dos antigos alunos na eleição de um reitor ou presidente possa passar os “10%” (a primeira proposta do Ministério da Educação apontava para os 25%). Uma eleição aberta ou um modelo baseado numa assembleia eleitoral especialmente constituída para o efeito em ano de eleições, seria a proposta da FAP.
No encontro, falou-se ainda da semana de quatro dias no Ensino Superior e, claro, de propinas. A FAP defende que o valor se mantenha congelado nas licenciaturas e que haja um teto nos mestrados que dão acesso à profissão. Inês Sousa Real diz que “acompanha esta posição” da FAP.
A líder do Pessoas Animais Natureza partilhou ainda algumas propostas do partido na questão do alojamento, dando como exemplo a necessidade de atualizar o levantamento das casas devolutas do Estado para as reabilitar e colocar neste mercado. No plano do bem-estar dos estudantes, referiu a proposta de elevar o rácio de psicólogos para 1 por cada 500 estudantes, aplicado no ensino básico e secundário.
Falou-se ainda do cheque-psicólogo e do cheque-nutricionista, medida implementada pelo Governo em funções, com Sousa Real a concordar com Francisco Porto Fernandes que disse que a medida “tem de ser de emergência e não estrutural”, sob pena de levar as instituições a descurarem o investimento que há a fazer nesta área.
Uma deputada que trabalha por “50”
No final da reunião, com o cabeça de lista pelo Porto, Hugo Alexandre Trindade, ao lado, Inês Sousa Real desfiou aos jornalistas algumas das propostas do partido que visam os jovens em geral e os estudantes em particular. “Temos que conseguir capturar e garantir que em Portugal fica o nosso talento e ficam os nossos jovens”, disse.
Questionada sobre o caso que dominou esta reta final da campanha eleitoral – a saúde de André Ventura, líder do Chega, que voltou a sentir-se mal na manhã de quinta-feira – Inês Sousa Real desejou boa recuperação ao candidato e considerou que o caso deve fazer pensar sobre a forma como se cuida da saúde e do bem-estar na política.
Daí saltou para a necessidade de garantir estabilidade por via de “uma legislatura completa no próximo ciclo”, para não “andarmos sempre de ato eleitoral em ato eleitoral”.
À procura de voltar a eleger pelo Porto – há duas legislaturas que a líder do PAN é a única eleita do partido -, Inês Sousa Real frisou que vê neste distrito “a possibilidade de resgatar um grupo parlamentar” e voltou a apelar a que os eleitores “votem com o coração nas causas em que acreditam”, contrariando a ideia do voto útil.
Sobre os motivos que podem ter conduzido o partido a perder a força que teve em 2019 – quando elegeu quatro deputados -, a líder do PAN puxou da folha de serviço para dizer que “o PAN, como uma deputada única, trabalhou mais do que 50 deputados do Chega“.
Inês Sousa Real jantou ao final do dia no Porto. A campanha eleitoral do PAN é encerrada esta sexta-feira, em Lisboa.