Balões, bandeiras, rosas e tambores. Acenos, abraços e muitos beijinhos. Assim se fez a arruada do PS pela rua de Santa Catarina. Há um ano, a chuva castigou a caravana do PS na habitual descida da Rua de Santa Catarina, mas esta quinta-feira (15) a história foi diferente.

Na Praça da Batalha, a concentração do partido socialista começou muito antes de Pedro Nuno Santos chegar. Aos poucos, iam-se juntando cada vez mais apoiantes. Exibiam-se bandeiras, balançavam-se balões, rufavam tambores. Mas, acima de tudo, era a expectativa que pairava no ar. 

Evangelina Almeida é uma das militantes que espera conseguir ver o líder do partido. Confessa gostar muito do PS, já desde o 25 de Abril. Admiradora de Mário Soares, este ano, seguiu a caravana socialista desde o início da campanha eleitoral, pela primeira vez e aos 85 anos.

A militante vê várias qualidades do co-fundador do PS em Pedro Nuno Santos e acredita que, “se os colaboradores o apoiarem como os outros [lideres do PS] foram apoiados, ele é capaz de ser um bom primeiro-ministro”. Evangelina assume que uma vitória do Partido Socialista no próximo domingo “era o maior gosto da vida”.

Nuno e Laura Leitão aguardam também pelo líder socialista. Estou incondicionalmente com o Pedro Nuno Santos. É o maior! Vai ser um grande primeiro-ministro”, diz Nuno Leitão ao JPN. O casal afirma estar “completamente, a 100%” com o líder socialista e, questionado sobre o motivo dessa confiança, repete: “competência, competência, competência”. 

Sobre os resultados de domingo, o casal não partilha da mesma opinião. Laura Leitão defende uma solução à esquerda, ou pelo menos um bloco central, para que as crises de instabilidade política acabem de uma vez por todas. Já Nuno Leitão não concorda com um entendimento entre PS e PSD e afirma que um bloco central “seria mau para Portugal, mau para a Economia e mau para o desenvolvimento do país”. “Tem que haver alternativa. Ou uns, ou outros. Não há mistura, se não não dá em nada”, acrescenta Nuno. 

Entretanto, pouco depois das 17h00, o líder do PS chega à Praça da Batalha, onde altas figuras do partido já o esperam, juntamente com centenas de apoiantes. 

Pedro Nuno Santos é abordado desde a chegada à praça. O nome do partido é sucessivamente entoado. Nessa altura, os jornalistas questionam o líder socialista sobre a dimensão da multidão. O candidato a primeiro-ministro não esconde a satisfação do momento e diz-se confiante na vitória. 

“É uma loucura. O Partido Socialista vai ganhar estas eleições e o Porto está a demonstrar isso mesmo. Já estive aqui várias vezes, nunca vi isto”, garantia no penúltimo dia de campanha.

O início da arruada serviu também para reforçar a posição socialista em relação ao motivo das eleições: “Está uma loucura! É um sinal de grande entusiasmo. Os portugueses que não queriam estas eleições não vão premiar quem os atirou para elas e vamos ter uma mudança”, reiterou.

Em marcha lenta, o secretário-geral do PS recordou o desfile por Santa Catarina do ano anterior e antecipou, mais uma vez, o resultado do próximo domingo: “Muito mais gente, muito entusiasmo, muita alegria… Vamos ganhar! Tenho a certeza que vamos ganhar as eleições.” 

Muitos tentaram chegar a Pedro Nuno Santos, mas foram poucos os que realmente conseguiram. Gritavam expressões de apoio ao secretário-geral: “Força, vamos ganhar”, diziam. Tinham também pedidos a fazer: “Não deixes a AD ganhar, não deixes!” 

Entre empurrões, a caravana socialista avançava pela Rua de Santa Catarina. Ao lado de Pedro Nuno Santos, estiveram sempre Francisco Assis, atual eurodeputado, Fernando Araújo, sucessor de Assis como cabeça de lista pelo Porto, Nuno Araújo, líder da distrital, Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos, e Marco Martins, ex-presidente do município de Gondomar e presidente dos Transportes Metropolitanos do Porto, entre outros.

Na arruada surgem, aqui a ali, cartazes, nos quais se pode ler “fim das propinas”, “100% energias renováveis”, “tetos máximos de dois mil euros nos mestrados”. São algumas medidas do partido, ainda que parte delas não sejam especificamente descritas no programa eleitoral para 2025.

Já em plena Rua de Santa Catarina, entre esplanadas e lojas comerciais, caem, de uma varanda, pétalas de rosa vermelhas. Os jornalistas abordam novamente Pedro Nuno Santos. Desta vez, é questionado sobre declarações do socialista Álvaro Beleza, que, no dia anterior, disse que, “às vezes, é melhor perder do que abdicar de princípios”. Pedro Nuno prefere não considerar esse cenário, rindo-se e respondendo: “Nós vamos ganhar, homem! Não vê isto?”.

