O Pela Tua Saúde! é um programa do JPN sobre saúde focada nos jovens. Neste episódio, o primeiro da temporada, o sexólogo Vítor Covelo fala sobre vários pontos: dos problemas que mais levam os jovens a consultas de sexologia até ao impacto do mundo virtual na sexualidade. A violência sexual, os fetiches ou o sexo entre pessoas com deficiência foram outros tópicos abordados.
Áudio do programa
Transcrição completa do programa
Cláudia Campilho (CC): Olá, sejam bem-vindos ao Pela Tua Saúde!, um podcast sobre saúde feito por jovens a pensar em jovens. Em estúdio, montamos uma espécie de consultório informal, medicamente assistido, para dissipar dúvidas, discutir dados e curiosidades e explicar o que muitas vezes parece complicado, mas não é.
Luísa Vilarinho (LV): Tudo numa linguagem acessível e sem tabus. Eu sou a Luísa Vilarinho.
CC: E eu sou a Cláudia Campilho.
LV: Esta primeira temporada é dedicada à sexualidade e hoje vamos perceber o que é a sexualidade e que influência tem na vida dos jovens. Para nos ajudar temos connosco o doutor Vítor Covelo, terapeuta, sexólogo e médico psiquiatra. Muito obrigada doutor por ter aceitado o convite.
Vítor Covelo (VC): De nada, é um gosto estar aqui.
CC: Doutor, sabendo que a priori a sexualidade não se resume apenas à relação sexual, o que mais se inclui neste conceito?
VC: Bem, é um conceito complexo, no qual se incluem muitos tópicos e também pode ser visto de várias perspetivas. Ou seja, podemos olhar para a sexualidade do ponto de vista mais biológico, do ponto de vista mais psicológico, mais social.
Se nós olharmos do ponto de vista psicológico e, se calhar, evolucionista, se recuarmos assim uns milhões de anos para trás, temos a sexualidade a surgir em outros organismos, mais ligada à reprodução, ou seja, isto em termos de seleção natural, de características que foram desenvolvendo em organismos mais simples para favorecer a reprodução e a sobrevivência. E depois, com o passar do tempo e ao longo do processo evolutivo, surgem espécies que depois enquadram esta parte em outras dimensões mais complexas do indivíduo. Se olharmos para alguns primatas, por exemplo, os bonobos que são chimpanzés anões, eles usam a sexualidade… têm uma sociedade assim mais matriarcal em que usam as relações sexuais como quase moeda de troca ou para estreitar relações. Têm relações, por exemplo, entre os elementos do sexo feminino, principalmente sexo oral, que são coisas já com uma dimensão muito mais complexa.
Quando falamos de sexualidade, vocês perguntam sobre sexualidade, estão a perguntar sobre a sexualidade humana e é um bocado para chegar aqui, ou seja, a sexualidade humana realmente já tem muito mais complexidade, porque nós também temos essa própria complexidade e há a parte realmente do sexo, de ter relações sexuais, e há a parte ligada também, ou seja, à parte reprodutiva, também há a parte do prazer, do bem-estar e depois também há outras dimensões que estão também dentro do conceito de sexualidade como a questão da identidade do género a questão da orientação, ou seja, das preferências sexuais e outras questões também ligadas ao erotismo, ou seja, é tudo uma área muito complexa, digamos.
LV: Muito abrangente.
VC: Sim, muito abrangente.
CC: Neste sentido, de estar-se cada vez a educar mais os jovens, como é que acha que efetivamente se podem educar os jovens para uma sexualidade saudável? Ou como é que se deve educar os jovens?
VC: Não é propriamente a minha área de especialização, a educação sexual. Eu trabalho mais, em consulta, vejo as pessoas que têm problemas, que me procuram por problemas e é mais por aí que eu vejo. Mas sim, do que eu sei, a parte da educação sexual mais precoce acho que é o que, em termos da sociedade, pode mudar mais, ou seja, estes tópicos serem introduzidos desde cedo e gradualmente se não é feito em casa, tanto pode ser feito na escola, porque se educa para tantas coisas importantes, a sexualidade, acho que está implícito, de facto, é algo central no ser humano, como é em outras espécies. Na nossa, atinge uma complexidade muito grande mas é uma peça muito central em nós e acho que faz todo sentido que se aposte nisso.
JPN: E quais é que são os aspetos que mais levam os jovens a procurar ajuda médica dentro deste tema da sexualidade?
VC: Ou seja, no contexto de consulta o que é que eu vejo mais? Os grandes grupos de problemas, ou seja, o que é mais prevalente e que eu sei que é mais prevalente no contexto dos jovens, que nem sempre procuram ajuda e isso é outro problema, são as disfunções sexuais. Que eu já posso falar um bocado melhor sobre isso. Depois, outro grupo que eu vejo também e que é muita procura, tem a ver com questões da diversidade de género. E depois há, diria, outro grupo maior, que tem a ver com comportamentos sexuais que podemos dizer que são mais problemáticos, no sentido de, tanto de violência sexual, de pessoas que têm comportamentos compulsivos em termos de comportamento sexual, ou de preferências sexuais que depois são problemáticas, de certa forma, como as perturbações parafílíacas, que depois é outro grupo. Mas eu diria que o mais prevalente, que é mais prevalente na sociedade e que depois também há mais procura, são as disfunções sexuais.
JPN: Então, não acha que a procura de ajuda está relacionada, às vezes, com a falta de conhecimento sobre o tema?
VC: É raro as pessoas procurarem a consulta para pedir informação só, não é? Acho que vão quando têm já um problema. O acesso à informação, atualmente, é tão democratizado, há tantas vias de procurar informação, pode nem sempre ser o melhor, não é? O que eu vejo é, às vezes, em consulta, percebe-se que a pessoa não tem a informação mais correta. Mas realmente, se calhar, o mais prevalente, ou o que é mais procurado são as disfunções, ou seja, e o que é isto?
Se nós olharmos para um ponto de vista até mais biológico das fases de resposta sexual, ou seja, há vários modelos, mas se calhar de forma mais simples, temos o desejo sexual, que é esta parte relacionada com a pessoa ter pensamentos de cariz sexual, ter vontade, ter relações, esta fase que tem por trás toda uma parte fisiológica e psicológica relevante; depois temos a parte mais da excitação, digamos, que tem a ver também com sensações mas na prática, por exemplo a ereção ou a lubrificação na mulher e depois a parte do orgasmo, que é uma das fases também. E, entretanto, havendo num desses pontos, algum tipo de problema, ou seja, se a pessoa tem pouco desejo ou se depois tem uma disfunção erétil ou se tem uma ejaculação precoce, por exemplo, depois vamos catalogando com o centro de cada fase que está prejudicada, não é? E aí há muitos problemas.
Sendo que, para qualquer um destes problemas, pode haver sempre várias causas e normalmente, da mesma forma que eu estava a falar há bocado que a sexualidade é quase que um tema multidisciplinar, aqui é igual. Quando se olha para um problema destes tem que sempre olhar para os fatores biológicos, para os fatores sociais, para os psicológicos que estão envolvidos neste problema. E nesse sentido, quando falamos de jovens, habitualmente, este tipo de disfunções tem mais a ver com problemas, causas mais psicogénicas digamos, que têm a ver com fatores psicológicos, do que tanto os físicos ou biológicos que depois se veem nas pessoas mais idosas.
JPN: Doutor, a sexualidade é um conceito que não é uniforme para todas as pessoas, já que também tem muita influência cultural e social. De que forma é que estes contextos sociais e culturais influenciam a sexualidade? Se calhar se nos der exemplos práticos, pode ser mais fácil.
VC: É óbvio que a questão cultural e social sempre influenciou a sexualidade. Os grupos, seja a sociedade, acaba por impor certas regras que são acordadas sobre o comportamento sexual. Como é que as pessoas se expressam sexualmente, como é que elas devem ter relações, etc. Se olharmos, por exemplo, para a religião, que é usada também como um veículo de forma de controle também social, podemos ver que há quase sempre regras associadas à sexualidade, não é? Como a monogamia, ou com uma pessoa só poder ter relações para procriar, ou como é que, por exemplo, a mulher se pode expor fisicamente. Tudo isso tem impacto na sexualidade, não é?