A arruada avança com abraços, beijos e mais cânticos: “Vitória, vitória, vitória”. Já no palanque, Pedro Nuno Santos começa a discursar, na interseção da Rua de Santa Catarina com a de Fernandes Tomás. Foi de costas para a Capela das Almas que o candidato fez o último apelo ao voto. Passavam 45 minutos da sua chegada.  

Apoiantes do partido atiraram pétalas de rosa para a caravana, a partir das varandas. Foto: Leonor Araújo/JPN

“Este é o partido que governa para todos”, insistiu, lançando um novo apelo ao voto útil: “Não dispersem o voto, estamos à beira de uma vitória e de derrotar a AD. Mas para isso precisamos que as pessoas vão votar”.

Pedro Nuno Santos reiterou que o PS precisa de ganhar as eleições de domingo para garantir a estabilidade que a AD não conseguiu, para “castigar quem provocou a crise”, para “defender as pensões” e “para salvar o SNS com Fernando Araújo”. Esta ambição anima novamente a multidão. Grita-se pelo Serviço Nacional de Saúde em uníssono. Manuel Pizarro, candidato à Câmara do Porto nas eleições autárquicas e ex-ministro da Saúde esteve ausente desta ação de campanha. 

No final do discurso, pequenos papéis pintam a rua de Santa Catarina com as cores da bandeira nacional. Pedro Nuno Santos desce do palanque e é novamente engolido pela multidão. Conversa com algumas pessoas e acena. Dirige-se ao carro que o espera, acena uma última vez e desaparece pelas ruas do Porto. No local ficam ainda muitos apoiantes e figuras do partido. 

Balanço da arruada socialista

No rescaldo da descida de Santa Catarina, em delcarações ao JPN, Francisco Assis mostrou estar em sintonia com o espírito e confiança de Pedro Nuno Santos: “Foi uma boa arruada, de meu ponto de vista, com muita gente, com uma grande participação popular. Creio eu, mais do que nos anos anteriores. Será talvez o prenúncio de um bom resultado que o PS obterá no próximo domingo.”

O eurodeputado defende que o PS é o partido que tem as propostas mais moderadas e equilibradas, que “apontam de forma mais sólida para o crescimento económico e para uma justa distribuição desse crescimento económico, tendo em vista a satisfação das expectativas dos vários setores da sociedade portuguesa, nomeadamente os mais fragilizados”.

Francisco Assis falou também sobre o resultado do partido no Porto nas últimas eleições legislativas: “[Em 2024], perdemos por mil votos, tivemos aliás um bom resultado no contexto nacional. Espero que, este ano, o PS ganhe aqui no Porto e julgo que estão criadas as condições para isso”.

Jacinta Sampaio, de 23 anos, também falou com o JPN sobre o resultado eleitoral de 2024, recusando atribuir culpas exclusivamente ao partido: “Não é algo que está inerentemente relacionado com o Partido Socialista, mas sim com aquilo que é o eleitorado jovem e é por isso que nós também devemos analisar o eleitorado jovem com uma lente mais profunda“.

A militante da Juventude Socialista sublinha o facto de o programa eleitoral do PS ter 236 páginas e destaca que “repousa muito nos jovens” e nas suas prioridades e flagelos.

De recordar que, no ano passado, o PS foi ultrapassado pela AD e pelo Chega na votação dos jovens entre os 18 e os 35 anos.

Maria Silva é outra das apoiantes que ficou a conversar na Rua de Santa Catarina. Tem 81 anos, está reformada, mas continua a trabalhar. A vida do partido é uma das coisas que ainda lhe dá alento para o dia a dia. Acompanhou todas as deslocações da caravana socialista no Porto, ao longo das semanas de campanha eleitoral, e considera que a arruada não podia ter sido melhor: “Foi formidável! Melhor que a do ano passado”.

A apoiante socialista partilha ainda a perspetiva que tem sobre os resultados de domingo: acredita que a vitória vai ser do PS, mas “queria que ganhasse com a maioria” para “o Ventura e o Montenegro não andarem a meter o nariz”.

Outro apoiante do partido que estava ali ao lado, preferiu não se identificar, mas atacou Luís Montenegro. “Ele julgava que ia ganhar como o António Costa. Estava convencido que ia ganhar com a maioria. Ele tem que ganhar mas é juízo”, disse num tom irónico.

Luís Montenegro e os apoiantes da AD também estiveram na Baixa do Porto e atravessaram Santa Catarina, pouco depois da arruada socialista. Os percursos e o horário de partida foram diferentes, mas chegou a recear-se um cruzamento entre as duas caravanas, o que não chegou a acontecer. Foi a última ação de campanha do partido e da coligação no Porto, antes das eleições legislativas que se realizam este domingo, 18 de maio.

Editado por Filipa Silva