E todas as culturas, têm visões diferentes sobre isto. É mais fácil, claro, perceber isso quando vemos pessoas de culturas diferentes, não é? E vivemos numa sociedade multicultural e às vezes acontece. Quando vejo pessoas, por exemplo, em consulta de culturas diferentes, com outras ideias diferentes, há preconceitos diferentes sobre a sexualidade que às vezes têm algum impacto também, podem ter, sim.
JPN: Estamos aqui a falar da influência que a sociedade e que a cultura têm na sexualidade de cada pessoa e neste caso dos jovens e acho que é inevitável falarmos das redes sociais, a questão dos mundos virtuais, como é que eles podem influenciar a nossa sexualidade?
VC: De várias formas, porque as redes sociais acabam por ter tanta informação e é tanta coisa possível que se pode fazer e que se pode veicular em termos de informação nas redes sociais, que depois também pode interferir na sexualidade de muita forma.
Estou-me a lembrar à partida, assim, uma primeira que me lembro é, por exemplo, as pessoas poderem-se colocar em risco no sentido de serem exploradas do ponto de vista sexual.Eu acabo por acompanhar algumas pessoas que têm algum comportamento de violência sexual, por exemplo, e que usam as redes sociais, através de perfis falsos, por exemplo, para entrar em contato com pessoas mais novas, fazendo-se passar por outras pessoas.
Isso é uma forma em que as redes sociais podem colocar a pessoa em risco, do ponto de vista sexual, digamos. Depois, há tantas outras. Ou seja, a questão da exposição que há da imagem corporal, por exemplo, de objetificar os corpos e das pessoas procurarem a aprovação e disso levar, se calhar, exponenciando, indo a um extremo, de como é que a pessoa se mostra e a pressão que pode haver para isso também. Isso altera a forma da pessoa ver a sexualidade, não é?
Depois também as pessoas nas redes sociais partilham o que querem e fazem uma seleção digamos muito artificial do que querem mostrar ao mundo e muitas vezes também isso pode criar uma visão muito enviesada do que é a vivência da sexualidade por parte de outras pessoas, no sentido de que tanto a sexualidade como, sei lá, como a vida em casal, como a vida romântica, ou seja, as pessoas podem mostrar uma versão idílica do que é tanto a vida romântica como a vida sexual que têm e as pessoas que vêm podem pensar ‘ah, mas a minha vida não é assim! Estou mesmo mal’. Essas comparações podem surgir e isso pode ter um impacto muito negativo na autoimagem do ponto de vista sexual ou do ponto de vista das relações amorosas também. São alguns domínios onde pode interferir, mas são imensos.
JPN: Se calhar, indo um bocadinho por aí, pelo objetificar o corpo, pelo haver cada vez mais partilhas, estamos num mundo onde praticamente se perdeu o conceito de privacidade. Que influência é que mais uma vez isso pode ter na sexualidade dos jovens?
VC: É óbvio que tem influência. Agora, é a tecnologia, de certa forma, também estar a forçar um bocado depois uma mudança cultural através das pessoas, a questão como se olha para o corpo e como se expõe é algo que vai entrando também na cultura. Como é que isso se traduz na prática na sexualidade? Obviamente, tem a ver, principalmente, com as questões de autoimagem, acho eu, e isso pode provocar em termos de insegurança, por exemplo, mais na questão das comparações, não é? Ou seja, se a pessoa idealiza a imagem, uma imagem corporal e idealiza isso estando associada à parte sexual, acho que isso pode condicionar. Principalmente, nas questões de insegurança, sim.
JPN: É sabido que tem aumentado efetivamente o número de jovens presos por crimes de abuso sexual, sendo que a grande maioria são rapazes. O que é que justifica isto? São traumas?
VC: Não. Então, é possível que haja um maior escrutínio, uma maior atenção a este tipo de crime. Isso é um fator que provavelmente será bastante relevante, que antes isso não era tido em conta. Acho que isso é muito relevante.
JPN: Agora, se calhar, as pessoas também estão mais abertas a fazer queixa.
VC: Sim, mais abertas a fazer queixa e também, se calhar, há uma maior monitorização disso. Penso que sim. Como estava a dizer há bocado, há crimes que têm a ver mesmo com o acesso à tecnologia. Sei lá, há um tipo de crime em particular que só é possível com tecnologia, por exemplo, que é a pornografia infantil. A tecnologia de certa forma pode favorecer alguns destes comportamentos que são problemáticos.
JPN: Mas já se calhar estes crimes já se cometem desde sempre, não é só agora, porque veio a tecnologia. O que é que acha que justifica mesmo esse ato pelas pessoas da violência? O facto de, se calhar, haver mais homens a praticar esse crime sobre as mulheres está também associada a ideias da sociedade? Àquela ideia de macho em como o homem é mais forte do que a mulher, por exemplo?
VC: Isso não é recente, não é? Não é todo recente, ou seja, o que mudou recentemente, e está a mudar, é a perspetiva que a sociedade tem sobre isso, de ver como algo negativo esse tipo de atitude ou de comportamento. O que é que está por trás disso? É altamente complexo e a questão da violência sexual é um tema em que temos que remontar à neurobiologia e também às perspetivas mais evolucionárias para perceber isso. Ou seja, pode parecer altamente polémico, se calhar, dizer isto, mas, de certa forma, dentro do que é a seleção natural, os comportamentos de violência sexual, digamos que, podem ter sido, de certa forma, favorecidos. Até certo ponto. No sentido em que, por exemplo, acha-se que em termos de evolução das espécies, pelo menos dos primatas, o usar a força para ter relações sexuais existiu na espécie também. E quando falamos de passagem de genes e de procriação, isso foi usado para procriar, ou seja, isso já estava envolvido. Agora claro que nós não somos só isso, mas a possibilidade de existir violência sexual, sim.
Tem-se estudado, por exemplo, não sei se conhecem o Genghis Khan, que foi assim o grande imperador da Mongólia, supostamente foi [líder de] um dos maiores impérios que existiram. Acha-se que o Y, em termos de cromossomas, que há um Y que está muito repetido em termos de análise genética no mundo, e acha-se que o Y que está mais repetido em termos de proveniência, é na Ásia e que provém do Genghis Khan, ou dessa família. E nós sabemos que o Genghis Khan que terá tido relações sexuais com se calhar milhares de mulheres e grande parte delas terá sido à força, provavelmente. Ou seja, eles saqueavam, conquistavam, etc. Este comportamento de violência sexual foi, se calhar, se olharmos numa escala assim mais a longo prazo, pode ter sido de certa forma selecionado. Isso é um dado que tem que ser analisado no contexto de algo muito mais complexo que é o comportamento humano, não é? Nem desculpabiliza de todo o que possa ser feito em termos de violência sexual. Só estou a dizer isto porque é muito complexo analisar essa temática.
JPN: E quais são as consequências da violência para as mulheres ou para quem é violentado na sexualidade?
VC: As consequências são habitualmente graves, tanto com quadros reativos, de perturbação de stresse pós-traumático, como quadros depressivos, com quadros psiquiátricos consequentes, como depois também disfunções sexuais. Ou seja, uma pessoa que foi violentada sexualmente tem um maior risco de ter algum tipo de problema sexual depois também, do ponto de vista de uma disfunção, uma provação de dor, um vaginismo, uma coisa deste tipo. Ou seja, o impacto em termos de sociedade é, habitualmente, muito grande.
JPN: Outro tópico em que os jovens demonstraram interesse foi na questão dos fetiches, ou da parafilia, num termo mais técnico. Antes de mais perceber o que é que são os fetiches em termos médicos, mas também em termos sociais, porque para mim pode ser um fetiche, se calhar para a Cláudia pode não ser ou porque temos religiões diferentes ou porque vivemos em contextos diferentes. O que é que são fetiches?
VC: Então, esse conceito tem evoluído um bocado ao longo do tempo, porque a certa altura, quando se começou a falar disto no âmbito mais científico, os interesses sexuais que estavam fora do que é o coito, as relações sexuais por coito, quase que eram catalogadas como algo desviante, não é? E um problema. Atualmente, a perspetiva que tem sobre isso é um bocado diferente. Ou seja, nós só classificamos como uma perturbação, eventualmente, parafíliaca, quando um interesse muito específico, fora do que é mais convencional, é problemático para a pessoa, porque causa sofrimento a ela ou causa sofrimento a outro, ou então quando envolve pessoas ou seres que não têm capacidade de dar consentimento sobre ter relações sexuais, como por exemplo na perturbação de pedofilia, quando a pessoa tem um interesse específico por menores que não podem dar consentimento. Não é a questão da violência física ou o que seja, mas o não conseguir dar consentimento. Ou seja, há muitos interesses específicos sexuais que são inofensivos, não é? E particulares, que as pessoas têm.
JPN: Então há fetiches que não são um problema?
VC: Claro, claro que sim. O outro dia estava com um paciente que não tinha nada a ver, era uma questão sexual, era um problema sexual que ele tinha, e ele tinha um interesse específico por collants. E era algo que pedia sempre às parceiras para usar: collants. Mas aquilo não tinha problema absolutamente nenhum. Depois, há outros interesses específicos que colocam pessoas em risco. Por exemplo, as pessoas que têm interesse por exibicionismo, que gostam de se exibir fisicamente. Claro que depois vão prejudicar as pessoas que os veem. Vai ter consequências, por exemplo, e são as perturbações parafilíacas depois mais comuns. Mas há uma panóplia possível de interesses específicos sexuais que são completamente inofensivos, desde que a pessoa consiga integrar isso de forma harmoniosa na sua vida sexual e das pessoas com quem se relaciona.
JPN: Um outro assunto que queremos abordar é também a sexualidade de pessoas com deficiência. E estamos a falar de casos muito variados. Como uma colega nossa dizia, às vezes, as pessoas acham que “quem tem deficiência não tem desejo sexual”, por exemplo. Quais são os principais equívocos sobre o assunto por parte da sociedade?
VC: Para começar, há uma tendência da sociedade de não ver as pessoas que têm algum tipo de diversidade funcional, há uma tendência para não vê-las como seres mais sexuais. Da mesma forma que também não se olha para as pessoas mais idosas como pessoas que têm essa componente da sexualidade e têm também, não é? Há esse lado.
Depois, também está dentro da questão a série de dificuldades que estas pessoas têm, não é? Têm na sexualidade, têm nos acessos a outras coisas. A sexualidade é mais uma delas. Acontece é que a sexualidade é algo extremamente central na pessoa, como são outras funções, como ter acesso a um edifício ou outra coisa. São coisas muito importantes. Lá está. Muitas vezes são negligenciadas, não é? Mas, pronto, há vários tipos, digamos, de deficiências ou dificuldades. Tanto que seja, é diferente se for uma coisa mais física ou se for uma coisa mais mental, no sentido cognitivo, e então são quadros diferentes agora. É um tópico interessante porque também há pouco apoio em Portugal para essas pessoas.
JPN: Pois, era isso, que nós queríamos questionar também: se acha que a resposta ao nível médico nacional é suficiente? Ou, por outro lado, o conhecimento que se dá a essas pessoas sobre a sexualidade ou mesmo às famílias que são se calhar o apoio mais direto que essas pessoas com deficiência têm?
VC: Sim, eu acho que do ponto de vista médico para começar, e apesar de trabalhar consulta de sexologia, é muito raro pessoas que me aparecem com essas dificuldades. Aparece mais no sentido de pessoas que têm alguma incapacidade, digamos, mais cognitiva, que têm dificuldade em controle do impulso sexual e é difícil gerir o comportamento sexual delas. Mas não pessoas que, por coisas que são muito diferentes, com incapacidades mais do ponto de vista mais físico, isso não sou tão procurado. Lá está, como digo, não há grande apoio. Há algumas figuras que em alguns países existem como assistentes sexuais, por exemplo, que são utilizadas para facilitar. Por exemplo, imaginemos um casal que tem alguma deformidade física ou algum problema físico que não permite que eles tenham relações sexuais sozinhos, porque isso não é possível. Há pessoas que são facilitadoras que os ajudam a ter relações sexuais, por exemplo.
Ou pessoas que, por limitação física, não conseguem masturbar-se, ou por limitações físicas, é muito difícil encontrarem alguém com quem possam ter relações sexuais, há grandes limitações nessa área e há muito pouco apoio. Há um movimento, não sei se conhecem e se quiserem ler mais sobre isso há um movimento em Portugal que se chama “Sim, Nós Fodemos” que é um movimento que tem a ver com isto e que, pronto, acho que estes principais tópicos, se quiserem também podem ler mais. Mas sim, é porque é algo que é de facto necessário.
JPN: De que forma é que se poderia informar mais a sociedade acerca deste tema na sexualidade em pessoas com deficiência? Como é que se poderia combater estas falhas?
VC: Combater eu acho que em termos mais de legislação provavelmente aprovar, por exemplo, uma profissão como a questão do assistente sexual seria uma coisa muito importante, não é? Por exemplo, quando falamos de prostituição, são coisas diferentes, mas há pessoas que, nestas condições, têm que recorrer à prostituição porque não conseguem. E a própria prostituição não é algo legal, nem está regulado, não é? Que é algo que também é um problema de saúde pública, de certa forma também, não é?
JPN: Doutor, para terminarmos, temos aqui duas perguntinhas de resposta rápida, deixadas pelos nossos ouvintes. Iniciar a prática sexual aos 14, 15 anos, é adequado ou saudável? É cedo, é tarde?
VC: Bem, depende do que é que se entende por prática sexual, se calhar também, mas haver alguma exploração nessa altura não há assim uma resposta digamos 100% correta, mas a pessoa conhecer-se e ter informação sobre isso e fazê-lo acho que faz sentido mas é muito cedo, é muito tarde isso depende, claro que sim o importante é a pessoa ter informação e conseguir explorar a sua sexualidade com segurança, de certa forma ou seja, essa idade, quando falamos de experiências sexuais podemos estar a falar da pessoa da masturbação etc, ou seja, é uma idade muito típica que as pessoas já conhecem de certa forma, têm informação sexual e se masturbam, por exemplo agora, muitas vezes a informação vem de sítios que se calhar não são os melhores por exemplo, é comum haver, antes da pessoa por exemplo, ter relações sexuais com alguém na sua vida já ter muitos anos a consumir por exemplo, pornografia que é algo que condiciona muito o repertório sexual da pessoa ou a ideia que ela tem do que ter relações sexuais, por exemplo isso pode ser problemático.
JPN: E para terminar a segunda pergunta e porque também já estamos muito apertadinhos de tempo perguntar se acha que se acha que a autoestima e o valor pessoal está ligado com a questão das relações sexuais, do género eu tenho uma vida sexual mais ativa tenho uma autoestima mais elevada ou o que é que achas sobre isso?
VC: Eu acho que o que eu vejo mais e que me faz sentido é que quando as pessoas têm algum problema do ponto de vista sexual isso tem um impacto muito grande em termos de autoestima. Alguém que tem uma disfunção, quer seja uma perturbação de dor ou disfunção erétil, por exemplo, e que pensa que nunca vai conseguir ter relações sexuais e estar bem nesse campo e que isso vai condicionar o envolver-se com alguém, começar uma relação, porque vai ter que revelar esse problema ou esse problema vai ser um impasse para a pessoa, isso tem um impacto grande na autoestima. Uma pessoa olha para ela própria e para o futuro dela e isso tem um impacto muito grande do ponto de vista psicológico, porque são coisas que depois estão sempre presentes, por ser uma área tão central na vida. A pessoa vai pensar muito sobre isso, vai sofrer muito, vai criar muitos evitamentos na vida dela por causa desse problema, por exemplo.
JPN: Muito obrigada doutor Vítor Covelo fica por aqui este episódio do Pelo Tua Saúde, o podcast de JPN sobre saúde feito de jovens para jovens. Regressamos em breve com mais um tema ligado à sexualidade, fiquem atentos até à próxima!
Ficha técnica
Pela Tua Saúde!
#1 Sexualidade
Entrevista
Cláudia Campilho
Luísa Vilarinho
Convidado
Vítor Covelo
Operação da Câmara
Maria Miguel Marques
Tiago Lima
Edição vídeo/som
Cláudia Campilho
Vox Pop
Luísa Vilarinho
Tiago Lima
Identidade sonora
Joana Damas Martins
Identidade visual
Maria Miguel Marques
Ideia e coordenação
Paulo Frias da Costa
Edição geral
Filipa Silva
Beatriz Tavares
Consultoria médica
Daniela Duarte Silva
Joana Queiroz Machado